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Para evitar doenças sexuais, casais optam por exames pré-nupciais; entenda

Do BOL, em São Paulo

29/01/2019 06h00

Os exames pré-nupciais costumavam ser recomendados para casais que desejavam ter filhos e evitar doenças hereditárias. Hoje em dia, porém, apesar de o termo estar ultrapassado, eles são feitos com outro objetivo: avaliar a saúde de casais estáveis que decidiram ter apenas um parceiro, de forma a evitar ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis). 

"São exames que devem ser feitos sempre que um casal adulto decide ter uma vida junto, opta pela monogamia e por não usar métodos de barreira, como a camisinha", explica Rosana Richtmann, médica infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo. 

A seguir, saiba mais sobre os exames pré-nupciais, conheça as ISTs mais comuns, como sífilis, gonorreia e HIV, e avalie alguns pontos antes de decidir abrir mão do preservativo.

Importância dos exames e contaminação

  • Getty Imaegs/iStock photo

    Por que fazer exames pré-nupciais?

    Exames pré-nupciais são os primeiros passos para ter uma vida saudável em casal. A médica infectologista Rosana Richtmann alerta que descobrir o contágio por ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis) precocemente pode, além de evitar a transmissão, contribuir de forma decisiva para o tratamento de patologias que podem evoluir para quadros muito graves.

    "É possível se curar completamente da sífilis, mas isso não impede que você se contagie de novo pela doença. Quando o HIV é descoberto bem no início, o paciente pode viver sem desenvolver aids, desde que seja rigoroso com o tratamento. Até mesmo as pessoas com aids podem ter uma rotina normal com tratamento rigoroso. Por isso, é importante fazer os exames. A imensa maioria das pessoas que contrai o HIV acaba desenvolvendo a aids porque nem sabe que tem o vírus", explica Richtmann.

  • E a camisinha?

    Mesmo com os exames em dia, o preservativo continua sendo a forma mais segura de evitar Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), termo adotado pelo Ministério da Saúde em 2016 no lugar de DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis) por ser mais abrangente e recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde).

    Ainda que o casal esteja em uma relação estável, há o risco de o parceiro ou a parceira ter contato sexual fora do relacionamento ou mesmo de um vírus ou bactéria contraído anteriormente não ter sido detectado nos exames. O vírus HIV, por exemplo, em geral torna-se detectável no exame de sangue cerca de 30 dias após o contágio, mas há casos em que o resultado positivo aparece somente depois de 60 ou mesmo 90 dias.

    Rosana Richtmann alerta ainda que o brasileiro inicia sua vida sexual cada vez mais cedo, entre 12 e 13 anos, segundo a especialista. "Verificamos que o uso da camisinha é cada vez menor entre jovens. Existe uma falsa sensação de segurança em relação a doenças como aids. Essa geração não viu as mortes provocadas pela doença há décadas atrás", afirma a médica. Segundo o Ministério da Saúde, a camisinha é o método mais acessível e eficaz na prevenção de ISTs.

  • Shutterstock/kukhunthod/IStock

    Como são feitos?

    "São exames sorológicos. Eles detectam uma ampla variedade de ISTs. Com eles, é possível saber a quais vírus ou bactérias o paciente já foi exposto na vida e se ele já criou defesas e não os transmite, ou se não tem defesas e os transmite", diz Richtmann. A partir desses exames, também é possível detectar quais vacinas o paciente deve tomar para prevenir o contágio por determinadas ISTs, como HPV e hepatite B, por exemplo.

  • Reprodução/ADVANCE for Laboratory

    Onde eu posso fazer esses exames?

    O paciente pode pedir ao médico (da rede pública ou particular) que solicite os exames pré-nupciais. O SUS (Sistema Único de Saúde) dispõe de centros de saúde pública gratuitos especializados no tratamento e prevenção de ISTs, como o Hospital Pérola Byington, referência também na saúde da mulher, e o próprio Instituto de Infectologia Emílio Ribas, referência no tratamento de ISTs, principalmente de pacientes HIV positivos, ambos em São Paulo. No site do Ministério da Saúde, é possível consultar os endereços dos centros de saúde em todo o Brasil especializados no tratamento e prevenção de ISTs.

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    Transmissão de ISTs

    Sexo vaginal, oral e anal sem proteção são formas de contágio das ISTs. Algumas das práticas favorecem mais ou menos a transmissão. "Por conta da diferença de lubrificação, o sexo anal é mais propenso a causar pequenas lesões que podem favorecer a contaminação por HPV, HIV, hepatite B e sífilis, por exemplo", explica a médica infectologista Rosana Ritchmann. O sexo vaginal também é uma via importante de contágio para Infecções Sexualmente Transmissíveis. "Já o sexo sem penetração, quando os genitais são manipulados, por exemplo, é menos propenso a contágios, mas ainda assim pode transmitir HPV e sífilis", afirma Richtmann. Quanto ao sexo oral sem proteção, a pessoa pode transmitir ou contrair HPV, gonorreia e herpes, por exemplo, e até mesmo o HIV, nos casos em que há alguma ferida na boca.

