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Semana de Arte de 22: artistas "endiabrados" rompem as barreiras da arte

Reprodução/Atibaia Connection
Imagem: Reprodução/Atibaia Connection

15/02/2019 17h44

Há 97 anos, entre os dias 11 e 18 de fevereiro, o Brasil vivia uma revolução nas artes com a Semana de Arte Moderna de 1922, que pretendia abandonar antigos ideais estéticos. O objetivo dos artistas modernistas era romper com o passado, seu conservadorismo, classicismo e academicismo. Para eles, era chegado o momento de mostrar a cultura brasileira, ainda que influenciada pelos movimentos em curso na Europa. Segundo a Folha de S.Paulo, em editorial de 1978, os artistas da época queriam por fim "à postura verborrágica e à mania de falar difícil e não dizer nada" presentes nas artes, principalmente na literatura. A imagem de abertura traz reproduções do catálogo e da capa do programa do evento, ambos criados pelo artista Di Cavalcanti.

  • Wikimedia

    Origens

    O cenário cultural dos anos 1910 e 1920 ainda era influenciado pelo parnasianismo, movimento clássico surgido na França por volta de 1850. Porém os artistas mais novos, que se diziam "modernistas", queriam acabar com isso. Queriam romper barreiras, mostrar uma nova forma de arte, convergir pintura, escultura, literatura e arquitetura em torno desse rompimento que enxergavam como necessário, trazendo influências do futurismo, pós-impressionismo e da cultura tradicional brasileira. Na foto, a obra "A Partida da Monção", de Almeida Júnior, pintor da segunda metade do século 19 que mesclava realismo e naturalismo em quadros acadêmicos

  • Divulgação/Museu Lasar Segall

    Precursores

    Em 1913, o pintor lituano Lasar Segall (que viria a ser sogro da atriz Beatriz Segall) fez a primeira exposição de arte expressionista no Brasil, ou "primeira exposição de arte não acadêmica", nas palavras de Mário de Andrade. Em 1914 e 1917, Anita Malfatti realizou exposições de arte moderna, trazendo influências europeias do cubismo, expressionismo e futurismo que escandalizaram a elite brasileira. O escritor Monteiro Lobato fez duras críticas à exposição de 1917, o que acabou chamando a atenção do público para o modernismo. O dadaísmo e o surrealismo também tiveram relevância no modernismo brasileiro. Nessa época, meados dos anos 1910, alguns artistas começaram a divulgar o modernismo em artigos de jornais e revistas. O desenho que ilustra este item é "Volendam", de Lasar Segall, exposto em 1913

  • Reprodução/Morro do Moreno/Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin

    O projeto

    Em 1921, intelectais como Oswald de Andrad e Menotti Del Picchia começam a se movimentar para transformar as comemorações da Independência do Brasil em um momento de emancipação artística. A ideia de organizar um festival de uma semana com manifestações artísticas variadas toma forma na casa do mecenas Paulo Prado, que sugere um evento nos moldes da Semaine de Fêtes de Deauville, realizada na França. Também foi o mecenas quem atraiu o prestigiado escritor Graça Aranha (foto) para o lado dos "revolucionários", dando confiabilidade para o movimento iniciante

  • Reprodução/SPCity

    Dinheiro do café

    Idealizada para ser um evento dentro das comemorações pelo Centenário da Independência (7/9/1922), a Semana de 22 tomou força e conquistou o apoio de artistas importantes e o patrocínio de empresários e barões do café, geralmente conservadores e apoiadores da cultura estabelecida, graças a Paulo Prado, que fez os milionários desembolsarem o valor do aluguel do Theatro Municipal de São Paulo por uma semana, de 11 a 18 de fevereiro de 1922. O principal encontro foi nesta casa, a Vila Fortunata, na avenida Paulista, que pertencia ao empresário e intelectual René Thiollier

