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Passeio por Uppsala, próxima a Estocolmo, vai além das tradicionais atrações históricas

do UOL

Ingrid K. Williams

New York Times Syndicate

24/11/2012 08h12

"A primeira que vir o castelo ganha!" Essa era a brincadeira que eu e minha mãe fazíamos no trem que ia da casa do meu tio, nos subúrbios de Estocolmo, a Uppsala – uma viagem de 56 quilômetros que fazíamos todos os anos em que fomos para a Suécia durante a minha infância. Ela foi praticamente criada ali; foi onde fez o colegial e a faculdade, conheceu e se casou com o meu pai, me batizou quando eu era bebê.

Mesmo hoje, muito mais de uma década depois que desisti da peregrinação anual que fazia com minha mãe, toda vez que retorno a Uppsala sozinha, instintivamente procuro um lugar à janela do lado esquerdo do trem. Vejo as florestas e fazendas passarem rápidas pela janela até que surge Uppsala Slott, o castelo no topo de uma colina da mesma cor rosada do pôr-do-sol sueco.

Em minha visita mais recente, há alguns meses, não tive com quem disputar a primeira visão do castelo, já que meu marido apenas balançou a cabeça - mas, tirando esse meu costume mais que arraigado, tive a impressão de que todo o restou mudou.

Em vez da velha estação de trem, lotada e pitoresca, fomos recebidos por uma estrutura de vidro moderna, parte da reforma total na infraestrutura do transporte da cidade que levou seis anos e consumiu mais de US$ 200 milhões. O Uppsala Resecentrum, ou Centro de Viagem (como a estação de trem e terminal rodoviário são conhecidos), foi inaugurado oficialmente em dezembro, com escaladas rolantes rápidas e largos corredores subterrâneos. A estação faz parte da mudança drástica por que a quarta maior cidade da Suécia está passando.

A transformação mais radical aconteceu justamente na área ao seu redor, onde mesmo antes de os guindastes serem removidos, restaurantes e bares começaram a abrir as portas. É ali que fica a incrível fachada cristalina do novo centro cultural e sala de concertos, Uppsala Konsert & Kongress, e um elegante hotel Radisson Blu, inaugurado em maio.

Essas novidades só acrescentam riqueza a um passado histórico. Uppsala é famosa por abrigar uma das universidades mais antigas da Suécia, fundada em 1477, na margem oeste do rio Fyris, que divide a cidade - e uma das maiores catedrais da Escandinávia, a Uppsala Domkyrka. Essa estrutura majestosa de tijolos vermelhos, encimada por três pináculos negros, é de 1435 e guarda os túmulos do enigmático rei Gustav Vasa, do século 16, e de Carl Linnaeus, ou Carlos Lineu, botânico do século 18 (sem falar da minha pia batismal). Mais antigas ainda são tumbas reais que ficam a pouco menos de cinco quilômetros do centro, em Gamla Uppsala (Uppsala velha), envoltas em mitologia pagã e que datam do século 5 ou 6. 

"Uppsala é uma cidade rica em história", diz o prefeito Kenneth Holmstedt, durante visita ao seu escritório, "e isso implica em pontos negativos e positivos". A desvantagem de ter um passado tão rico é a relutância de muitos tradicionalistas em promover mudanças e permitir que a cidade (que atualmente conta com mais de 200 mil habitantes e um setor sólido de biotecnologia) evolua. Segundo Holmstedt, encontrar o equilíbrio entre a preservação dos monumentos históricos e a satisfação da demanda, cada vez maior, por moradia, transporte e educação não tem sido fácil, mas parece que Uppsala descobriu um meio-termo.

E o fez graças a uma população cada vez mais diversa: há uma geração, ela era basicamente homogênea; hoje, porém, mais de vinte por cento são imigrantes ou suecos de primeira geração com ambos os pais estrangeiros. "Caminhando pela rua você ouve outros idiomas e vê representantes de outras nacionalidades, e isso só enriquece a cidade", afirma Inga-Lena Andersson, da Secretaria de Comunicação. Holmstedt concorda. "Não dá para saber se o cara é um refugiado de guerra ou um professor convidado que vai dar uma palestra na universidade", brinca ele.

A influência internacional é visível por todo lugar, desde as barraquinhas de kebab e falafel no principal calçadão até o festival de reggae que, há dez anos, atrai um público imenso e alguns de seus maiores representantes. (Porém, a apreensão contínua de drogas manchou a reputação do evento a tal ponto que em 2012 ele foi cancelado.)

