Milhares de manifestantes pró-Exército acampam no Sudão 'até queda do governo'
Cartum, 16 Out 2021 (AFP) - Milhares de sudaneses declararam na noite deste sábado que não irão se retirar do entorno do palácio presidencial, em Cartum, até que o governo seja dissolvido e fique nas mãos dos militares, o que ameaça a transição para as primeiras eleições depois de 30 anos de ditadura.
Os participantes montaram barracas de campanha na entrada do Palácio e Cartum, que abriga as autoridades de transição, integradas por militares e civis. As cenas lembram as manifestações que puseram fim a 30 anos de mandato do ex-presidente Omar al-Bashir em 2019.
"Iremos ficar", afirmou à AFP o manifestante Abdennabi Abdelilah, que mora no leste do país, uma das regiões mais ricas em recursos e, ainda assim, uma das mais negligenciadas. "Queremos um governo que saiba o que acontece no leste, e a destituição do governo atual."
"Precisamos de um governo militar, o gabinete atual falhou e apenas o Exército pode nos trazer justiça e igualdade", declarou o manifestante Abud Ahmed, um agricultor.
Outro manifestante, Yahya Mohiedin, agitava uma faixa pedindo "a destituição do governo", dirigido pelo tecnocrata Abdalla Hamdok desde a queda de Omar al-Bashir em 2019.
Nesta sexta-feira (15) à noite, quase um mês depois de uma tentativa fracassada de golpe de Estado, Hamdok denunciou as "profundas divisões" entre civis e militares e dentro de cada um desses dois blocos. Também afirmou que a transição enfrenta sua crise "mais perigosa", que ameaça o caminho para a democracia.
A manifestação antigovernamental deste sábado foi convocada por uma facção das Forças pela Liberdade e Mudança (FLC, coalizão civil da "revolução") liderada por dois ex-líderes rebeldes, incluindo o ministro das Finanças de Hamdok.
Segundo a agência oficial Suna, grupos de manifestantes chegaram à capital em caminhonetes, aos gritos de "Um Exército, um povo".
"Não existe qualquer estabilidade e a vida está muito cara", comentou o agricultor Abud Ahmed, 50 anos, em um dos países mais pobres do mundo, com uma inflação de aproximadamente 400% e medidas de austeridade decretadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
O governo atual goza de pouca popularidade, devido à inflação galopante e à remoção dos subsídios aos bens básicos exigida pelo FMI para eliminar a dívida do país, marginalizado da economia mundial sob o mandato de Bashir, porque Washington o acusava de apoiar o terrorismo.
As áreas rurais e remotas de Cartum são as mais atingidas. Neste sábado, manifestantes de várias cidades chegavam à capital a bordo de caminhonetes, segundo a agência oficial Suna.
Os partidários da transferência de poder para os civis consideram que os manifestantes deste sábado são apoiadores do antigo regime, mobilizados pelos militares, e convocaram "uma manifestação de 1 milhão de pessoas" para a próxima quinta-feira (21).
As autoridades, compostas por militares e civis, deveriam conduzir o país a eleições, mas adiam constantemente o pleito, previsto agora para 2023.
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