Novos chefes da diplomacia europeia e do Conselho Europeu chegam a Kiev para visita simbólica
A chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, e o presidente do Conselho Europeu, Antonio Costa, ambos recentemente nomeados, chegaram a Kiev no domingo para uma visita simbólica de apoio à Ucrânia, no primeiro dia de seus mandatos.
A viagem ocorre em um momento de tensões elevadas entre Moscou e os países ocidentais, após ataques da Ucrânia com mísseis americanos e britânicos sobre o solo russo, e o lançamento pela Rússia de um míssil hipersônico experimental, além de ameaças nucleares.
A nova equipe de liderança da União Europeia deseja demonstrar um apoio firme à Ucrânia, justamente quando suas forças estão retrocedendo na linha de frente, e diante da iminente chegada de Donald Trump à Casa Branca, o que gera temores de uma interrupção da ajuda americana a Kiev.
"Viemos para enviar uma mensagem clara: estamos ao lado da Ucrânia e continuamos a oferecer todo o nosso apoio", afirmou Costa aos jornalistas que o acompanhavam, incluindo a AFP.
Além das dificuldades na frente de combate, a Ucrânia também foi alvo, nas últimas semanas, de várias ondas de ataques às suas infraestruturas energéticas, que provocaram quedas massivas de energia com a chegada do inverno.
"A situação na Ucrânia é muito, muito grave, mas está claro que ela também tem um custo muito alto para a Rússia", garantiu Kallas, ex-primeira-ministra da Estônia, conhecida por ser uma defensora de uma linha dura contra Moscou.
Os dois responsáveis, que ocupam os cargos mais importantes dentro da UE, após a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, devem se reunir, entre outros, com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
Cessar-fogo?
Zelensky, que por mais de dois anos recusou categoricamente qualquer negociação com Vladimir Putin, parece ter suavizado sua posição recentemente.
Na sexta-feira, ele pediu à OTAN que oferecesse proteção às regiões da Ucrânia ainda controladas por Kiev, a fim de "encerrar a fase quente da guerra", e sugeriu que estaria disposto a abrir mão, de imediato, do objetivo recuperar os territórios ocupados pela Rússia.
"Se falamos de um cessar-fogo, (precisamos) de garantias de que Putin não voltará", afirmou Zelensky ao canal de televisão britânico Sky News.
Por sua vez, Vladimir Putin exige que a Ucrânia ceda quatro regiões do sul e do leste, que a Rússia ocupa parcialmente, além da Crimeia anexada em 2014, e renuncie à sua intenção de integrar a OTAN.
Kallas afirmou que "a garantia de segurança mais forte é a adesão à OTAN". "Se a Ucrânia decidir traçar uma linha em algum lugar, como podemos garantir a paz para que Putin não vá mais longe?", perguntou.
Contudo, a vontade da Ucrânia de aderir à Aliança Atlântica é justamente uma das razões citadas por Moscou para justificar a invasão do país, iniciada em fevereiro de 2022.
Os diplomatas da OTAN, no entanto, consideram que há poucas chances de a Aliança conceder à Ucrânia a condição de membro em breve, devido à oposição de muitos países que temem ser arrastados para uma guerra direta com a Rússia.
Segundo Kallas, a UE não deveria "excluir nada" no que diz respeito ao envio de tropas europeias ao solo ucraniano que possa ajudar a manter possível cessar-fogo, outra medida que envolve risco de conflito direto com Moscou.
"Devemos manter uma ambiguidade estratégica sobre isso", defendeu ela.
Convencer Trump
Desde o início da invasão russa em 2022, a Europa gastou cerca de US$ 125 bilhões (R$ 750 bilhões) para apoiar a Ucrânia, enquanto os Estados Unidos desembolsaram sozinhos mais de US$ 90 bilhões (R$ 360 bilhões), segundo um estudo do Instituto Kiel.
O futuro do apoio americano, no entanto, está sendo questionado, já que Donald Trump criticou os bilhões gastos com a Ucrânia e insinuou que queria pôr fim ao conflito o mais rápido possível.
Kaja Kallas garantiu que a UE usaria uma "linguagem transacional" para tentar convencer o bilionário americano de que apoiar Kiev é do interesse dos Estados Unidos.
"A ajuda à Ucrânia não é caridade. Uma vitória da Rússia encorajaria definitivamente a China, o Irã e a Coreia do Norte", argumentou ela.
Segundo Kallas, a UE continuará tentando colocar Kiev em uma posição "forte" no caso de negociações com Moscou. No entanto, ela admitiu que está ficando "cada vez mais difícil" para os 27 Estados-membros chegarem a um consenso sobre novas maneiras de aumentar seu apoio à Ucrânia.
"Esta guerra já dura algum tempo e está ficando cada vez mais difícil explicá-la aos nossos cidadãos", reconheceu ela, antes de acrescentar: "Mas eu não vejo outra solução".
(com AFP)