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Globo adota atitude dúbia diante de comentários polêmicos em edições do BBB

Tiago Leifert conversa com o público após acusações de racismo dos brothers - Reprodução/TvGlobo
Tiago Leifert conversa com o público após acusações de racismo dos brothers Imagem: Reprodução/TvGlobo
do UOL

Colunista do UOL

15/02/2019 05h01

Três dias depois de a Polícia Civil do Rio informar que a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) abriu inquérito para apurar declarações de cunho racista e de intolerância religiosa ditas por participantes do "BBB19", Tiago Leifert resolveu falar do assunto.

Foi no programa desta quinta-feira (14), um pouco antes da prova do líder. Sem mencionar o conteúdo polêmico nem os autores dos comentários em questão, ele disse: "Alguns comentários feitos dentro da casa ofenderam algumas pessoas". E avisou, sem mencionar a Polícia: "Os vídeos contendo as falas que foram consideradas ofensivas foram enviados às autoridades competentes e estão em avaliação".

Em seguida, Leifert disse: "Dependendo do parecer das autoridades, o programa tomará providências, como sempre fez". Foi esta observação do apresentador que me chamou a atenção. O que ele disse não é exatamente assim.

A Globo tem adotado uma atitude dúbia e, eventualmente, hesitante, em relações a temas polêmicos abordados pelos participantes. Em algumas ocasiões, de fato, esperou que a Polícia, o Ministério Público ou órgãos do governo batessem à porta da emissora para só então tomarem alguma atitude. 

Foi o que ocorreu, por exemplo, em três casos de desclassificação decorrentes de acusações de abuso sexual ou violência contra mulheres. A mais recente, de Vanderson, no próprio "BBB19", aconteceu depois que delegada Tita Salim, titular da Delegacia de Atendimento à Mulher de Jacarepaguá (DEAM), quis ouvi-lo em um inquérito que apura uma denúncia de uma ex-namorada. O médico Marcos Harter deixou o "BBB17" após a visita de uma delegada da mesma DEAM em função do seu comportamento dentro do reality. E o modelo Daniel Echaniz foi afastado do "BBB12", igualmente, "devido a um grave comportamento inadequado" no mesmo dia em que investigadores da Polícia estiveram nos Estúdios Globo para apurar o caso.

Um outro tipo de intervenção ocorreu quando Marcelo Dourado disse, no "BBB10", que "hétero não pega Aids" e que obteve a informação com médicos. Afirmou também: "Um homem transmite (o vírus HIV) para outro homem, mas uma mulher não passa para o homem." O Ministério Público Federal (MPF) entrou com uma ação exigindo que a Globo explicasse como se contrai a doença. Bial não corrigiu "as batatadas" de Dourado e se limitou a recomendar, ao vivo, que o público buscasse informações corretas no site do Ministério da Saúde.

Já no "BBB14", a médica infectologista Rosana Richtmann entrou na casa para dar uma aula sobre o vírus HIV. Dois dias antes, Angela havia dito a Cassio que "o que mais irrita é saber que a Aids existe porque teve um idiota que foi transar com um macaco". Ao ver a médica no "BBB", ela perguntou: "Será que a gente falou besteira?". 

Também houve situações em que a Globo, por iniciativa própria, resolveu esclarecer comentários preconceituosos de participantes, ou comportamentos dúbios, que geraram questionamentos. 

No mesmo "BBB14", Diego disse a Cassio: "Homem com homem é nojento. Se vejo na balada, eu viro as costas e saio". E acrescentou ser contra a adoção de crianças por casais gays: "Isso poderia interferir no psicológico dela, no crescimento dessa criança". Um dia depois, em interação ao vivo, Bial questionou Diego: "O desejo de ter um filho já é uma coisa rara entre casais heterossexuais. O desejo de adoção é algo precioso e muito raro. Você tem duas pessoas que têm esse desejo, essa criança tem grandes chances de ter uma educação cheia de amor, respeito e cuidado".

Da mesma forma, logo no início do "BBB18", Tiago Leifert pediu aos quatro integrantes da família Lima que explicassem ao público por que eram tão carinhosos entre si. Em especial, o apresentador queria que eles falassem do "excesso de intimidade" entre o pai Ayrton e a filha Ana Clara. A "aula" foi uma resposta a protestos de espectadores - e pai e filha nunca mais trocaram tanto carinho durante o programa.

A passividade, até agora, em relação a estes comentários que "ofenderam algumas pessoas" no "BBB19", como sublinhou o apresentador, mostra que a emissora julga não haver nada para esclarecer ou corrigir, diferentemente do que já fez em outras situações.

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