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Atacante sai do Santos após ameaças e se adapta a Israel: 'Não tenho medo'

do UOL

Do UOL, em Santos (SP)

20/10/2024 05h30

Weslley Patati se tornou jogador do Maccabi Tel Aviv, de Israel, e convive com as sirenes anti-bomba em meio ao conflito com a Palestina. Mesmo assim, a rotina não é pior que os últimos meses na pacata cidade de Santos.

Patati passou por um susto ou outro em Israel, mas tem o apoio do torcedor. No Santos, o garoto de 21 anos lidou com ameaças de morte no clube onde foi revelado e aprendeu a amar.

Tudo começou com o rebaixamento do Peixe no fim do ano passado. As primeiras mensagens ameaçadoras foram recebidas e incluíam até o endereço de onde o atleta costumava ficar.

A situação piorou após uma publicação no Instagram. O meia-atacante comentou sobre as seis horas de viagem de ônibus de Londrina para Catanduva em junho no "melhores amigos" da rede social, mas o post vazou: "6 horinha [sic] de ônibus agora. Pqp", foi a legenda.

O Santos multou o Menino da Vila em 10% do salário, mas o pior foi a cobrança da torcida organizada, que foi até o CT cobrar o garoto. Companheiros experientes como Gil e Giuliano tiveram que intervir.

O pqp é gíria, não foi uma reclamação direta, mas entendi meu erro. Entendi que não posso confiar nas pessoas. A reação foi muito exagerada, passou na Choquei (...). Fiquei um mês sem sair de casa. Um mês. Da minha casa para o CT. Sei que o que fiz não foi legal, mas não é para tanto. Converso com o Giuliano, o Gil, eles me abraçaram naquele momento, me blindaram, disseram que sou jovem e tenho muito a aprender. Acho que no dia lá que a torcida organizada foi, se eles não tivessem entrado na frente, não sei nem o que poderia ter acontecido Weslley Patati, em entrevista ao UOL

Weslley Patati, no bunker em Israel - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Weslley Patati, no bunker em Israel
Imagem: Arquivo Pessoal

A rotina em Israel

Sem clima no Santos, Weslley Patati aceitou jogar em Israel mesmo diante do conflito com a Palestina. O empresário Maurice Cohen tem familiares que moram em Tel Aviv e tranquilizaram o jovem atleta.

Patati chegou ao Maccabi Tel Aviv já com carro e apartamentos dados pelo clube, além de uma expectativa gigante da torcida que já havia inundado as redes sociais com mensagens.

O ônus desse movimento de carreira é lidar com o risco de bombas. Os sustos de correr para abrigos nas primeiras semanas no novo país ficaram para trás.

A primeira sirene ocorreu em um treinamento, e aí todos os jogadores foram o bunker e esperaram pacientemente, com sorriso no rosto. Ali, ele entendeu que também poderia ficar tranquilo. "A gente ouve e tem um minuto e meio para se abrigar. Tem bunker no CT, no meu apartamento e nas ruas. Depois que passa a sirene, que toca na cidade toda e bem alta, é vida normal. Não tenho medo. Não precisa ter medo", explica Patati.

Por exemplo, aqui tem uma área de proteção. Quando eles lançam um míssil, não deixa chegar na cidade. Explode e explode no ar. Só que tem algumas partes, tipo assim, pô, estourou o míssil no ar, aí vai cair os pedaços, sabe? E são pedaços de ferro grandes. Dependendo faz um barulho, mas nada de mais

O maior perrengue rolou enquanto Patati e as amigas parentes do seu empresário estavam ouvindo Bruno Mars com vidro fechado e no último volume dentro do carro.

Estávamos cantando, nos divertindo, brincando, e a sirene tocando. Quando a gente parou, uma das meninas olhou e falou: 'Weslley, abaixa o vidro aí'. Ela viu o povo correndo e falou sobre a sirene. Foi aquele corre-corre para o abrigo. Aí eu me desesperei, falei que tinha que subir o vidro do carro, pegar o celular, pegar a chave do carro. Aí eu deixei o carro ligado e nós saímos correndo para o abrigo. Agora eu aprendi e já deixo na metade ali o vidro um pouco aberto, que aí eu consigo escutar os dois bem

Outra situação inusitada foi entender uma diferença clara entre as praias de Santos e as praias de Tel Aviv. Lá, os homens usam cueca: "Aqui é normal, mas em Santos isso não é normal não, capaz de você ser preso até. Mas em questão de altinha, aqui todo mundo gosta muito de jogar altinha, futebol, né? A única coisa que eu fiquei meio surpreso foi essa questão de usar cueca aqui. Eu não me acostumo com isso, não [risos]".

Veja outros assuntos da entrevista com Weslley Patati

E o idioma?

"Não falo hebraico, mas estou estudando inglês e no clube tem um fisioterapeuta que fala português muito bem. Ele morou dois anos no Guarujá onde teve uma namorada. A família do meu empresário também me ajuda demais. O irmão do meu empresário ficou um tempo dormindo lá no meu apartamento me ajudando indo, no mercado comigo, comprando as coisas comigo, e a família dele também. Todos me acolheram muito bem. Tanto que eu estou aqui na casa dela agora [durante a entrevista]".

Sobre a alimentação

"Eu estou conseguindo me alimentar muito bem. A comida aqui é muito boa, é muito, muito parecida com a do Brasil, é um pouco mais apimentada só, mas não é todo lugar que é muito apimentada. No clube, a comida é muito, muito boa, é piada. E aí eu posso almoçar no clube e posso fazer uma marmita para levar para casa à noite, para jantar. E aí quando eu vou treinar de manhã eu tomo café no clube, aí após o treino eu almoço, quando eu quero eu levo uma marmita para casa e aí eu janto. E aí de frente para a minha casa tem um mercadinho que aí eu compro as coisas, pão, queijo, presunto, as coisas para comer fruta, enfim, para quando você quiser comer alguma coisa à tarde ou depois que janta, antes de dormir, você ter ali alguma coisa para comer".

Como é o nível técnico em Israel?

"Aqui tem vários jogadores muito, muito bons. Na Liga Israelense, os outros times são um pouco abaixo do nosso, mas isso é uma coisa normal, até por causa da estrutura do clube, que é um clube maior, então tem um pouco sim de diferença de nível técnico. E físico também. Aqui todos me apoiam muito, principalmente o treinador, em questão de jogar livre, jogar solto Ele sabe que para mim está sendo um pouco difícil a adaptação por conta da linguagem. Às vezes não entender uma coisinha ou outra ali na hora do jogo por causa do barulho. Mas em questão do futebol, eles me deixam bem à vontade. Todos os jogadores me incentivam muito a jogar livre, a jogar com alegria, porque eles sabem que eu sou brasileiro e brasileiro gosta de driblar, gosta de ir para cima. Então, eles querem que eu seja feliz dentro de campo, que eu traga essa alegria do Brasil para o clube de Israel".

Como é a torcida?

"Recebi muitas mensagens, muitas mesmo, desde o início das negociações. Minha caixa de mensagens só tinha coração amarelo e azul. Falavam que iam ter paciência comigo, que lá eles iam me abraçar, iam me acolher, iam me proteger, todo mundo falando que aqui eu ia ser rei, que eles iriam ficar muito felizes com a minha vinda para cá. Então, quando realmente saiu a notícia que estava tudo certo, que eu viria, eu vim de consciência 100% tranquila, porque eu sabia que aqui todos iriam me tratar muito bem, iriam ter paciência comigo na questão de adaptação, em questão de tudo. Eu fiquei muito feliz de verdade".

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