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Madonna, a maior influencer do pop

CEDAE é a responsável pela hidratação dos fãs durante show de Madonna - Reprodução/Instagram @madonna
CEDAE é a responsável pela hidratação dos fãs durante show de Madonna Imagem: Reprodução/Instagram @madonna
do UOL

Claudia Assef

Especial para o Uol

04/05/2024 04h00

Se tem um ícone pop capaz de transpor modismos da música para as nossas vidas, esse alguém é a Madonna. Desde os anos 80, sua engenhosa atuação como cantora, compositora, dançarina, diretora e escritora a mantém no comando da batuta do rumo que o pop irá tomar como efeito de suas ações e criações.

Sua capacidade de farejar como uma antena sintonizada no que há de mais novo - ou mesmo em resgatar comportamentos mais antigos - faz com que ela seja a maestrina do que iremos consumir na música, mas também na moda e no comportamento.

Da geração X, que a assistiu se consolidar como a artista que é hoje, até a geração Z, mais acostumada com o discurso de afirmação feminista que hoje pode parecer simples, Madonna atravessou as décadas se mantendo propositiva e atual, lançando tendências e não correndo atrás delas. Ela cria os moldes, e os seguidores copiam.

Listamos aqui cinco vezes em que Madonna trouxe à tona estilos musicais que viraram mania.

Madonna e a disco music

Madonna incorporou de forma quase orgânica um sample do hit do ABBA, "Gimme! Gimme! Gimme! (A Man After Midnight)", em sua faixa "Hung Up", primeiro single do álbum "Confessions on a Dance Floor", lançado em 2005. O sample foi uma clara demonstração do respeito do ABBA pelo trabalho de Madonna, já que o grupo sueco, um dos artistas de maior vendagem na história, só havia dado permissão de uso de sua música a outros dois artistas (Fugees e 98 Degrees).

O sample, com riff e o ritmo icônico da música original do ABBA, forma a espinha dorsal de "Hung Up", o que deixava claro que a rainha iria partir para uma aura de pista de dança dos anos 70 e início dos 80 ao longo do álbum.

Sempre atenta a artistas de uma camada mais undergroud, Madonna chamou o produtor e DJ inglês Stuart Price para trabalhar na música, que desempenhou um papel crucial na criação de "Hung Up".

Desde a capa de "Confessions on The Dancefloor", trazendo um globo de espelhos incorporado ao nome da cantora, até o penteado escovado para fora, à la "As Panteras", passando, claro, pelo collant rosa de lamê, a vibe disco exalada pelo álbum se espalhou das marcas da alta moda até as imitações das 25 de Março e Saaras da vida. Madonna fez a disco music ser cool novamente muito além da música.

Madonna e o boom dos DJs

A relação entre Madonna e os DJs é uma parte essencial da sua jornada musical, desde os primeiros dias da sua carreira até os dias de hoje. DJs desempenharam papéis fundamentais na moldagem do som e estilo de Madonna, contribuindo para a sua ascensão como uma das maiores estrelas da música pop.

Nos primeiros anos da sua carreira, Madonna teve o faro de trabalhar com uma série de DJs visionários que ajudaram a definir o som da cena musical underground de Nova York. DJs como Jellybean Benitez e Mark Kamins foram essenciais na produção do seu álbum de estreia, "Madonna", lançado em 1983. Eles trouxeram uma sensibilidade dance e eletrônica para o álbum, ajudando a solidificar o estilo único de Madonna como uma mistura de pop, disco e música eletrônica.

À medida em que a sua carreira progredia, Madonna continuou a colaborar com DJs influentes, trazendo as últimas tendências da música de pista para a sua música. Ela trabalhou com Shep Pettibone em vários álbuns, incluindo "Like a Prayer" e "Erotica", aproveitando a sua experiência na cena club de Nova York para criar faixas que se tornaram hinos das pistas de dança em todo o mundo.

Além de colaborar com DJs em estúdio, Madonna também cultivou uma relação próxima com a comunidade DJ em seus shows ao vivo. Ela é conhecida por recrutar talentos locais para abrir seus shows - não foi muito o que aconteceu no Brasil, pois para o show de Copacabana ela escalou o norte-americano Diplo para abrir sua apresentação.

