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C. América divide vizinhos do Morumbi. Vendedores citam perda de R$ 15 mil

Banheiro pode ser alugado em casa próxima ao Morumbi - José Eduardo Martins/UOL
Banheiro pode ser alugado em casa próxima ao Morumbi Imagem: José Eduardo Martins/UOL
do UOL

Diego Salgado, José Edgar de Matos e José Eduardo Martins

Do UOL, em São Paulo

20/06/2019 04h00

O "padrão Conmebol" de organização, em algumas questões semelhantes ao adotado pela Fifa durante o Mundial de 2014, dividiu opiniões entre as pessoas que frequentam a região que cerca o Morumbi. O bloqueio imposto, que limita o acesso às proximidades do estádio a credenciados, moradores com documentação em mãos e torcedores com ingresso, prejudicou os negócios de alguns e beneficiou outros em dias de partidas da Copa América. Ontem, em campo, a Colômbia venceu o Qatar por 1 a 0.

Era comum o cenário de locais fechados, como estacionamentos, lojas e escolas. O colégio Porto Seguro, por exemplo, teve de mudar a sua grade de programação e liberar todos às 16h, ontem, por causa da partida entre Colômbia e Qatar. Uma empresa de inspeção veicular localizada na Avenida Jules Rimet fechou às 14h30 em virtude do bloqueio, iniciado quatro horas antes de a bola rolar no confronto, válido pela segunda rodada da competição.

Escola - José Eduardo Martins/UOL - José Eduardo Martins/UOL
Escola fechada antes do jogo entre Colômbia e Qatar
Imagem: José Eduardo Martins/UOL

Teve quem manteve o comércio aberto e reclamou do prejuízo. Ricardo de Araújo, 40 anos, calcula uma perda alta para o seu estacionamento, localizado na frente do portão 4 do estádio são-paulino. Ao UOL Esporte, admitiu que os três dias de partidas no Morumbi terão consequências duras para fechar o mês.

"Contando os três dias de jogo, uns R$ 15 mil [de prejuízo]. Contando os jogos do Brasil, do Chile e hoje [ontem]. Avisaram a gente [sobre o bloqueio] só três dias antes, foi muito em cima da hora. Não teve nada. Não deu para a gente correr atrás de nada, então vamos ficar no prejuízo. Não vamos correr atrás disso aí não, é muita dor de cabeça", afirmou Ricardo.

estacionamento - José Edgar de Matos/UOL Esporte - José Edgar de Matos/UOL Esporte
Ricardo de Araújo na porta do estacionamento
Imagem: José Edgar de Matos/UOL Esporte

"Este bloqueio influenciou bastante. Estacionamento está vazio, e aqui estamos acostumados com lotação máxima. A gente tem que pagar aluguel, funcionário e contador, então isso atrapalhou muito a nossa vida aqui", acrescentou.

Dono de outro estacionamento na mesma rua, mas próximo ao portão 3, Albino Aguiar, 66 anos, se revoltou com a própria política de bloqueio. As ruas ao redor do Morumbi são fechadas em um raio que se aproxima de dois quilômetros, muito acima do encontrado até nos jogos mais decisivos do São Paulo no local.

"Esta Copa América foi a pior coisa que poderia existir. Bloqueiam a ruas quatro antes do jogo. Ninguém consegue chegar aqui. Está vazio. Estou com 90% de prejuízo em comparação a uma quarta-feira de Morumbi", calculou Albino, tendo em conta o dia e o horário do jogo entre colombianos e a seleção do Qatar.

"É um absurdo. Só de IPTU pago R$ 1500 por mês. Quem vai me pagar? Quem vai quitar meu prejuízo? Para eles é muito mais fácil simplesmente proibir", concluiu o empresário, que também não descartava a possibilidade de fechar o local até o fim do bloqueio imposto para esta quarta-feira.

Em uma avenida próxima ao estádio, a proprietária de uma panificadora também calcula os prejuízos. "Calculo que 50% do meu faturamento caiu. Se ainda fosse abatido no IPTU. Sem dizer que ainda tem clientes que poderiam vir pela primeira vez. Essa quebra na liberdade de ir e vir é algo que acho que nunca deveria ser podada. Deveriam ter estratégias melhores", disse Carla Barros, que ouviu reclamações de moradores sobre o padrão da Conmebol.

Padaria - José Eduardo Martins/UOL - José Eduardo Martins/UOL
Padaria estava vazia nesta quarta à tarde
Imagem: José Eduardo Martins/UOL

"Com a Copa América ficou ainda pior para a gente, porque não consigo nem chegar perto dos policiais para explicar que sou moradora. É complicado. É bom ter essa barreira em termos de segurança para quem vai ao estádio, mas para nós, que moramos por aqui, fica complicado", opinou Velma Matos Silva, que é psicóloga e mora na região há 35 anos.

Criatividade e bons negócios

Em uma rua próxima ao estádio, um morador criou uma maneira de lucrar com as partidas. Edson Aparecido da Silva cobrava R$ 4 pelo uso do seu banheiro e aproveitou também para comercializar cervejas a R$ 5 e alugar três vagas de garagem por preços que variavam de acordo com o jogo. "Para mim, é bom. Você pode rodar por aqui que não vai encontrar um banheiro. Até a polícia usa o meu banheiro, mas deles eu não cobro. Vou sentir falta da Copa América. Jogo do São Paulo não é tão bom para mim. Só na partida com o Brasil eu ganhei R$ 250 com o aluguel do banheiro", contou Edson.

Fila - Diego Salgado/UOL - Diego Salgado/UOL
Fila com torcedores em lanchonete próxima ao estádio
Imagem: Diego Salgado/UOL

Em um posto de gasolina próximo ao estádio, os torcedores também aproveitam para consumir nas lojas de conveniência e em uma lanchonete. Até mesmo na farmácia o saldo das partidas pode ser positivo. "Muitos torcedores acabam vindo para cá depois do jogo para comprar remédio porque exageraram na torcida", brincou uma atendente.

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