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Crise de opções brasileiras faz clubes buscarem argentinos por 'novo Cano'

Cano, do Fluminense, abriu portas para modelo de atacantes - Thiago Ribeiro/Agif
Cano, do Fluminense, abriu portas para modelo de atacantes Imagem: Thiago Ribeiro/Agif
do UOL

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

26/04/2024 04h00

Argentino, experiente, centroavante: esta trinca de atributos parece enlouquecer o mercado da bola brasileiro. O sucesso de Germán Cano no país e a baixa oferta nacional neste perfil abriram as portas para possíveis sucessores que têm se estabelecido por aqui.

O que aconteceu

O Brasil se notabilizou nos últimos anos por apostar em jogadores argentinos para comando de ataque, sempre com perfil semelhante. Tratam-se de jogadores experientes, mas sem grande destaque no país, especialistas em marcar e que rapidamente se adaptam ao nosso futebol.

Tudo começou com Cano, que empilhou gols pelo Vasco. Foram 24 em 51 partidas em 2020. O sucesso seguiu nos anos seguintes, também pelo Fluminense. Jogando no Brasil, ele soma 131 gols em cinco temporadas.

Sobram exemplos que vieram na esteira de Cano. Hoje temos Vegetti (Vasco), Lucero (Fortaleza), Alario (Inter) e Dinenno (Cruzeiro) reunindo praticamente os mesmos atributos. Mastriani, do Athletico Paranaense, é bem parecido também, porém, uruguaio.

Martín Lucero, 32 anos, chegou ao Brasil em janeiro de 2023 para defender o Fortaleza egresso do Colo-Colo, do Chile. Por lá, o argentino tinha marcado 24 gols em 39 partidas. No currículo, times como Independiente, Vélez, Defensa y Justicia e Tijuana (MEX). Em sua primeira temporada fez os mesmos 24 gols da pelo Chile, e neste ano já emplacou 11 bolas na rede, incluindo dois contra o Boca Juniors na quinta-feira (25).

No mesmo ano desembarcou no Brasil Pablo Vegetti, 35 anos. Goleador do Campeonato Argentino, ele tinha passagem por clubes como Belgrano, Instituto e Colón em seu país. Além de uma pequena trajetória no Chile. Rapidamente ele se firmou no Vasco, fazendo 10 gols no ano passado, e mais oito nesta temporada.

Neste ano foi a vez do Cruzeiro apostar em Juan Ignacio Dinenno, de 29 anos, cuja trajetória aponta para clubes do México e da Colômbia. Ao Internacional chegou o mais conhecido de todos: Lucas Alario, 31 anos, que diferente dos demais gringos fez sucesso no River Plate e foi para o futebol da Alemanha, mas se via afastado dos holofotes havia algum tempo graças a lesões.

O Brasil há algum tempo parou de produzir esses camisas 9 tradicionais. Quando se olha para a seleção, se percebe que são jogadores que transitam no setor ofensivo ou até caem pelas pontas. Já a Argentina, pelo contrário, produz menos jogadores de ponta e muito mais jogadores centralizados. Estes camisas 9 das antigas acabam entregando muito especialmente em times menos acertados do pontos de vista tático. Talvez este seja o motivo para o Brasil buscar tantos centroavantes lá, porque os times não são bem construídos do ponto de vista tático por causa do troca-troca constante de técnicos e precisam de uma garantia dentro da área, alguém que te dê alguns gols e pontos, mesmo que não participe tanto do jogo.

Rafael Reis, colunista do UOL

Endrick: exceção com prazo de validade

A baixa formação de centroavantes no Brasil está estampada nos times da Série A. Há apenas um comandante de ataque brasileiro e jovem, mas com prazo de validade vencendo: Endrick.

Vendido ao Real Madrid, ainda que de características diferentes, o menino palmeirense de 17 anos é esperança de gols, mas só ficará em gramados nacionais até o meio do ano, quando partirá para atuar na Espanha.

Nos outros 19 clubes, ou jogadores de outras nacionalidades ou mais rodados. Pedro, de 26 anos, do Flamengo, é 'camisa 9' e brasileiro, mas longe de ser da 'nova geração'. Yuri Alberto, aos 23 anos, ainda busca afirmação no Corinthians.

Adaptação, custo, chance

Outro ponto importante na chegada desses jogadores é a equação entre oportunidade e custo. O jogador mais experiente enxerga no futebol brasileiro a chance de dar um salto na carreira, enquanto o clube vê nele alguém que resolva seus problemas sem grande investimento.

A adaptação, por sua vez, fica mais fácil pela rodagem que muitos deles têm em ambientes inferiores.

Muitos deles rodaram bastante, não jogaram só na Argentina. Esses jogadores passaram em cada buraco, em cada Liga menor, em cada situação adversa mundo afora, que criaram uma casca. O Brasil se torna um lugar de adaptação bem mais fácil. Além disso, eles entendem que o Brasil é a grande oportunidade da independência financeira, de jogar em alto nível. Muitas vezes esses jogadores pedem para sair de seus times por perceberem isso. A chance do salto econômico torna o negócio bom para todo mundo e o grande lance para eles

Lucho Silveira, comentarista dos canais ESPN.

Fora da curva: Calleri e Flaco

Jonathan Calleri, do São Paulo, e Flaco López, do Palmeiras, são exemplos que fogem à regra. Calleri jogou no Boca Juniors, no Tricolor há algum tempo, rodou pela Europa até voltar. Hoje tem 30 anos, é artilheiro, mas numa condição diferente da maioria.

Já López foi criado no molde argentino pelo Lanús, mas desembarcou no Palmeiras bem mais jovem do que a maioria. Hoje tem 23 anos.

O que eles disseram

Cano é um goleador impressionante, que se destacou muito aqui no Vasco, mas agora está no Fluminense. Vou tentar seguir o seu caminho da melhor maneira e dar muitas alegrias aos torcedores do Vasco.
Vegetti

Estamos em uma das melhores ligas do mundo, e eu vou tratar de me adaptar o quanto antes. É meu principal objetivo, não ter a desculpa da adaptação, podendo competir desde o primeiro jogo.
Dinenno

Ele tem tido uma adaptação rápida. Não é que o futebol seja diferente, são as competições no Brasil, pela quantidade de partidas, viagens, mudar essa mentalidade de jogar um Estadual, Libertadores e depois Brasileirão.
Juan Pablo Vojvoda, técnico do Fortaleza, sobre Lucero

Próximo da fila

O mais cotado para pintar em uma próxima janela de transferências por aqui é Adrián Martínez, do Racing, autor de 16 gols em 18 jogos até agora na temporada. Ele teve uma passagem curta pelo Brasil, no Coritiba, em 2022, mas novamente está em alta pelo faro artilheiro.

Lucas Passerini, do Belgrano, Guido Carrillo e Javier Correa, do Estudiantes, também pintam como alternativas mais baratas e que podem resolver o problema de clubes nacionais.

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