Ela também é reconhecida por recrutar pessoalmente os DJs que serão responsáveis por seus remixes. Foi o que aconteceu com o carioca Felguk, que recebeu em 2009 um pedido da própria Madonna para remixar "Celebration", após a cantora ter passado a ele por telefone detalhes do tipo de sonoridade que ela gostaria no produto final do remix.

Madonna e o trance

O sétimo álbum de Madonna, "Ray of Light", foi lançado em 1998 e trouxe um forte sotaque de música eletrônica européia nas composições. Foi uma mudança marcante na sonoridade de suas músicas, sempre estiveram marcadas por um groove mais negro e norte-americano, herança da disco music gay e latina.

O produtor musical e compositor inglês William Orbit foi fundamental na criação de "Ray of Light", primeiro single e a faixa com maior influência de trance, gênero da música eletrônica dominante nas raves, especialmente as de Goa, na Índia, outra influência forte em Madonna neste álbum, visível através dos adornos em henna desenhados em suas mãos e pela dança desi, presente nos shows dessa fase da cantora.

O estilo de produção visionário de Orbit, caracterizado por sintetizadores exuberantes, ritmo acelerado e texturas etéreas, complementou perfeitamente a visão artística de Madonna para o álbum. O trabalho de Orbit em faixas como "Ray of Light", "Frozen" e "Mer Girl" ajudou a definir o som distinto dessa fase que misturava trance, ambient e música eletrônica num formato inédito na carreira da cantora. Além de Orbit, Marius de Vries, produtor, compositor e arranjador conhecido por seu trabalho em música eletrônica e dança, e Rick Nowels, compositor e produtor com experiência em música pop e eletrônica, trabalharam neste disco, que levou quatro prêmios Grammy, incluindo o de Melhor Álbum Pop, em 1999.

Madonna e a música latina

Quem viveu os anos 1980 deve se lembrar de quando Madonna atacou de ritmos latinos com músicas como "La Isla Bonita", do álbum "True Blue", e "Who's That Girl", inclusive com trechos cantados em espanhol. Apesar de se orgulhar de suas origens na Itália, Madonna floresceu no gueto latino de Nova York e foi influenciada pela gigantesca população porto-riquenha que vivia e tinha enorme participação no cenário musical underground da cidade.

Além de collabs com artistas latino-americanos, como Ricky Martin em "Be Careful (Cuidado con mi Corazón)" e o colombiano Maluma em "Medellín", a cantora já viveu momentos de amor à cultura ibérica e latino-americana, incorporando elementos como saias rodadas, cores vibrantes e acessórios enormes.

Em 1994, ela retornou seu affair com a música latina com a música "Take a Bow", cujo videoclipe mostrava a história de um toureiro espanhol. A cantora sempre se declarou fã da artista mexicana Frida Khalo, a ponto de incorporar uma representação dela em seu show que agora vem ao Brasil, sem falar em seu crush avassalador na figura história de Eva Perón, a eterna primeira-dama argentina que Madonna interpretou no cinema em 1996.

Madonna também demonstrou apoio à comunidade latina em questões sociais e políticas, usando sua força para abordar questões como direitos dos imigrantes e identidade latina nos Estados Unidos. Com sua influência e poder de persuasão, a rainha alastrou seu toque antixenofobia e ser latino passou a ser hype.

Madonna e o country

Quase 25 anos antes de Beyoncé aparecer de chapelão e cantando "Texas Hold'Em", Madonna surgia com camisa jeans justinha, bota e chapéu cantando um mix de pop com elementos da country music no álbum "Music", lançado em 2000.

Se a faixa-título tinha notas de country misturadas com uma produção mais eletrônica, em "Don't Tell Me" ela vinha com o pacote completo do gênero, com guitarra slide, aquela que é tocada deitada e com um anel de metal ou vidro, e riffs de guitarra twangy, típica do blues e do country. A música foi composta por Joe Henry, nome forte no country, com composições escritas para artistas como Billy Bragg, Emmylou Harris e Carolina Chocolate Drops.

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