ISTs mais comuns

  • GETTY IMAGES

    HPV

    Vírus muito comum, "o HPV está relacionado ao câncer de orofaringe e boca em homens e mulheres. As mulheres infectadas podem ainda desenvolver câncer de colo de útero, vulva e vagina. Já os homens portadores do vírus podem apresentar câncer de ânus e pênis", explica a médica infectologista Rosana Ritchmann. A contaminação se dá por contato com a pele ou mucosa infectada. O diagnóstico é feito por exame clínico ou laboratorial, dependendo de como o vírus se manifestar no corpo. A doença pode ser prevenida por vacina disponível gratuitamente no SUS (Sistema Único de Saúde). Uma pesquisa feita em conjunto pelo Ministério da Saúde e Associação Hospitalar Moinhos de Vento, divulgada no final de 2017, mostrou que 54,6% das pessoas entre 16 e 24 no Brasil têm HPV.

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    HIV

    Segundo dados do Ministério da Saúde, o número de casos anuais de contágio por HIV subiu cerca de 40% entre 2007 e 2017. O HIV é o vírus causador da aids. No entanto, ser portador de HIV não significa ter aids. Mesmo assim, o portador pode transmitir o vírus para outras pessoas. Não há vacina nem cura. Após cerca de seis semanas de contágio, o HIV instalado no corpo alcança um pico chamado de infecção aguda. Nessa fase, o paciente pode apresentar febre, dor nas juntas, indisposição e dor de cabeça. Os sintomas desaparecem, e o paciente pode ficar anos sem apresentar qualquer sinal.

    "O HIV tem controle. Os pacientes que estão sob tratamento rígido, tomando os remédios direitinho, com acompanhamento médico constante, e apresentam uma carga viral não detectável, podem não transmitir o HIV. Para isso, é muito importante que o tratamento seja feito correta e seriamente", afirma Richtmann

    Nos casos em que há suspeita de possível transmissão do HIV, existem duas formas de prevenção disponibilizadas pelo SUS e utilizadas depois que o paciente passa por uma triagem. São a PREP e a PEP, siglas relacionadas ao HIV. "A primeira quer dizer profilaxia pré-exposição e é feita quando o paciente sabe que existe a possibilidade de contaminação pelo vírus, como uma mulher que tem um parceiro com HIV e quer engravidar, por exemplo. A segunda quer dizer profilaxia pós-exposição e é feita quando o paciente esteve em uma situação onde ocorreu o risco de ser contaminado pelo HIV, como no caso de uma violência sexual", explica Richtmann.

  • Reprodução/Twitter

    HTLV

    O HTVL é da mesma família do HIV, podendo ser de dois tipos (1 e 2). Apesar de esse vírus ser menos comum, não há vacina contra ele. "Pode ser transmitido pelo sexo ou pelo leite materno, por isso é importante que mulheres que desejam ser mães façam o exame para saber se têm ou não o vírus antes de engravidar. Os portadores não apresentam sintomas, mas podem desenvolver doença neurológica ou um tipo de leucemia", explica Ritchmann.

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    Sífilis

    De acordo com dados do Ministério da Saúde, as ocorrências de sífilis tiveram um aumento de 58,1% no país entre 2010 e 2017. A doença é causada por uma bactéria muito comum no Brasil. Na fase inicial, ela pode provocar lesões nos genitais ou na boca, mas, mesmos após o desaparecimento das lesões, a bactéria continua no paciente, que pode transmiti-la. Não há vacina contra a doença, mas há tratamento, que é muito simples - feito com penicilina. "Caso a presença da sífilis não seja detectada ou tratada, ela pode ocasionar complicações no coração e no sistema nervoso central, causando meningite, por exemplo", diz a médica infectologista Rosana Ritchmann.

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    Hepatite B

    Provocada por um vírus, é muito comum. A maioria dos casos não apresenta sintomas. Quando eles aparecem, os mais comuns são febre, vômito, pele e olhos amarelados e urina escura. "A doença tem tratamento e vacina gratuita disponível no SUS", afirma Richtmann. Segundo dados do Ministério da Saúde, no período de 1999 a 2017, foram notificados 218.257 casos de hepatite B no Brasil.

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    Herpes simples

    "É causada por um vírus, e a contaminação se dá por contato. Existem medicamentos antivirais com boa ação sobre a doença. O paciente deve procurar um médico para avaliar o tratamento adequado bem como a via pela qual ele será feito", explica a médica. O sintoma são pequenas bolhas agrupadas especialmente nos lábios e genitais. Não há vacina nem cura. "A herpes pode se manifestar com maior ou menor frequência, isso depende do quadro imunológico do paciente", afirma Richtmann.

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