Rachas e etanol: por que combustível é o favorito nas corridas ilegais
Um ponto em comum na maioria dos veículos que aceleram em rachas em São Paulo, como mostrou o UOL em um especial sobre as corridas ilegais, é o uso de etanol.
Toda a busca pelo aumento da potência dos motores recai sobre o combustível vegetal. Com ele, os preparadores conseguem extrair muito mais desempenho do que com a utilização da gasolina. As diferenças entre ambas as fontes de energia se refletem muito mais nos carros modificados do que nos originais.
Ainda que a injeção eletrônica moderna consiga, sozinha, "destravar" alguns ganhos de potência em qualquer automóvel abastecido com etanol, a otimização é ainda mais gritante naqueles que passam por modificações e recalibração. Isso tem tudo a ver com química e as reações.
Enquanto a gasolina precisa de 15 partes de unidades de massa de ar para cada unidade de massa de combustível, o etanol precisa de nove unidades de massa de ar para cada unidade de massa.
O etanol carrega moléculas de oxigênio em sua composição e seu poder calorífico é mais baixo do que o da gasolina. Entretanto, com o combustível vegetal, o motor necessita de um maior volume de líquido para que a mistura com o ar admitido seja perfeita.
Como isso tudo tem a ver com preparação?
O etanol é mais vantajoso até do que as gasolinas premium, pois ele resiste ainda mais à pré-detonação - que é a ocorrência da combustão descontrolada - e é mais eficiente para manter a normalidade da temperatura da câmara de combustão por mais tempo
Quando o carro é feito e utilizado para acelerar (inclusive quando a potência original foi multiplicada), fica mais protegido contra quebras catastróficas em três situações, permitindo que:
O preparador utilize componentes de alto desempenho ainda mais agressivos;
O calibrador "abuse" de parâmetros como avanço de ignição, pressão de turbo (quando utilizado) e mistura equilibrada entre ar e combustível;
O condutor utilize o carro mais vezes em regimes que são estressantes para o motor.
Qualquer carro pode ser convertido da gasolina para o etanol, inclusive aqueles equipados com sistema de injeção direta.
Atualmente, a maior parte dos fabricantes de componentes que funcionam em contato direto com combustível fornece peças com tolerância ao etanol, já que a gasolina brasileira conta com mais de 25% de combustível vegetal;
Injeções originais necessitam de um hackeamento e de equipamentos que traduzam as informações nela contidas para a modificação do seu conteúdo. Por isso, calibrar carros com injeção do tipo programável é mais fácil, rápido e eficiente.
Além disso, durante o processo de conversão de um combustível para o outro, a vazão dos componentes associados ao sistema de injeção deve ser sempre aumentada quando o carro deixa de utilizar a gasolina.
Dentro do universo da preparação, o "próximo passo" aos que utilizam o etanol é o metanol, cujas propriedades químicas permitem ainda mais que o preparador a "abuse" das peças de alto desempenho e da calibração.
Fontes: Carlos Roberto de Lana, professor e engenheiro químico; Fernando Henrique Ribeiro dos Santos, especialista em calibração de motores.
*Com reportagem de abril de 2023