Oito horas de dinâmicas e entrevistas: o relato de um jovem que participou da seleção do "BBB19"

Enzo*, de 32 anos, estava a caminho de um almoço de família quando recebeu uma, duas, três ligações de um número de telefone do Rio de Janeiro. Ele ignorou, a princípio. Mas quando, insistentemente, a pessoa ligou mais uma vez por meio do WhatsApp, ele atendeu:

Você já ouviu falar no Big Brother? Teria interesse em participar da seleção?"

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O produtor de eventos resolveu embarcar na oportunidade que bateu à sua porta e conta, a seguir, como foi participar, durante oito horas, de uma seletiva para entrar no reality show:

"Era final de novembro, eu estava no carro indo para um almoço na minha avó e vi uma ligação no meu celular com o código 21, do Rio de Janeiro. Não conhecia aquele número, vai que é uma daquelas ligações de dentro de presídio. Deixei tocando.

A pessoa que estava tentando falar comigo ligou de novo, de novo, até que usou o WhatsApp. Eu atendi, e ela se identificou: 'Oi, desculpa se você está ocupado, aqui quem está falando é Marta*, estou te ligando porque indicaram seu nome. Você já ouviu falar no Big Brother? Teria interesse em participar da seleção?'.

Era uma amiga minha que tinha me indicado. Eu pensei rapidamente e falei: 'Tenho. Não é uma coisa que, nossa, eu sempre quis para a minha vida, mas tenho interesse'. Ela perguntou se, no mesmo dia, eu teria disponibilidade para bater um papo, eu expliquei que já estava com um compromisso, e ela agendou para o dia seguinte.

Ainda no telefone, Marta já fez um monte de perguntas sobre mim - como eu era, com quem eu morava, como que eu era em família, com os amigos, verificou as minhas redes sociais (Facebook e Instagram), perguntou o porquê de um apelido que eu tenho, um verdadeiro questionário sobre minha vida. Perguntaram qual era minha formação, com o que eu trabalhava, se eu já acompanhava o programa, se tinha assistido ao último.

Na sequência, ela me passou o endereço de um grande hotel na região da avenida Paulista, em São Paulo, onde eu tinha que chegar às 10h do dia seguinte. Liguei para minha amiga, para conferir se era mesmo verdade, e vi que sim. 

Logo de manhã eu fui para o hotel, me identifiquei e disse que estava ali para participar da seletiva. Avistei uma grande fila, com pessoas de todo tipo de perfis, e acabei puxando assunto com algumas daquelas pessoas.

Tinha empresário, modelo, publicitário, jornalista, DJ, músico, atriz, dançarina. A maioria, ali, tinha se inscrito pelo site do programa. Eu não mandei nada, nenhum vídeo, simplesmente recebi uma ligação.

O processo foi demorado, cheguei 10h e só fui embora 18h. Após esperar na fila, fui para um espaço onde assinei termos de utilização de imagem, coloquei minhas redes sociais, voltei a contar um pouco da minha vida, com quem morava, qual era minha formação, e fui encaminhado a um espaço que mais parecia uma festa.

Interação

Havia várias pessoas, uma mesa com buffet com comida, bebida, material para customizar alguma coisa, escrever, desenhar, pintar, e a galera interagindo. Um som ambiente e só.

Não nos pediram para fazer nada. Nesse contexto de interação entre todos que estavam lá, a galera da produção ficava passando e observando. A gente estava ali, conversando, enquanto os produtores passavam, mandavam mensagem por meio de um celular, se comunicavam por meio de fones de ouvido.

Era muita gente, cerca de 60 pessoas, então eles dividiram a gente em cores - ao menos quatro grupos. Entre a gente, o papo era sobre a inscrição, sobre como cada um havia chegado ali. Alguns já haviam tentado em outros anos, estavam felizes por terem alcançado apenas aquela etapa.

Dinâmica

Depois disso, foram chamando grupo por grupo para passar por uma dinâmica, com uma banca com várias pessoas. Uma delas, uma psicóloga, explicou sobre a atividade que aconteceria naquele momento. O meu grupo, azul, foi dividido em subgrupos.

Foram algumas perguntas, mas eu me recordo de duas. A psicóloga perguntou: 'Se você tivesse que escolher um superpoder, o que você escolheria?'. Aí os participantes podiam levantar a mão e responder, se quisessem.

Eu respondi essa, disse que queria ter o poder de dar uma segunda chance para a pessoa rever uma atitude, para que caso ela tenha alguma dúvida, ela conseguisse ver o que poderia ocasionar. Fui dando asas à imaginação, viajei bastante.

A outra pergunta que eu lembro era assim: 'Você já traiu? Você preferia trair ou ser traído?'. Nesse caso, várias pessoas responderam, contaram suas histórias pessoais.

A última parte da dinâmica foi um julgamento. Foi entregue um esquete para nós em que, divididos em grupos, precisávamos julgar os envolvidos.

A história era a seguinte: um menino sofria bullying na escola e procurou a ajuda do diretor. O diretor não deu atenção ao jovem, que, por sua vez, resolveu criar uma fake news para "punir" seu agressor. Ele mentiu ao dizer que o garoto que fazia bullying com ele havia roubado uma bicicleta. Virou um efeito dominó. Uma terceira pessoa, que teve uma bicicleta roubada no bairro, foi atrás do jovem achando que ele podia ter, realmente, roubado sua bike.

A pergunta era: quem tem culpa em relação a essa problemática? A jornalista que noticiou o caso, o diretor, que acabou se ausentando da situação de bullying, o garoto que sofreu bullying e criou a fake news, as mães, que espalharam a notícia falsa nas redes sociais e pressionaram a escola a punir o menino... A gente tinha que avaliar, em uma escala de 1 a 5, o grau de culpa de cada um dos envolvidos.

Foi bacana esta atividade, porque a gente tinha que entrar em um consenso - meu grupo tinha umas cinco pessoas, e todas tinham que chegar a uma resposta final. No nosso caso, achamos que o diretor tinha a maior parte da culpa, e fomos dividindo a escala entre os outros personagens. 

Cara a cara

No mesmo dia, depois de todas as etapas, ainda precisamos esperar para passar por uma última - uma entrevista, cara a cara, com a câmera ligada, gravando um vídeo, e respondendo outras perguntas.

'Por que você tem que entrar na casa? O que gosta de fazer? Que música gosta de ouvir? Como você é com a galera? A que tribo você pertence? Gosta de se envolver com as pessoas?', questionava uma moça da produção. As perguntas variavam de acordo com cada participante.

Eu passei?

A produção do Big Brother só avisa quem passou para a próxima fase; eles não avisam que você não passou. Naquele dia, após oito horas, eles só disseram que avisariam quem passasse até o início de dezembro. Não foi o meu caso.

O que a gente sabe é que, depois, os participantes escolhidos vão para o Rio de Janeiro, passam por outras avaliações psicológicas e ficam isolados no hotel.

A impressão que dá é que você está em uma entrevista de emprego. Eu fiquei me perguntando se eu devia ter feito algo diferente, se eu tinha conseguido mostrar quem eu realmente sou.

Mas, no final, todo aquele pessoal que ficou de fora do programa fez até um grupo no WhatsApp, combinou até de criar a própria casa de confinamento. Vai que rola, né?"

O BOL entrou em contato com a assessoria de imprensa da TV Globo que, até o fechamento desta reportagem, não comentou sobre a seletiva. 

*Os nomes citados na reportagem foram alterados a pedido da fonte 

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