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É mais barato: falta muito para nossa casa ser feita com uma impressora 3D?

Projetos em andamento priorizam eficiência energética e hídrica, além do conforto térmico - Getty Images
Projetos em andamento priorizam eficiência energética e hídrica, além do conforto térmico Imagem: Getty Images
do UOL

Marcelle Souza

Colaboração para o UOL

22/05/2019 04h00

Resumo da notícia

  • A impressão 3D chegou à área da construção e pode reduzir custos no mercado
  • A ideia é imprimir paredes e partes inteiras da obra, economizando com mão de obra
  • Protótipos já foram mostrados em países como Estados Unidos e Itália
  • E a França já tem até uma casa ocupada que foi construída assim

Imagine que o projeto da sua casa saia do computador e vá direto para uma impressora 3D gigante, que além de dar forma às paredes com custo mais baixo, reduz o desperdício e diminui o prazo de entrega. Isso é o que prometem empresas que já lançaram construções desse tipo em países como França, Estados Unidos e Itália.

As empresas pretendem usar a tecnologia para dar forma a bairros inteiros nos próximos anos, a maioria para pessoas de baixa renda.

"A gente ainda não tem certeza se a técnica é realmente mais barata do que outras que já existem no mercado. Para isso, ela precisa ser testada em larga escala. O que sabemos é que a inteligência em si reduz o prazo e o uso de mão de obra", afirma o arquiteto Thiago de Andrade, assessor especial do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil.

Isso é possível porque as paredes são impressas em camadas de concreto, com grande precisão. Concluída essa etapa principal, a casa recebe uma finalização com os métodos tradicionais, com a instalação de portas, janelas e do telhado, por exemplo. "As paredes são grossas e essas construções costumam ser seguras", diz Andrade.

Seguindo uma tendência na arquitetura, alguns dos projetos em andamento priorizam ainda a eficiência energética e hídrica, e o conforto térmico, reduzindo assim também o custo de manutenção.

No Brasil, a startup Urban 3D chegou a anunciar que construiria prédios para pessoas de baixa renda usando esta tecnologia, mas o projeto não avançou por falta de recursos.

O arquiteto diz que, por aqui, há outros desafios, que vão além de tecnologias baratas de construção. "A produção não é o aspecto principal do déficit de moradias no Brasil. Falta uma abordagem sistêmica, uma política habitacional coerente, que leve em conta o planejamento, o custo da terra, o financiamento público", diz.

Ainda é difícil saber quanto custaria construir essas moradias por aqui, mas exemplos de outros países indicam como podem ser as nossas casas em um futuro bem próximo.

Casa em Nantes impressa em 3D - Reprodução - Reprodução
Na cidade francesa de Nantes, o governo e a universidade se uniram para a construção da primeira casa impressa em 3D
Imagem: Reprodução

O primeiro imóvel ocupado

A França tem a primeira casa habitada produzida em uma impressora 3D. O projeto, lançado em 2018, é uma parceria entre a prefeitura e a Universidade de Nantes, e foi ocupada por um casal com cinco filhos, que até então morava em uma habitação precária na cidade.

A casa levou 54 horas para ser impressa --foram necessários mais quatro meses para a instalação das janelas, portas e do telhado-- e custou 20% a menos do que um imóvel feito pelo método tradicional.

A construção tem 95 metros quadrados, quatro quartos e paredes curvas, para reduzir os efeitos da umidade. Para fazer cada parede, os arquitetos construíram moldes, que depois foram preenchidos com cimento.

Alguns sistemas da casa estão conectados à internet e o espaço é todo adaptado a pessoas com deficiência.

Feita na Itália, a casa foi construída com uma impressora 3D a partir de uma mistura de terra com resíduos da plantação de arroz - Divulgação/WASP - Divulgação/WASP
Feita na Itália, a casa foi construída com uma impressora 3D a partir de uma mistura de terra com resíduos da plantação de arroz
Imagem: Divulgação/WASP

Uma casa sustentável

Lançada em outubro de 2018 na Itália, a Gaia House foi construída com uma impressora 3D a partir de uma mistura de terra e resíduos orgânicos resultantes da plantação de arroz. A ideia dos arquitetos envolvidos no projeto era criar uma casa sustentável, que gerasse o mínimo de impacto ao ambiente durante a construção, mas também na manutenção do espaço.

O concreto foi feito a partir de terra, palha e casca de arroz picadas e cal. Segundo a WASP, empresa que construiu o protótipo, cada hectare de arroz irrigado pode se transformar em 100 metros quadrados de área construída com essa mistura.

As paredes da Gaia foram erguidas em dez dias e custaram 900 euros (aproximadamente R$ 4.000).

O resultado é um espaço que não precisa de aquecimento no inverno nem de ar condicionado no verão, já que o material garante conforto no frio e no calor. O telhado (também feito de material orgânico) é térmico e as janelas foram dispostas de modo aproveitar a luz natural.

A casa foi construída em menos de 48 horas por uma grande impressora chamada Vulcan - Divulgação/ICON - Divulgação/ICON
Nos EUA, um protótipo de casa foi construído em menos de 48 horas por uma grande impressora
Imagem: Divulgação/ICON

Moradias para comunidades pobres

No mesmo ano, foi apresentada a primeira casa construída por uma impressora 3D nos Estados Unidos. O protótipo, lançado em Austin, no Texas, é resultado de uma parceria entre a New Story, organização sem fins lucrativos que atende pessoas sem moradia, e a ICON, empresa de tecnologia voltada a grandes projetos em 3D.

A casa foi construída em menos de 48 horas por uma grande impressora chamada Vulcan, projetada para trabalhar em zonas onde há restrições de fornecimento de energia elétrica, água potável e mão de obra especializada.

Depois de anunciada a primeira casa, o objetivo do projeto é construir bairros de baixo custo em menos de 24 horas em países da América Latina. As empresas calculam que cada unidade sairá por US$ 6.000 (cerca de R$ 23,6 mil) e garantem que o material é três vezes mais resistente que o concreto comum --o que é muito interessante para áreas sujeitas a intempéries.

O primeiro bairro, projetado para abrigar 400 pessoas, deve começar a ser construído ainda neste ano em El Salvador. As empresas também estudam ampliar o projeto para outros países da América Latina, como Haiti, Bolívia e México.

Impressora 3d texas - Divulgação - Divulgação
Um dos três projetos finalistas para a construção de casas com impressora 3D em um bairro de San Antonio (Texas)
Imagem: Divulgação

Concurso de 'casas de impressora'

Outra parceria da ICON, dessa vez com a organização sem fins lucrativos 3 Strands Neighborhoods, deve lançar ainda este ano um bairro de casas para pessoas de baixa renda na cidade de San Antonio, no Texas, nos Estados Unidos. O escritório de arquitetura Overland Partners lançou um concurso para escolher os melhores projetos para o bairro.

A ideia era criar não só casas sustentáveis e acessíveis, mas também bonitas e conectadas com a vizinhança, promovendo as relações de comunidade. As construções levam em conta variáveis como eficiência energética, gerenciamento de água e menor impacto ao meio ambiente.

Em março deste ano, foram divulgados os três projetos finalistas, com os modelos de casas que vão compor o bairro em San Antonio.

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