Golpe de R$ 340 mil: 'Vi dinheiro render e acreditei; hoje me sinto idiota'
Incentivado por uma matéria publicada no site de um jornal de Minas Gerais, um produtor rural de Cotia (SP) resolveu investir seu dinheiro com um suposto especialista em transações financeiras —e acabou tomando um golpe, com prejuízo de R$ 340 mil.
José*, de 66 anos, viu sua vida financeira e situação emocional desmoronarem após ser vítima do golpe.
Me sinto um idiota por ter caído nisso, mas eu realmente acreditava que estava fazendo o melhor pela minha família.
José, produtor rural
Um grupo com 150 pessoas
Tudo começou quando José foi incluído em um grupo no WhatsApp chamado "Wealth Express Fase 2 C63", liderado por um homem que se apresentava como Carlos Oliveira, um suposto especialista em investimentos.
Ele se dizia professor e prometia retornos financeiros consideráveis. Parecia uma oportunidade segura. Achei que era a nossa chance de melhorar a situação, mas me enganei completamente.
José, produtor rural
A confiança em Oliveira foi reforçada por uma reportagem publicada no site do Jornal Montes Claros, de Minas Gerais.
"Vi aquela matéria e pensei: 'Não pode ser mentira'. A reportagem foi o que me fez acreditar nele. Parecia tudo muito real, muito seguro", disse. "Achei que estava fazendo o certo para garantir o futuro da minha família."
O grupo no WhatsApp tinha outros 150 "alunos". Sob orientação do "especialista", José fez diversas transferências via Pix e TED para diferentes CNPJs e bancos.
No total, ele transferiu mais de R$ 340 mil. "Cada centavo que enviei, eu acreditava que estava fazendo a coisa certa, mas era só uma farsa bem montada."
Além disso, segundo conta José, Oliveira orientou o agricultor a baixar um aplicativo chamado BXBS-GP, onde ele supostamente poderia acompanhar o crescimento dos investimentos.
Eu via o dinheiro rendendo no aplicativo. Cheguei até a criar um cartão virtual para sacar o dinheiro quando quisesse. Tudo parecia tão legítimo.
José, produtor rural
"Coloquei R$ 3.000, experimentei, meu saldo aumentou para R$ 6.000. Foi aí que comecei a acreditar. Quando vi, estava com US$ 300 mil na conta e mais R$ 250 mil. O negócio parecia muito bom."
'Tarde demais'
Quando José tentou fazer o saque do dinheiro, a operação foi barrada com o status "em processo de verificação".
"Foi nesse momento que percebi que tinha sido enganado, mas era tarde demais."
O golpe atingiu seu ápice quando o "professor" e seus assistentes desapareceram de repente. "Eles pararam de responder, apagaram o grupo de WhatsApp e sumiram", conta o produtor, frustrado com a falta de respostas.
"Achei que estava seguro com tantas pessoas no grupo, mas o golpe foi muito bem planejado."
'Só queria uma solução'
O problema piorou a situação do produtor rural, que já estava com dívida de R$ 800 mil no Banco do Brasil.
"Essa dívida já estava me deixando preocupado, e o golpe só piorou as coisas. Agora, além de tentar recuperar o que perdi, preciso lidar com essa dívida enorme."
O produtor, que vive da plantação de cana, enfrentava dificuldades devido à seca e à impossibilidade de fechar o seguro da safra.
"Eu sou do campo, não entendo muito de internet ou investimentos. Só queria uma solução para os problemas da minha família. E agora estou nessa situação terrível. A minha cabeça não para de pensar no que eu poderia ter feito diferente. Talvez, se eu tivesse sacado o dinheiro antes, ainda teria algo."
Investidor aparecia como talentoso
O produtor rural soube do suposto professor por meio de reportagens publicadas no site do Jornal Montes Claros. Pelo menos seis matérias apresentavam o "Projeto Wealth Express".
"Carlos Oliveira", suposto líder do grupo de investimentos, aparecia em reportagens publicadas na editoria de economia do veículo, o que, segundo o produtor rural, ajudou a dar credibilidade ao golpe.
Em outras matérias, o golpista era identificado com outro nome e trajetória. O mesmo Oliveira também era chamado de "Bailey Neymar", supostamente um ex-executivo do U.S. Bancorp, com uma carreira internacional de destaque em Hong Kong.
Em todas as histórias, ele seria um investidor talentoso, com capacidade fora do comum de aumentar o dinheiro aplicado.
Uma das fotos do "professor" publicadas no jornal é a mesma que ilustra o perfil de um profissional da França no LinkedIn, chamado Charles Williamson, que nunca postou nada naquela rede.
Caso em investigação
O Jornal Montes Claros foi contatado pelo UOL para prestar esclarecimentos sobre as publicações que mencionavam Carlos Oliveira, mas até o momento não respondeu aos questionamentos enviados.
O UOL também procurou o suposto especialista, Carlos Oliveira, pelo WhatsApp, mas não obteve respostas. O espaço segue aberto.
No dia 9 de agosto, José fez um boletim de ocorrência, e agora aguarda o trabalho da polícia. "É a única coisa que posso fazer agora: esperar e torcer para que a polícia consiga pegar esses criminosos."
Segundo a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo), o caso está sob investigação no 1° DP de Cotia. A vítima já foi ouvida e apresentou comprovantes do caso.
A polícia agora trabalha para identificar a autoria do crime e esclarecer os fatos. "Até o momento, não há informação de novas vítimas. A autoridade policial segue à disposição", afirma a pasta, em nota oficial.
Estou lutando com todas as forças para recuperar o que perdi, mas sei que o caminho é difícil. A sensação de impotência é terrível. Acreditei que isso nos daria um alívio financeiro, mas só trouxe mais sofrimento.
José, produtor rural
*Nome trocado para preservar a identidade da vítima
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