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OPINIÃO

Com poucas estrelas de peso, CCXP vira shopping center de cultura pop

Painel de "Duna: A Profecia" aconteceu na noite do último dia da CCXP 24 - Fernanda Talarico/ UOL
Painel de 'Duna: A Profecia' aconteceu na noite do último dia da CCXP 24 Imagem: Fernanda Talarico/ UOL
do UOL

Thales de Menezes

Colaboração para Splash, em São Paulo

09/12/2024 12h25

A CCXP, aclamada como maior evento de cultura pop do mundo, um título merecido, também pode ser considerada em sua edição 2024 como o maior shopping center de cultura pop do planeta. O que se viu na semana passada, de quarta a domingo, no São Paulo Expo, foi uma celebração de consumo, que sentiu falta de um arsenal maior de atrações interessantes.

Na saída do pavilhão, as pessoas pareciam ter emergido das grandes ruas de comércio popular no centro de São Paulo nesta época de fim de ano. Sacolas enormes incluíam um pouco de brindes, conquistados aqui e ali nos estandes, e, principalmente, muitos produtos do mundo geek. Como potencializadora de vendas, a CCXP 2024 foi um sucesso tremendo.

E isso aconteceu mesmo com os preços salgados de praticamente todos os níveis de consumo dentro da feira, desde bonecos gigantes de personagens que entraram na casa das dezenas de milhares de reais até um copo de mate com leite vendido a quase R$ 40, passando por um bonequinho do Ayrton Senna que esgotou seguidamente nos dias do evento, mesmo custando R$ 199,90.

CCXP - Luiza Missi/UOL - Luiza Missi/UOL
O quadrinista Paulo Moreira dá autógrafos para fãs na CCXP 24
Imagem: Luiza Missi/UOL

No entanto, como todas as outras convenções internacionais que foram iniciadas como encontros de quem faz e gosta de gibis, nos últimos tempos a grande feira brasileira se notabilizou por receber diretores, roteiristas e atores de produções hollywoodianas para o público jovem. Ou não tão jovem assim, mas ligado no mundo de HQ, games e filmes de aventura.

Num passado recente, o evento recebeu nomes que realmente fazem os fãs enlouquecerem, como Keanu Reeves e Timothée Chalamet, ou até veteranos consagradíssimos como Jodie Foster. Desta vez, na busca por uma qualificação adequada, o elenco importado de Hollywood causou um impacto morno.

Numa espécie de termômetro de celebridades, poucas estrelas internacionais, como as bonitas musas de ação Anya Taylor-Joy e Ana de Armas, foram capazes de causar mais furor do que os atores globais que participaram do painel sobre a nova versão da novela "Vale Tudo", que estreia no próximo ano.

Enquanto nomes televisivos também repercutiram razoavelmente em outros painéis, como Sabrina Sato, Deborah Secco e Marina Ruy Barbosa, os convidados internacionais acabaram recebendo uma atenção maior do que seus próprios currículos deveriam atrair.

CCXP - João Cotta/Globo - João Cotta/Globo
Taís Araújo no painel de 'Vale Tudo' na CCXP 24
Imagem: João Cotta/Globo

O ator britânico Matt Smith, por exemplo, tendo no currículo papéis em "Doctor Who", "The Crown" e "A Casa do Dragão", mas sem um protagonismo de grande astro, provocou reações entusiasmadas do público. Seria possível recorrer àquela expressão popular, "é o que temos para hoje".

Claro que alguns nomes são interessantes, como os atores Sandra Oh, James Marsden e Adam Scott, mas nenhum foi capaz de gerar um louca disputa por um lugar nos palcos em que eles participaram de painéis sobre as séries e filmes que virem promover. Essa quase batalha campal marcou tantas e tantas edições da feira.

Ficou evidente que a CCXP sofreu com a ausência de dois titãs do mundo nerd: Netflix e Disney. Ambos optaram por criar seus próprios eventos individuais em São Paulo. A Netflix fez no ano passado o TUDUM, no Parque Ibirapuera, convocando astros quentes como Chris Hemsworth, Gal Gadot e Arnold Schwarzenegger. Um trio desses elevaria muito a temperatura da CCXP.

Já a Disney fez seu evento para fãs há um mês, a D23 Brasil. Embora tenha oferecido menos do que o esperado a quem compareceu, pouca coisa além de tirar fotos em cenários de séries e filmes e ver alguns atores, o evento reuniu as marcas Disney, Star Wars e Marvel, suficientes para abastecer o imaginário dos fãs de cultura pop. Todas fizeram falta na CCXP.

Talvez a ausência desses dois grupos justifique a clara percepção de que o público de 2024 foi mais reduzido do que no ano passado. Mesmo sem checar números oficiais de bilheteria, foi notório que estava muito mais confortável percorrer todo o pavilhão. As ativações de marcas foram intensas, em ações que muitas vezes superaram a curiosidade despertada pelos painéis.

CCXP - Natalia Rampinelli/ Agnews - Natalia Rampinelli/ Agnews
Anya Taylor Joy atende os fãs na CCXP 224
Imagem: Natalia Rampinelli/ Agnews

Uma coisa que pareceu bem significativa foi a redução da disputa por um lugar nos palcos. O Thunder, feito para acomodar painéis mais populares da programação, então um lugar de honra dentro do evento, ficou completamente escondido na distribuição dos estandes na feira. Ficou num canto bem afastado das entradas principais do público. Algumas pessoas podem ter frequentado o evento nesses dias e nem ter chegado perto do Thunder.

Houve um problema maior e inegável em relação à disposição dos palcos. O Omelete, um palco aberto que trazia todas as atrações internacionais depois dos painéis do Thunder, ficou muito próximo, do ladinho mesmo. Em vários painéis no Thunder os participantes reclamaram do barulho intenso que vazava vindo do Omelete. Em alguns momentos, os convidados chegaram a parar de falar enquanto esperavam uma trégua do barulho intruso. Esse é um problema que precisa obrigatoriamente de uma solução para o ano que vem.

Houve pontos positivos, como a imensa equipe espalhada por dentro e por fora do pavilhão para orientar os visitantes. Eram atenciosos, educados e se esforçavam para resolver qualquer questão. Chegavam a conduzir o visitante por uma longa caminhada até o local desejado. Sem dúvida, uma preparação muito boa dessa equipe.

A entrada e a saída foram bem montadas e não tomaram muito tempo das pessoas. Também houve uma forte preocupação com postos de hidratação e a acessibilidade, muito boa para entrar e sair do local e para circular dentro dele. Alguns painéis foram acompanhados por mais de 30 cadeirantes, e havia espaço nos estandes para que eles circulassem.

Houve um problema bem chato dentro de um evento que trata de produções feitas com tecnologia de ponta. No começo da tarde de sábado (7), faltou energia por quase duas horas numa área central do pavilhão. Essa queda de energia certamente prejudicou quem tinha estabelecido apenas algumas horas para a visita. Mas as máquinas de cartão continuaram funcionando, permitindo que o frenesi de compra seguisse mesmo numa quase escuridão.

Agora é esperar e ver o que será desenvolvido para a próxima edição do evento e também a feira de cultura pop oriental Anime Friends, realizada no meio do ano, que passou a fazer parte da família da CCXP.

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