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Crise na Globo? Fim de pay-per-view do BBB é sinal dos tempos

Integrante do BBB 25, Diego Hypólito tem medo de prejudicar sua reputação ao participar do reality - Reprodução/Globoplay
Integrante do BBB 25, Diego Hypólito tem medo de prejudicar sua reputação ao participar do reality Imagem: Reprodução/Globoplay
do UOL

Colunista de Splash

16/01/2025 05h30

O fim de uma era: a partir desta edição, a Globo decidiu encerrar a venda do pay-per-view do Big Brother Brasil, que oferecia transmissão direta e sem cortes da casa do reality show por um valor adicional. Agora, o conteúdo está disponível apenas no Globoplay. Seria isso um erro estratégico da emissora? Motivo para indignação? Talvez. Mas essa mudança também é um reflexo dos novos tempos.

Em todo o mundo, os grupos de mídia estão repensando a sua participação na TV por assinatura tradicional e migrando para novos modelos, via streaming. Goste ou não, o BBB virou uma peça-chave nessa transição. No processo, acabaram com aquilo que, para muita gente, era uma lembrança afetiva do mundo dos anos 2000 e 2010. A seguir, esta coluna de Splash explica os motivos por trás da movimentação —e o que ela revela sobre o futuro do entretenimento

BBB foi importante para a TV paga

Quando a primeira edição do BBB foi ao ar, em 2002, a televisão paga estava em 3,5 milhões de lares, de acordo com dados da Anatel. Nos anos seguintes, ocorreu o chamado boom de consumo da classe C e a explosão desse modelo. O ápice veio em 2014, com 19,2 milhões de conexões.

É difícil quantificar em valores, mas certamente o pay-per-view da atração da Globo teve a sua importância nesse crescimento. Nesse período, o Big Brother explodiu de audiência na emissora aberta —levando muita gente a garantir o sinal 24 horas, alimentando a sua fixação. Afinal, o espectador do PPV podia ver tudo o que acontecia dentro da casa, sem filtros.

Em 2004, por exemplo, o jornal Folha de S.Paulo informava que haviam sido vendidos 56 mil pacotes em seus primeiros dias, com a perspectiva de chegar a 170 mil. Na época, cada assinatura custava R$ 75 (hoje, R$ 305, na correção pela inflação). Em 2022, de acordo com o Notícias da TV, as vendas chegaram ao ápice, 515 mil, a R$ 22,90 mensais.

Big Brother agora é a arma do streaming

Com o advento do streaming e o fenômeno de "cortar o cabo", a TV paga tradicional conta hoje com apenas 8,2 milhões de assinantes. Parte dessas pessoas migrou para o modelo conhecido como vMVPD (distribuidor virtual de programação de vídeo multicanal, na tradução), vendido pelas mesmas operadoras e que não entra na estatística, mas a realidade é que esse mercado é muito menor do que já foi.

Enquanto isso, são cerca de 50 milhões de conexões de banda larga no Brasil, informa a Anatel. Já o número de linhas de celular está em surpreendentes 262 milhões, para uma população de 216 milhões de pessoas. A maioria com internet 4G e 5G. A tal "rede mundial de computadores", hoje, é muito maior do que a televisão "a cabo" jamais sonhou alcançar.

Isso reflete nos números de audiência do vídeo no nosso país. As plataformas online possuem um share de 31,6%, de acordo com o boletim de dezembro da Kantar Ibope —enquanto a televisão por assinatura fica em 7,6%.

A briga é mais ferrenha nesse novo mercado. Gigantes mundiais, como Netflix, Amazon e Disney, lutam entre si e contra a Globo. Uma tendência nessa nova disputa tem sido justamente as transmissões ao vivo, como esta coluna tem coberto nos últimos meses.

E qual é o produto de entretenimento ao vivo mais forte do grupo brasileiro? O Big Brother.

