Futuro do cinema está envolto em incertezas, diz Isabelle Huppert, chefe do júri de Veneza
Por Crispian Balmer
VENEZA (Reuters) - O cinema foi enfraquecido nos últimos anos e sua sobrevivência não pode ser considerada garantida, disse a atriz francesa Isabelle Huppert nesta quarta-feira, ao assumir o comando do júri principal do Festival de Cinema de Veneza.
O evento de 11 dias reúne cineastas de todo o mundo, dando-lhes uma oportunidade inestimável de promover trabalhos que, de outra forma, não ganhariam destaque global.
Mas além do glamouroso tapete vermelho do Lido de Veneza, os veteranos do cinema se preocupam com o futuro do setor: as vendas de bilheteria ainda não se recuperaram da pandemia de Covid, levantando questões sobre a viabilidade financeira dos filmes a longo prazo.
"O que preocupa a todos nós é que o cinema continue a viver o máximo possível. Sabemos que ele foi enfraquecido nos últimos tempos", disse Huppert na tradicional entrevista coletiva para marcar o início do festival de cinema mais antigo do mundo.
"Não sou diretora, sou apenas atriz, mas sabemos o que isso representa em termos de coragem, resistência, solidão, determinação, para... fazer um filme", acrescentou, dizendo que seu objetivo é ajudar o cinema a continuar funcionando "pelo maior tempo possível".
"Mas é por isso que um festival como o de Veneza existe, é como um ecossistema que é mais necessário do que nunca para proclamar esses valores. Portanto, estou muito feliz por estar aqui", disse Huppert.
Huppert, 71 anos, apareceu em mais de 120 filmes e ganhou o prêmio de melhor atriz duas vezes em Veneza, em 1988 e 1995. Ela e sua família também administram duas pequenas salas de cinema de arte em Paris.
Estima-se que as bilheterias globais dos cinemas tenham atingido quase 34 bilhões de dólares em 2023, de acordo com dados da Gower Street Analytics, um aumento de 30,5% em relação a 2022, mas ainda 15% abaixo dos retornos anuais médios entre 2017 e 2019, antes do impacto da Covid.
No entanto, as vendas caíram novamente neste ano nos Estados Unidos, o maior mercado cinematográfico do mundo, o que fez soar o alarme.
A diretora norte-americana, Debra Granik, que é a chefe do júri da mais experimental seção Horizons de Veneza neste ano, agradeceu a Huppert por abordar o "elefante na sala".
"É por isso que todos nós viemos aqui, porque queremos ver essa forma de arte prosperar", disse Granik.
O festival de Veneza começa na noite desta quarta-feira com a estreia mundial de "Beetlejuice Beetlejuice", de Tim Burton, que está sendo exibido fora da competição. O evento termina em 7 de setembro, quando Huppert anunciará quem ganhou o prêmio principal, o Leão de Ouro.