Após cerimônia de posse no Capitólio, Trump deve assinar decretos sobre imigração e reforma do governo
A cerimônia de posse de Donald Trump será marcada por mudanças devido ao frio extremo, com o juramento sendo transferido para o interior do Capitólio, um espaço mais restrito. Embora os protestos contra a sua posse ainda tenham ocorrido, a participação foi significativamente menor em comparação com os primeiros dias do seu mandato, quando milhões se mobilizaram.
Luciana Rosa, correspondente da RFI em Washington, D.C.
Já a agenda do presidente eleito inclui ações imediatas após a posse, com destaque para uma operação de imigração em Chicago, que faz parte de seu plano para realizar a maior deportação da história dos Estados Unidos.
Mudança no local da cerimônia de posse
A cerimônia de posse foi transferida para a Rotunda do Capitólio devido à previsão de frio intenso, com temperaturas que poderiam chegar a 15 graus negativos. Essa será a primeira vez desde 1985, na posse de Ronald Reagan, que o juramento acontece dentro do Capitólio por causa do clima. O evento começará oficialmente às 14h (horário de Brasília), mas as atividades terão início mais cedo, com a família Trump participando de uma missa na Igreja de St. John, em Washington. Além disso, Trump anunciou o cancelamento do tradicional desfile. Na Rotunda, o espaço é limitado, acomodando cerca de 600 pessoas, bem menos do que o local externo original permitiria.
Presenças confirmadas
Vários nomes de peso estarão na posse de Donald Trump. Entre os principais executivos do setor de tecnologia inicialmente convidados para um lugar de destaque na cerimônia estavam Elon Musk, Mark Zuckerberg, Jeff Bezos, Tim Cook (Apple) e Shou Zi Chew (TikTok). No entanto, após a mudança da cerimônia para o interior da rotunda do Capitólio, o espaço ficou ainda mais limitado, intensificando a disputa por assentos. Alguns grandes doadores chegaram a oferecer contribuições de até US$ 1 milhão ao comitê inaugural, mas, mesmo assim, não conseguiram garantir acesso à cerimônia ou aos eventos relacionados.
O vice-presidente da China, Han Zheng, estará presente representando Xi Jinping, que foi pessoalmente convidado por Trump. Outros líderes com ideologias e preferências políticas alinhadas às do ex-presidente também marcarão presença. Da América Latina, o presidente da Argentina, Javier Milei, confirmou participação. Já Jair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil, teve o pedido para viajar negado pela Justiça brasileira, enquanto Daniel Noboa, presidente do Equador, também confirmou presença.
Da Europa, Giorgia Meloni, primeira-ministra da Itália, estará na cerimônia. Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, foi convidado, mas não comparecerá. Da região Ásia-Pacífico, estão confirmados S. Jaishankar (ministro das Relações Exteriores da Índia), Penny Wong (ministra das Relações Exteriores da Austrália) e Takeshi Iwaya (ministro das Relações Exteriores do Japão). Os ex-presidentes Barack Obama, George W. Bush e Bill Clinton estarão presentes, assim como o ex-vice-presidente Mike Pence. No entanto, nenhum deles participará do tradicional almoço com o presidente eleito, de acordo com a NBC News.
A embaixadora do Brasil em Washington, Maria Luiza Viotti, representará o governo Lula (PT) na posse.
Sistema de segurança em Washington
Embora a cerimônia de posse do presidente eleito Donald Trump tenha sido transferida para o interior do Capitólio dos EUA devido à previsão de frio extremo, as medidas de segurança continuam rigorosas. Helicópteros equipados com câmeras de alta precisão estarão monitorando a cidade de cima. Essas câmeras são capazes de, por exemplo, identificar placas de veículos a uma altura de até 300 metros e transmitir imagens ao vivo para o centro de operações da polícia.
Além disso, o desfile inaugural também foi transferido para o ginásio Capital One Arena, no centro de Washington, que tem capacidade para cerca de 20 mil pessoas. A polícia local está em alerta máximo para controlar multidões que, apesar da mudança, ainda devem se reunir em diferentes pontos da cidade.
