"The Stimming Pool" repensa produção de filmes por meio de lentes neurodivergentes
Por Marie-Louise Gumuchian
LONDRES (Reuters) - Cinco artistas autistas levam o público a uma jornada visceral pelo mundo como eles o percebem em "The Stimming Pool", um documentário híbrido exibido no Festival de Cinema de Londres.
Membros do coletivo Neurocultures dirigem uma produção construída em torno de uma série de histórias e cenas, algumas focadas em sensações vívidas, incluindo uma que se passa em um pub em plena atividade.
"É a nossa maneira de assumir o controle da nossa própria história e da nossa própria narrativa", disse Georgia Bradburn, membro do coletivo e codiretora da produção, à Reuters.
"Nós nos afastamos das estruturas neurotípicas do cinema com a linearidade e o alinhamento dos personagens e todas essas coisas... É mais sobre... essas histórias e narrativas extensas que fazem sentido a partir de um ponto de vista autista do mundo."
As histórias incluem uma que segue uma mulher que faz um teste de rastreamento ocular e outra de um fã de filmes B que quer fazer um filme sangrento.
O filme também foca na estimulação (stimming em inglês) -- ações repetitivas, incluindo balançar ou mover as mãos, que as pessoas podem usar para canalizar energia ou se expressar.
"A estimulação tem tido conotações negativas devido à forma como o autismo e a deficiência têm sido patologizados como algo que é uma espécie de comportamento ruim ou algo que precisa ser suprimido", disse Bradburn.
"Muitas pessoas autistas aprenderam a mascarar seus estímulos e a se sentirem contidas, e uma grande âncora para 'The Stimming Pool' e o objetivo que queríamos criar com esse filme era como mostrar o afrouxamento dessas restrições."
O filme não tem narração abrangente ou explicação de fundo. Algumas cenas mostram pessoas se estimulando, muitas vezes em locais públicos, inclusive em uma aula de spinning.
"Tivemos um elenco quase totalmente autista, uma grande proporção da equipe é neurodivergente", disse o codiretor Steven Eastwood, que trabalhou com o coletivo.
"Gostaríamos de pensar em como o filme pode ter um impacto; não apenas no que ele faz na tela... mas também em como ele foi feito e, com sorte, podemos compartilhar modelos mais inclusivos de produção de filmes", disse.
O Festival de Cinema de Londres acontece de 9 a 20 de outubro e contará com várias exibições descontraídas para o público neurodivergente.
(Reportagem de Marie-Louise Gumuchian)