Tadeu - Divulgação - Divulgação
Tadeu Schimidt, o apresentador das edições mais recentes do Big Brother Brasil
Imagem: Divulgação

Ao acabar com o pay-per-view, a empresa da família Marinho transforma o seu serviço de vídeo na única plataforma para transmitir o BBB por 24 horas, evitando uma canibalização e investindo em um produto com maior potencial de crescimento e maior concorrência. De quebra, elimina um dos caminhos mais comuns para a pirataria de transmissões ilegais.

Para o espectador há outras vantagens, é bom frisar. O ao vivo do reality, agora, pode ser visto de qualquer lugar, direto do celular, sem cabos e amarras. É uma experiência diferente.

Uma outra fonte de receita

O Big Brother Brasil está incluído em todas as assinaturas do Globoplay, sem custo adicional —um modelo oposto do que ocorria na TV paga.

Perde-se uma possibilidade de faturamento, é claro, mas o momento não é coincidência. No ano passado, foi lançado um novo pacote da plataforma, por R$ 22,90 mensais, com anúncios. Por isso, a rentabilidade por espectador ultrapassa esse valor, devido ao dinheiro obtido com os anunciantes. Com uma atração ao vivo, o tempo médio de permanência na plataforma cresce, ampliando justamente as oportunidades de exibição de anúncios.

Sem contar que é mais estratégico conquistar um assinante para um serviço com duração indefinida do que para outro que se limita a pouco mais de três meses —e que, no ano seguinte, exige a repetição de todo o esforço para reconquistar a base.

Do lado do assinante, paga-se quase o mesmo para ter um serviço com maior valor agregado. Quem chega por causa do programa, ganha de "bônus" um bom catálogo de produções, principalmente nacionais.

Globoplay - Leo Franco/AgNews - Leo Franco/AgNews
Painel do Globoplay na CCXP 2024: plataforma é o foco dos esforços do grupo brasileiro
Imagem: Leo Franco/AgNews

Os números reforçam essa estratégia. Em 2021, o reality ampliou as vendas do Globoplay em 11 vezes, segundo dados da própria empresa, destacando sua relevância para atrair espectadores e consolidar a plataforma no mercado. Em dezembro passado, o serviço do grupo brasileiro alcançou um share de 1,2% de audiência, de acordo com a Kantar Ibope —ficando atrás do YouTube (19,1%) e da Netflix (4,6%), mas superando o Prime Video (1%).

Outra mudança importante é que, desde o começo de 2024, a Claro —maior operadora de televisão paga do Brasil, com cerca de 45% desse mercado— oferece o Globoplay sem custo adicional para a totalidade de seus assinantes.

Por que pagar um valor adicional para ter o BBB 25 no pay-per-view se ele já está "de graça" em outro lugar?

Quem perde com o fim do pay-per-view?

Como em qualquer transição, esta é uma que tem perdedores, sim. Embora a cobertura de internet seja muito ampla no Brasil, ela não é igual em todos os lugares. Há, por exemplo, regiões remotas nas quais o sinal via satélite (como o da Sky) é mais acessível —e eles vão perder o acesso em tempo real, o que não é pouca coisa para os fãs devotos.

Além disso, há parte do público que não se adapta ao streaming —preferindo a comodidade de zapear com um controle remoto. Também há alguns usuários relatando no X (antigo Twitter) sobre problemas no Globoplay. A coluna acompanhou a transmissão por algumas horas e não encontrou problemas, mas eles podem ocorrer em conexões com a web mais instáveis ou com baixa velocidade. São essas pessoas que estão reclamando, com razão.

Já as próprias operadoras perdem uma fonte de faturamento, pois ficavam com parte das assinaturas dos pacotes de PPV. Ao mesmo tempo, é uma troca: ao oferecer o Globoplay sem custo, a Claro deu mais um motivo para que os assinantes continuem em sua base. Infelizmente, toda evolução acarreta algum nível de perda —ou mesmo a extinção.

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