Topo
Entretenimento

'Dolorido como parto, mas frustrado': o que acontece no aborto espontâneo

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto
do UOL

Colaboração para Universa

28/04/2024 04h00

Um aborto espontâneo pode ser doloroso não só pela perda emocional, mas também fisicamente quando se opta pela expulsão natural do embrião.

Pouca gente sabe que é preciso esperar quatro semanas para o corpo reagir, e as dores podem ser fortíssimas.

"Depois de 4 semanas desde que o embrião parou de se desenvolver, comecei a sentir as cólicas. As cólicas fortes, na verdade, eram muito fortes. Muito fortes", contou a jornalista Anita Pompeu, em relato a Universa. "O que ninguém fala claramente é que esse processo é como um parto mesmo, só que frustrado."

"Foram cerca de 20 horas de muita dor. E, depois de mais 20 horas de trégua, mais 3 horas de muita dor novamente, até que senti, finalmente, a expulsão que estava por vir, e que esperava há dias - em forma de um 'sangramento' - sair de mim", completou.

Entenda o aborto espontâneo

O aborto espontâneo é a perda de uma gestação (feto/embrião) em sua fase inicial, ou seja, com até 20 semanas e com peso inferior a 500 g.

Ele pode ser considerado precoce, quando ocorre até 12 semanas de gestação, ou tardio, quando ocorre a partir da 13ª semana.

Alguns sintomas são clássicos da maioria das gestações: enjoo, tontura, mal-estar, sono e alterações no humor. E o sumiço repentino desses sintomas pode ser um sinal de alerta.

O principal sinal é o sangramento, que pode ou não vir acompanhado de dor.

"A cólica também é um sinal, mas é comum que no início da gestação, pelo crescimento do útero, a mulher tenha cólicas", diz Kleber Cassius Rodrigues, ginecologista e obstetra.

Mas, o sangramento vaginal pode ocorrer nos primeiros 3 meses de gestação e não representar abortamento. Se esse for o seu caso, não deixe de ir ao médico, pois a situação varia de acordo com cada mulher.

"Quando você tem a parada de evolução do embrião, essa produção hormonal cai abruptamente. O nível dos hormônios cai e os sintomas caem também. Então, não é incomum que você suspeite do diagnóstico do abortamento pela diminuição dos sintomas que a paciente estava apresentando antes do abortamento acontecer", explica Rodrigues.

Algumas mulheres podem não sentir nada quando ocorre a parada do desenvolvimento e do batimento cardíaco do embrião. Quando não há sinais e sintomas, o aborto é considerado "aborto retido" e o diagnóstico é feito por ultrassom.

Luto não legitimado

Por ser algo delicado, esse tipo de luto pode não ser bem identificado como tal, o que pode trazer dificuldade aos pais neste momento.

"O bebê existe nos sonhos e nos planejamentos de vida. Ao longo da gestação, é comum que ele passe a existir no discurso dos pais, sendo nomeado, por exemplo. Ele já existe no imaginário e no simbólico dos pais", explica Monica Venâncio, psicóloga do Hospital Universitário da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e responsável pelo ambulatório do luto da instituição.

Por essa existência que é necessário e válido que o luto diante da perda desse bebê idealizado possa ser acolhido, reconhecido e que encontre condições de ser elaborado.

De acordo com Gabriela Casellato, doutora em psicologia clínica e fundadora do 4 Estações Instituto de Psicologia, há uma tendência em banalizar a experiência da pessoa, já que aquele ser humano, por exemplo, não existiu, socialmente falando.

Fonte: ginecologistas Kleber Cassius Rodrigues, Flávia Torelli, Alexandre Pupo e Marina Nunes Machado.

Entretenimento