Topo
Entretenimento

Gabb, tiktoker do bordão 'horrorosa': 'Repercussão foi um surto coletivo'

A tiktoker Gabb no Lollapalooza - Divulgação
A tiktoker Gabb no Lollapalooza Imagem: Divulgação
do UOL

De Universa, em São Paulo

02/05/2024 04h05

"Mona, o kiki? O kiki houve? Fica direita!". Se você consome conteúdo de moda no TikTok dificilmente não foi impactado pelas produções da Gabb. Cheia de jargões divertidos como "horrorosa", "movie star" e "merendeira", seu conteúdo irreverente conquistou a internet.

"Estou fazendo um resgate dos anos 2000. Quem viveu aquele tempo sabe que era possível dar opinião sem ser cancelado e acabarem com a sua vida, sabe?", disse em entrevista a Universa.

A mineira não tem travas na língua, mas também não falta com respeito. Seu objetivo ao falar sobre o look das famosas é comentar sobre a roupa, não sobre a pessoa. Seu foco é o humor. Não à toa, vai ganhar um programa (ainda sem plataforma definida) para papear ainda mais sobre looks.

Para a reportagem, Gabb contou um pouquinho sobre a sua vida e como se sente uma vencedora por marcas tão grandes a quererem como representante em publicidades.

Universa: Como começou sua carreira na internet? De repente, eu estava gritando 'horrorosa' o tempo todo por aí...
GABB:
Sinto que foi um surto coletivo a repercussão dos bordões [risos]. Os tempos pandêmicos foram difíceis e sinto que as pessoas perderam a mão.

Passamos a confundir opinião com gosto e crítica construtiva com esculhambamento. Eu venho desse lugar. Quero criticar o look, mas não atingir a pessoa que está usando. Quando eu apareci, me falavam que 'horrorosa' era uma palavra pesada, mas se você pensar bem, não é. É algo que as crianças falam.

Estou fazendo um resgate dos anos 2000. Quem viveu aquele tempo sabe que era possível dar opinião sem ser cancelado e acabarem com a sua vida, sabe?

Seu vocabulário é cheio de jargões. Você já falava assim com seus amigos ou foi algo que criou para a internet?
Sempre fui desse jeito, mas as minhas gírias aparecem em forma de estudo. Por exemplo: eu faço um vídeo e chamo alguém de 'horrorosa' pela primeira vez e começo a ler os comentários, para checar se funcionou ou não para quem ouviu.

Mas as expressões saem naturalmente e consegui construir um glossário da Gabb, das minhas expressões marcantes. Algumas eu até esqueço, por não ser algo que uso no dia a dia. Quando roteirizo, penso: 'Tenho que colocar o 'o kiki aqui'. Vou montando quase que um quebra-cabeça com meus próprios bordões.

@tictoxica MONA O KIKI? Qual o pior look para voces ? #chango #oscars #fashiontiktok ? som original - Gabb

Você faz algo pouco feito no Brasil: críticas às celebridades nacionais. Na primeira vez que gravou e postou, ficou com frio na barriga ou achava que ninguém ia assistir?
Quando falei dos looks no aniversário da Angélica e o Luciano Huck me convidou para participar de seu programa, me colocando em um lugar de crítico de moda, ficou mais perigoso. [risos] Não tem mais como as pessoas rebaterem, quem comenta o look sou eu. Tenho que tomar cuidado para essa opinião não pesar também. Mas medo eu não tenho. Quero falar sempre mais com humor.

Conta para gente um pouquinho de você?
Sou de Juiz de Fora e me formei em sociologia na universidade federal da cidade. Vim para o Rio de Janeiro, trabalhei como DJ. Minha ideia era ser diplomata, mas durante o curso já percebi que precisava ser bem mais inteligente para isso [risos] Fui recalculando a rota.

Gostava muito de comunicação e passei a trabalhar com eventos, em contato com celebridades e fui fazendo, aos poucos, conteúdo. O que eu postava tinha bons resultados, e como durante a pandemia não existiam mais eventos, resolvi focar na internet.

Seu intuito era bombar ou criar uma válvula de escape?
Era um escape, com certeza. Sempre quis me divertir com os vídeos de análise. Era como um papo com meus amigos. Nós sempre falamos de moda e era engraçado. Eu e meus amigos temos um programa que é sentar na sala, assistir clipes e ficar falando sobre as roupas e estéticas --o que funcionou e o que faríamos diferente. É uma instituição bem gay brasileira. [risos]

Você é muito autêntica. Dá para dizer que se inspira em alguém?
Nossa, tenho muitas inspirações. Poderia ficar um dia só falando das pessoas nas quais me inspiro. Sou muito respeitosa, gosto de encontros e quando me mandam mensagens. A Luana Piovani, por exemplo, me escreveu, dizendo que eu era incrível. Precisei falar que o primeiro vídeo que vi no YouTube era dela batendo em um paparazzi quando eu tinha 10 anos de idade. Tem um pouco dela nessa persona que é a Gabb.

Sempre sou eu, mas em pílulas maiores. Penso muito na Marisa Orth no primeiro 'Saia Justa', quando traziam assuntos e davam opiniões. Meu sonho é ser quem traz esses papos relevantes e me comunicar bem. Para mim, um bom criador de conteúdo dá o pontapé inicial em um assunto. Outras inspirações seriam, por exemplo, Clodovil e Fernanda Young e Joan Rivers, claro.

Quando você se sente 'horrorosa' e quando se sente uma 'movie star'?
Eu acordo horrorosa todos os dias, bem horrorosa. Assustadora. Normalmente, me sinto uma 'movie star' só depois das três da tarde, que passo a ter um novo status. Para falar verdade, acho que qualquer momento antes das três da tarde eu estou horrorosa. [risos]

Gabb, tudo o que você faz ganhou grandes proporções muito rápido, o que trouxe publicidades de grandes marcas, como O Boticário, já que foi escolhida para representar o Egeo no Lollapalooza. Como é para você ter esse reconhecimento?
Ao contrário da Manu Gavassi, eu amo uma publicidade [risos] Adoro a imprensa. Ver uma marca gigante como essa me chamar, que existe desde antes de eu nascer, me deixa lisonjeada. É muito difícil chegar nesse ponto de fazer um bom trabalho e ter reconhecimento das marcas, que confiam na maneira como você vai representá-las.

A responsabilidade é grande, mas fico feliz em poder abraçar esses projetos e levantar a bandeira do Egeo, um perfume que existe há tanto tempo. Me sinto vencedora.

Tem alguma fragrância de O Boticário que te traz memórias olfativas fortes?
Você acredita que eu estava saindo de uma consulta médica esses dias e senti o cheiro da Ma Chérie, que uma prima minha que, infelizmente não está mais aqui com a gente, usava. Juro que meu coração chegou a acelerar porque senti o cheiro dela na infância. Acho que esse é o perfume que eu mais tenho carinho.

Você acredita que está abrindo as portas para outras pessoas falarem de moda de uma maneira despreocupada?
Acho que sim, mas não sou pioneiro. Ganhei a chancela das pessoas porque o conteúdo vai se tornando mais deglutível. Ele é estranho em um primeiro momento, mas passa.

Ninguém mais dá opiniões sobre a roupa, não podemos mais falar se achamos algo bonito ou feio. Quando você é disruptiva, de uma maneira que não ofende e nem é criminosa, as pessoas veem como um caminho possível a ser seguido.

Entretenimento