  • Rob Schoe­nbaum/The New York ­Times

    Fachada cristalina do Uppsala Konsert & Kongress, novo centro cultural e sala de concertos

A diversidade cada vez maior de Uppsala representa tanto um desafio quanto uma grande oportunidade para seu cenário social – bastante peculiar, por sinal, graças principalmente à universidade. Há tempos presença dominante na cidade, os estudantes tinham a tendência de se reunir para comer, beber e festejar em clubes exclusivos chamados "nações" - e o resultado é que as alternativas para o resto da população (inclusive os turistas) eram, no mínimo, limitadas.

Parece que isso começou a mudar, principalmente na área que cerca a estação de trem, onde cafés e bares despojados agora recebem não só o pessoal que sai do trabalho e quer um happy hour como jovens famílias, além de universitários. 

O lugar mais concorrido, sem dúvida, é o Stationen, uma mistura de bar temático, café e cervejaria, aberto há alguns meses. Sobre os antigos trilhos, a música ao vivo e as mesinhas ao ar livre atraem verdadeiras multidões ao prédio chamado Godsmagasinet. Foi ali, no pátio ensolarado do Brostroms Kafe, que bati um papo com Lovisa Wilhelmsson, uma estudante de Medicina que mora em Uppsala há treze anos.

"Tradicionalmente Uppsala era dividida pelo rio e essa região acabou meio que esquecida", diz ela, referindo-se à área do centro. Atualmente, porém, praticamente todos os seus restaurantes e bares favoritos estão próximos. "Não é só para aqueles que moram por ali, mas para gente de todo lugar."

Ela também conta que as opções de compras melhoraram infinitamente, com a inauguração, em 2011, de lojas das marcas suecas J.Lindeberg e Tiger of Sweden. Em março, o prédio da Prefeitura do século 18 conhecido como Radhuset, com vista para a praça principal da cidade, foi reaberto como uma loja de departamentos elegante com restaurante e bar sofisticados e três andares de lojas de grifes como Acne, Whyred, Dagmar e Marc by Marc Jacobs.

Até o rio Fyris, que já foi divisor da cidade, hoje reúne a população. Um dos grandes feitos das autoridades locais, explica Inga, foi reformar a área às suas margens, com calçadões em ambos os lados e instalações de arte que funcionam como bancos. "Nos últimos anos a Prefeitura investiu muito no cenário urbano", declara ela, referindo-se ao trecho agradável onde as pessoas hoje podem passear, comer ou simplesmente aproveitar o dia bonito.

Saboreando gravlax e batatas no Magnussons Krog, um restaurante bastante popular aberto na orla há dois anos, observei jovens pais empurrando carrinhos de bebê perto da água, universitários pedalando na ciclovia e mulheres cobertas por véus de mãos dadas com os filhos caminhando sob a copa das árvores.

  • Rob Schoe­nbaum/The New York ­Times

    Fachada cristalina do Uppsala Konsert & Kongress, novo centro cultural e sala de concertos

Muita gente ainda visita Uppsala por causa da catedral e do castelo, ambos visíveis de praticamente todas as regiões, mas agora há muitas razões para explorar a cidade. "Nem é mais preciso ir para Estocolmo", diz Lovisa.

Onde ficar

O hotel boutique mais luxuoso de Uppsala é o Villa Anna (Odinslund 3; 46-18-580-2000; villaanna.se; diárias a partir de 2.400 coroas suecas ou US$ 358 com o dólar a 6,70 coroas), inaugurado no fim de 2009, com onze suítes luxuosas e um belo restaurante numa mansão neorrenascentista do século 19 próxima à catedral.

Em maio, o Radisson Blu (Stationsgatan 4; 46-18-474-7900; radissonblu.com; diária do quarto duplo a partir de 1.090 coroas), com 185 quartos, abriu ao lado da estação de trem.

Onde comer e beber

Stationen (Olof Palmes Plats 6; 46-18-153-500; stationen.se).

Brostroms Kafe (Roslagsgatan 1; 46-18-604-550; brostromskafe.com).

Magnussons Krog (Drottninggatan 1; 46-18-140-018; magnussonskrog.se).

Kafferummet Storken (Stora Torget 3; 46-18-150-522) é um dos lugares favoritos para a "fika" (o equivalente sueco para "aquele cafezinho"), como também o clássico Landings (Kungsangsgatan 5; 46-18-130-161) que serve um bolo decorado de marzipã sensacional.

O que ver e fazer

Uppsala Slott (Drottning Christinas Vag; 46-18-727-2485; uppsala.se).

Uppsala Domkyrka (Domkyrkoplan; 46-18-430-3500; uppsaladomkyrka.se).

Gamla Uppsala (Disavagen; 46-18-239-300; raa.se).

Uppsala Konsert & Kongress (Vaksala Torg 1; 46-18-727-9000; ukk.se).

Radhuset (Stora Torget 10; 46-18-490-5200; radhusetuppsala.se).

Tradutor: Próxima a Estocolmo, cidade universitária de Uppsala atrai turistas por sua história

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