  • Wikimedia

    Programação

    A Semana de 22 no Theatro Municipal contou com cerca de 100 obras e três sessões literárias-musiciais. Participaram do evento artistas plásticos como Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Vicente do Rego Monteiro e Victor Brecheret, os poetas Guilherme de Almeida, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Menotti Del Picchia e Oswald de Andrade, os arquitetos Antonio Moya e Georg Przyrembel e com apresentações musicais de Villa-Lobos

  • Reprodução/Cultura Mix

    Vaia para o sapo anti-parnasiano

    O poema "Os Sapos", de Manuel Bandeira, foi recitado na abertura do evento sob vaias e críticas dos presentes, acostumados aos versos e rimas clássicas do parnasianismo. Leia um trecho: "Enfunando os papos, Saem da penumbra, Aos pulos, os sapos. A luz os deslumbra. Em ronco que aterra, Berra o sapo-boi: - 1Meu pai foi à guerra!' - 'Não foi!' - 'Foi!' - 'Não foi!'. O sapo-tanoeiro, Parnasiano aguado, Diz: - 'Meu cancioneiro É bem martelado."

  • Reprodução/Pinterest

    Vaia para o pé de chinelo

    No último dia do evento, Heitor Villa-Lobos foi aplaudido na entrada de sua apresentação pelo pequeno público. Porém quando os espectadores se deram conta de que o maestro, apesar de vestir casaca, usava sapato num pé e chinelo no outro, entenderam aquilo como uma provocação futurista e desrespeitosa, passando a vaiar Villa-Lobos. Depois, ele explicou que estava apenas com um calo inflamado

  • Reprodução/Itapema FM

    Cretinos e endiabrados

    Na época, boa parte da mídia reagiu de forma conservadora à Semana de 22 referindo-se aos vanguardistas como "subversores da arte", "espíritos cretinos e débeis" ou "futuristas endiabrados". Pouca gente deu valor ao que estava acontecendo. As ideias do modernismo só foram ganhar força alguns anos depois, como quando da publicação do Manifesto Antropofágico, de Oswald de Andrade, em 1928

  • Reprodução/Mercado Livre

    Klaxon

    Segundo Iran Pontes, a revista Klaxon foi a primeira publicação modernista do Brasil, fundada na Semana de Arte Moderna, que circulou entre 1922 e 1923, período de grande revolução e desenvolvimento artístico e literário no país. Grandes nomes do modernismo brasileiro colaboraram com a Klaxon, dentre eles Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Sérgio Buarque de Holanda, Tarsila do Amaral e Graça Aranha. O nome da revista era a palavra usada para designar a buzina dos automóveis da época

  • Reprodução/Contioutra

    Segunda geração

    O modernismo brasileiro teve forte influência nas artes até a década de 1960. A partir de 1930, seus representantes passaram a ser chamados de segunda geração, com rica produção literária, foco no humanismo e preocupações políticas e sociais. São dessa geração os poetas Carlos Drummond de Andrade (foto), Murilo Mendes e Vinícius de Moraes. Na prosa, se destacaram Érico Veríssimo, Graciliano Ramos, Jorge Amado e Rachel de Queiroz

  • Reprodução/Instituto Moreira Salles

    Terceira geração

    O ambiente político dos anos 1945 a 1960 levou para a literatura modernista uma abordagem introspectiva e regionalista. São dessa época nomes de destaque como Clarice Lispector (foto), Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto e Lygia Fagundes Telles

  • Reprodução/Pinacoteca Benedito Calixto

    E depois?

    O modernismo deu lugar ao pós-modernismo. De acordo com a professora Daniela Lima, no site Toda Matéria, as principais características do movimento pós-moderno são a ausência de valores e regras, imprecisão, individualismo, pluralidade, mistura do real e do imaginário, produção em série, espontaneidade e liberdade de expressão. Na ilustração, uma obra do pintor Romero Britto, considerado pós-moderno, homenageando um dos quadros mais clássicos do modernismo, "Abaporu", de Tarsila do Amaral

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