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Estrela do UFC Rio, Pantoja foi garçom e guia em praia de Arraial do Cabo

do UOL

Do UOL, no Rio de Janeiro

04/05/2024 04h00

A camisa de Bruce Lee que Alexandre Pantoja vestiu para a entrevista ao UOL indicava não só a idolatria pelo astro das artes marciais como também a versatilidade e improviso que caracterizam o lutador. "Adotado" pela pequena Arraial do Cabo (RJ), se desenvolveu como homem trabalhando de garçom na praia, como guia turístico em passeios de barco e, principalmente, quando mergulhou de vez no mundo da luta até conquistar o cinturão do UFC, título este que defenderá neste sábado (4), no Rio de Janeiro, contra o australiano Steve Erceg.

Trabalhei em passeio de barco, como garçom nas areias da Praia Grande, pesquei muito peixe. Arraial do Cabo é incrível, uma cidade muito linda. Lembro de uma vez que o peixe encalhou na areia e eu comi aquele peixe fresquinho ali na hora. É uma cidade que tem pessoas muito trabalhadoras e que lutam muito pelo que querem. Gosto muito de representar a cidade.
Alexandre Pantoja, ao UOL

Cria de Copacabana, começou no beach soccer

Alexandre Pantoja defende o cinturão dos pesos-moscas do UFC contra australiano Steve Erceg - Buda Mendes/UFC - Buda Mendes/UFC
Alexandre Pantoja defende o cinturão dos pesos-moscas do UFC contra australiano Steve Erceg
Imagem: Buda Mendes/UFC

Apesar de ter muito orgulho de representar Arraial do Cabo, Pantoja nasceu no Rio. Ele foi criado no bairro de Copacabana, na Zona Sul (RJ), e migrou para a cidade da Região dos Lagos somente aos 12 anos.

Nas areias da famosa praia carioca, iniciou no esporte praticando beach soccer. Ele passou por escolinhas de grandes nomes da modalidade como Júnior Negão, Robertinho e Juninho, campeões mundiais com a seleção brasileira.

A virada de chave para o mundo da luta aconteceu com a mudança para Arraial do Cabo. Por lá, desenvolveu seu jiu-jítsu.

Aqui no Rio fazia jiu-jítsu só com adultos, e quando cheguei lá, comecei a treinar com garotos do meu tamanho, e aí que despontei, porque passava o carro em todo mundo. Isso acendeu aquela luz que eu era um cara diferenciado naquele esporte. Arraial do Cabo jogou a gasolina nesse fogo.
Alexandre Pantoja

Ausência do pai

Pantoja deixou o Rio, aos 12, com seus irmãos e a mãe Esther. A relação com o pai Antônio se tornou distante.

O fato veio à tona quando o lutador desabafou após conquistar o cinturão do UFC, em 2023. Ainda no octógono, o carioca disse ao microfone: "você está orgulhoso de mim agora, pai?".

"Quis enaltecer minha mãe, mas acho que muita gente se identificou com esse fato de ter pais separados. Sabemos o quanto isso afeta a criança. Tenho amigos que se separaram e têm filho, e sinto muito com isso. Sei que ninguém é obrigado a estar com ninguém, mas sinto muito pela criança, que vai crescer nesse desconforto. Minha esposa tem os pais dela juntos até hoje e vejo a diferença que isso fez na vida dela e na dos meus filhos, por terem avô e avó juntos ainda", avaliou, complementando:

Jamais quis jogar alguém contra meu pai, respeito muito ele e o amo muito, mas tenho certeza que ele teve uma falta muito grande comigo. Acredito que a vida dele com minha mãe não diz respeito muito a mim, mas acho que como pai, vejo que ele faltou em muitos aspectos. Procuro jamais errar assim com meus filhos, mas tenho que ser maduro o suficiente para entender que cada pessoa é de uma forma, não posso querer que meu pai seja outra pessoa, ainda mais depois de tantos anos. Tenho que aprender a lidar com quem é meu pai para mim. Não sei se ele vai estar na arena, já faz um bom tempo que a gente não se fala, mas espero que um dia eu tenha maturidade suficiente para chegar e poder resolver essa história.
Alexandre Pantoja

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Torcida de Arraial fecha setor na arena: "Falo que Arraial do Cabo me tornou lutador. Cheguei na cidade e a cidade me abraçou, tive meu primeiro mestre lá e vou ter muito orgulho dele na minha luta hoje, vou trazê-lo no meu corner. Acho que todo mundo de Arraial sempre acreditou que isso poderia acontecer, muitas vezes até mais que eu. Tive muitas lutas onde o pessoal sempre ia, acompanhava de ônibus, de carro, de van, do que dava, é uma conexão muito forte. Sei que eles já fecharam o setor aqui da arena, vai estar a galera toda junta. Minha torcida de Arraial vai estar toda de um lado só e é muito importante pra mim".

Adversário diz que vai socar e não ser atingido: "Essa é a estratégia de todo lutador, bater e não apanhar, mas é muito difícil isso acontecer. É como o Mike Tyson falava: a estratégia acaba quando o soco na cara entra. O Erceg é um cara muito inteligente, já falou coisas que realmente concordo, mas no momento que fechar o octógono é só eu e ele. Acho que todo esse planejamento pode vir por água abaixo porque talvez ele não esteja pronto para o que tenho para ele".

"Momento de receber a coroa do Aldo": Pude treinar com o Aldo no 'prime' dele quando era campeão do UFC, e foi um momento muito bom na minha vida. Não só eu, mas qualquer lutador brasileiro hoje, em atividade, tem um pouco de Aldo. Sempre parávamos para assisti-lo, seja aquele chute na perna, seja a agressividade que ele botava em cima dos seus adversários. Tê-lo no card aumenta ainda mais a responsabilidade de sair vitorioso. Gosto de falar que é o momento de receber a coroa do Aldo, mas espero realmente que o Aldo possa vencer a luta e continue lutando. O Aldo ainda tem muita lenha para queimar, é um cara novo".

Strickland criticou MMA feminino: "Você vê, o cara não é nem mais campeão. Acho que ele pagou pela boca, falou demais e acho que ele teve uma sorte ali de vencer a luta. Dificilmente o vejo como campeão novamente. É como falo: você não pode julgar o trabalho de outra pessoa, como já fui julgado para acabar minha categoria. Quem é que vai botar comida na minha mesa? Quem é que vai sustentar meus filhos? Acho que isso afeta muita gente. Ele, como lutador campeão do UFC, jamais poderia falar uma besteira dessas. Tivemos a Amanda Nunes que, no meu ponto de vista, foi a maior lutadora de todos os tempos, seja homem ou mulher. Então, acho que tem que ter respeito muito grande pela profissão dos outros".

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