Editora de HQs cancela contrato com Neil Gaiman; relembre acusações
A editora Dark Horse, uma das responsáveis por publicar os livros de Neil Gaiman nos Estados Unidos, anunciou o fim do contrato com o escritor na sexta-feira (24).
O que aconteceu
As acusações contra Neil Gaiman motivaram a decisão. "A Dark Horse leva a sério as acusações contra Neil Gaiman, e não vamos mais publicar suas obras. Confirmamos que a saga e a antologia 'Anansi Boys' foram canceladas", diz comunicado divulgado no X.
A série de quadrinhos "Anansi Boys" tem sete volumes. Um oitavo e último estava previsto para fevereiro, mas o lançamento foi cancelado pela editora.
Outras obras relacionadas ao autor também foram canceladas. A série "Garotos Detetives Mortos", lançada na Netflix em 2024, foi cancelada. A Disney suspendeu a adaptação de "O Livro do Cemitério", e a terceira temporada da série "Good Omens", do Prime Video, foi transformada em um episódio único de 1h30. Apesar de essas mudanças terem sido anunciadas após a divulgação das acusações, não se sabe se esse foi o motivo. A segunda temporada de "Sandman", da Netflix, ainda está prevista para ser lançada neste ano.
Acusações de estupro
Pelo menos oito mulheres acusam o escritor de abuso sexual. O caso veio à tona em julho de 2024, quando o site britânico Tortoise Media lançou um podcast detalhando as acusações de cinco mulheres. No dia 13 de janeiro, uma reportagem da New York Magazine divulgou os relatos de mais três mulheres.
Duas delas trabalhavam para Neil Gaiman. Uma delas, Scarlett Pavlovich, tinha 22 anos quando foi contratada por Neil Gaiman e sua então esposa, Amanda Palmer, para ser babá do filho deles. Um dia, quando a criança estava brincando, o escritor teria dito à funcionária que ela poderia tomar um banho na banheira que ficava no jardim da casa. Depois, a surpreendeu entrando na banheira e abusando da funcionária. Em outra ocasião, ela afirma que o autor a estuprou num quarto de hotel onde a criança também estava.
O escritor nega as acusações. Em texto publicado em seu blog, ele afirma que foi "descuidado" com as mulheres, mas diz que tudo foi consensual: "Algumas das histórias horríveis que estão sendo contadas simplesmente nunca aconteceram, enquanto outras foram tão distorcidas do que realmente aconteceu que não têm nenhuma relação com a realidade".
Nos relatos publicados pela revista, as mulheres afirmam que, no início, não reconheceram o ocorrido como abuso. Elas dizem que seguiram instruções de Gaiman para estabelecer a dinâmica dos relacionamentos — por exemplo, ao chamá-lo de "mestre" e atenderem quando ele as chamava de "escravas". Esses termos, assim como práticas de humilhação e submissão, poderiam fazer parte de uma dinâmica sadomasoquista, caso houvesse uma discussão anterior sobre os limites da prática e sobre consentimento. De acordo com elas, esse não foi o caso.