O local já recebeu um evento neste domingo, o comício da vitória que teve lotação máxima e contou com a presença de Donald Trump. Sobre a operação montada para esta segunda-feira, a chefe de polícia de Washington, Pamela Smith, disse a CBS News que os recentes ataques em Nova Orleans e a explosão de um Cybertruck em frente a um hotel de Trump em Las Vegas, no dia de Ano Novo, reforçaram a vigilância contra possíveis ameaças. "Eventos de terrorismo doméstico nos fazem aumentar nossos esforços de segurança," disse ela.
Marcha do povo e a participação menor nos protestos
Críticos do presidente eleito Donald Trump se reuniram em Washington, D.C., no sábado, em apoio a causas progressistas e para rejeitar sua iminente posse, marcada para segunda-feira. O evento, batizado de "Marcha do Povo" ("The People's March"), incluiu manifestações em praças públicas, com tambores, gritos de protesto e cartazes, antes de uma grande concentração no Memorial Lincoln. Ali, também foi realizada uma feira com mesas informativas de organizações locais, estaduais e nacionais.
A marcha seguiu os passos de uma manifestação histórica em 2017, a "Marcha das Mulheres" ("Women's March"), que aconteceu antes da primeira posse de Trump. Naquela ocasião, mais de 500 mil pessoas marcharam em Washington, com milhões participando de eventos semelhantes em todo o país, tornando-se uma das maiores manifestações de um único dia na história dos EUA. Este ano, no entanto, o movimento foi rebatizado como "Marcha do Povo" para ampliar seu apelo, mas a participação foi significativamente menor, com menos de 50 mil pessoas ? abaixo das expectativas dos organizadores. Embora a menor participação possa indicar uma redução na resistência ativa a Trump em comparação ao início de seu primeiro mandato, outros fatores, como o clima político atual e a capacidade de mobilização do movimento, também podem ter influenciado os números.
Eduardo Bolsonaro leva 16 parlamentares para a posse
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) teve uma agenda cheia em Washington, onde organizou uma comitiva de 16 parlamentares brasileiros para acompanhar a cerimônia. Ele se encontrou com várias figuras importantes, incluindo o presidente da Argentina, Javier Milei, com quem discutiu a relação entre Brasil e Argentina e comentou sobre a ausência de Jair Bolsonaro na posse, culpando o governo Lula. Milei também expressou seu apoio a Bolsonaro, chamando-o de "grande amigo".
Além disso, Eduardo Bolsonaro participou de eventos como um jantar oferecido pelo vice-presidente eleito J.D. Vance e o Baile Hispânico, que celebra a comunidade latino-americana nos EUA. No baile, o deputado teve a oportunidade de conversar com Don Jr., que perguntou sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro.
O deputado também teve um encontro com Steve Bannon, estrategista de extrema direita, que expressou apoio à família Bolsonaro e lamentou a ausência do ex-presidente na posse. Bannon destacou a importância de Eduardo Bolsonaro no movimento, chamando-o de um dos "indivíduos mais importantes", e sugeriu que ele poderia ser o próximo presidente do Brasil.
Além desses encontros, outros parlamentares brasileiros marcaram presença em um café da manhã e participaram das festividades em Washington. A comitiva brasileira também esteve presente no comício da vitória, na tarde deste domingo.
Agenda pós-posse de Trump
Após a cerimônia de posse, Trump deverá seguir para o Salão Oval, onde planeja começar a assinar ordens executivas sobre temas como imigração, política econômica e reforma do governo.
Além disso, a nova administração de Trump já preparou uma série de operações de imigração para as semanas seguintes à posse. De acordo com fontes familiarizadas com os planos, o governo de Trump iniciará a "Operação Safeguard" em Chicago, na próxima terça-feira (21), logo após a posse, como parte de seu objetivo de realizar a maior operação de deportação da história dos Estados Unidos. A operação, coordenada pelo ICE (Serviço de Imigração e Fiscalização de Alfândegas), deve durar até a segunda-feira seguinte, embora as datas ainda estejam sendo finalizadas e possam ser alteradas.
Após a divulgação do plano, Tom Homan, responsável pela segurança nas fronteiras de Trump, afirmou que as notícias sobre a operação aumentaram "os riscos para a segurança dos agentes". No entanto, ele deixou claro que Chicago ainda não foi descartada como local de ação, embora a decisão final não tenha sido tomada. A operação poderá contar com cerca de 150 agentes em Chicago, e o ICE está incentivando seus agentes a se voluntariar para participar da deportação de imigrantes ilegais.