Brasil recebe líderes da Rússia, China, Índia e África do Sul para cúpula
Eduardo Davis.
Brasília, 11 nov (EFE).- O presidente Jair Bolsonaro receberá nesta semana, em Brasília, os líderes da Rússia, China, Índia e África do Sul para a Cúpula do Brics, no momento em que o país está alinhado com os Estados Unidos, um tradicional antagonista deste fórum.
Os presidentes da Rússia, Vladimir Putin; da China, Xi Jinping; e da África do Sul, Cyril Ramaphosa; assim como o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, desembarcarão nesta terça-feira em Brasília para dois dias de reuniões com Bolsonaro.
Embora as principais questões da cúpula envolvam a cooperação econômica e comercial entre as cinco principais economias emergentes do planeta, haverá arestas políticas da agenda global difíceis de serem ignoradas e que, segundo o Brasil, "não serão evitadas".
Algumas dessas arestas estão na América Latina e referem-se à Venezuela e Cuba, às quais a crise na Bolívia foi acrescentada.
Em relação à Venezuela, no Brics, há apenas uma concordância e é a rejeição de uma eventual intervenção militar estrangeira naquele país.
Rússia, China, Índia e África do Sul reconhecem o governo de Nicolás Maduro. Já Bolsonaro o chama de "ditador" e cuja saída ele promove através de mecanismos regionais, como o Grupo de Lima, e em estreita cooperação com os Estados Unidos.
O Brasil, que reconhece o chefe da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, como presidente venezuelano, admite essas divergências no Brics, mas defende que essas questões sejam tratadas no fórum com um "diálogo franco, respeitoso e cordial".
O alinhamento cada vez mais claro de Bolsonaro com o governo de Donald Trump também se refletiu na ONU, agora em relação a Cuba.
Como Rússia, China, África do Sul e Índia, o Brasil sempre apoiou a moção que Cuba apresentou à ONU desde 1992 para exigir o fim do bloqueio dos EUA.
No entanto, este ano o Brasil mudou de opinião e rejeitou a resolução, aprovada por 187 países e também negada pelos americanos e Israel, com as abstenções da Colômbia e Ucrânia.
Além das divergências geradas por Cuba e Venezuela, agora foi acrescentada a Bolívia e a incerteza gerada pela renúncia de Evo Morales.
Principal cliente de gás do país andino, o Brasil tem sido cauteloso. Bolsonaro disse que os fatos que levaram à saída de Morales do poder foram produto de "suspeitas de fraude" nas eleições de 20 de outubro e se recusou a usar a palavra "golpe".
Já Moscou viu de maneira diferente e seu Ministério das Relações Exteriores expressou preocupação com o fato da vontade de Morales de buscar soluções construtivas baseadas no diálogo, ter sido atropelada pelo desenvolvimento de eventos, que se seguiram a um golpe de Estado.
A Índia e a África do Sul ainda não se pronunciaram e a China já o fez com a sua diplomacia habitual.
"A China espera que todos os partidos na Bolívia possam resolver suas divergências dentro da Constituição e da lei, a fim de restaurar a estabilidade política e social o mais rapidamente possível", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Geng Shuang.
Hoje, o Kremlin já anunciou que Putin pretende conversar com Bolsonaro sobre os acontecimentos na Bolívia, pelo menos durante uma reunião bilateral marcada para a próxima quinta.
GUERRA COMERCIAL
As disputas comerciais entre os EUA e a China são outra razão para possíveis divergências entre Brasil e os outros parceiros do Brics. Fato que põe Bolsonaro em uma encruzilhada entre seu maior aliado político e seu grande parceiro comercial.
Por enquanto, o Brasil fez um equilíbrio difícil e, com uma boa dose de pragmatismo, se manifestou pela promoção do multilateralismo e do livre comércio.
No entanto, em meados de 2020, o governo Bolsonaro enfrentará uma "saia justa", com um leilão já programado para frequências 5G, tecnologia na qual muitos identificam com a origem da guerra comercial entre Estados Unidos e China.
De acordo com vários analistas, a relação política entre Bolsonaro e Trump pode mudar caso o Brasil admita a empresa chinesa Huawei, considerada por Washington como uma "ameaça à segurança".
A posição dura da Casa Branca em relação à Huawei foi rejeitada pela Rússia e África do Sul, enquanto a Índia evitou se pronunciar sobre o caso. EFE
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