Tatuapé investe em ala exclusiva de mulheres na cuíca e quer deixar legado
Depois de quatro anos sem cuíca na bateria da Acadêmicos do Tatuapé, a escola volta neste ano com 24 mulheres tocando o instrumento de percussão. "Como não havia muito empenho da parte dos ritmistas e a cuíca não é obrigatória [no campeonato], achamos melhor tirar. Agora só temos mulheres, e elas são muito mais dedicadas", elogia Higor Silva, mestre da bateria Qualidade Especial.
Aos 53 anos, Marilda Aparecida Alves Rocha é um dos exemplos dessa dedicação. A professora de artes toca o instrumento desde 2011. Já passou pela Colorado do Brás e pela Va-Vai, onde ficou até 2018, quando começou a dar aulas na escolinha de percussão da Tatuapé.
"A proposta, no início, se mostrou bem irreverente. Na maioria das escolas de samba que têm ala de cuíca são 20 homens e três mulheres. Na Vai-Vai, por exemplo, eram 25 homens e três mulheres. Na Colorado era só eu!", conta Marilda, valorizando esse diferencial que a bicampeã do Carnaval de São Paulo vai levar para o Sambódromo.
Não só Marilda, mas as meninas da ala veem com lindos olhos a proposta da escola e mostraram isso no dia do ensaio técnico, no último domingo, pintando seus rostos com o símbolo do feminino. "Penso que a sociedade vê a mulher como lutadora, guerreira, comprometida, responsável e disciplinada. Nada mais justo do que ter essa ala exclusivamente só de mulheres, centrando a força, o empoderamento e a resistência. Era para fazermos toda a diferença. E estamos fazendo", acredita Marilda.
Com o projeto cuíca, as responsabilidades foram divididas e compartilhadas. Na escola de samba, quem dirige a ala das cuícas é Alice. Já no bloco filiado à Tatuapé, o Mocidade Amazonense, é Marilda quem está à frente. "Vamos sair no dia 4 de março. Estamos muito comprometidas, afinadas e fazendo um trabalho muito bacana."
Jornada dupla e sem showzinho com passistas
Algumas cuiqueiras tocam na agremiação e também no Amazonense. É o caso de Daniele Martins, 25 anos, que entrou na escolinha de percussão para fazer aulas de tamborim e mudou de ideia.
"O mestre Higor convidou todas as mulheres para participar do projeto e acabei tendo mais facilidade com a cuíca", conta a estudante, que está há apenas dez meses na escola de samba. "Vai ser a minha estreia em tudo. Carnaval, samba, cuíca... Nos ensaios na quadra eu fico mais nervosa, porque eles falam alto, botam pilha. Aqui [no Anhembi, no ensaio técnico], estou mais tranquila", diz a jovem. "É muito gratificante ver que nosso esforço está valendo a pena."
Com 240 ritmistas na bateria, Higor está satisfeito com o trabalho desenvolvido na escola de percussão. "Hoje, temos entre 30% e 40% de mulheres na bateria", diz o mestre. Mesmo não sendo um instrumento obrigatório, a cuíca tem um peso importante. "Se o cuiqueiro vai lá na frente e erra, ele atrapalha todos os outros ritmistas", afirma, referindo-se ao hábito de alguns se aproximarem de musas e passistas da escola. "Não podemos correr o risco, porque o Carnaval está cada vez mais rígido e disputado."
Feliz com o espaço que a Tatuapé dá às mulheres, Marilda também comemora o resultado da dedicação de todas: "Estamos vindo com uma ala pesada. Meninas tirando uma onda, aperfeiçoando nosso trabalho. Algumas já foram convidadas para outras escolas. Isso é um legado, e a ideia é essa: multiplicar, crescer!".
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