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Bandido da Luz Vermelha aterrorizou a capital paulista e foi personagem marcante no jornal "Notícias Populares"

2.set.2013 - À esquerda, Luz Vermelha exibe algemas após ser capturado em 1967; à direita, o criminoso durante entrevista em 27 de agosto de 1997, quando saiu da prisão. - Cícero Oliveira Neto - ago.67/Folhapress, Leonardo Colosso/Folhapress
2.set.2013 - À esquerda, Luz Vermelha exibe algemas após ser capturado em 1967; à direita, o criminoso durante entrevista em 27 de agosto de 1997, quando saiu da prisão. Imagem: Cícero Oliveira Neto - ago.67/Folhapress, Leonardo Colosso/Folhapress

do BOL, em São Paulo

02/10/2013 16h42

João Acácio Pereira da Costa, mais conhecido como “Bandido da Luz Vermelha”, foi personagem marcante nas páginas do jornal “Notícias Populares”, que deu destaque ao criminoso que causou pânico na capital paulista na década de 60 e costumava usar uma lanterna com facho de luz vermelho para intimidar as vítimas.

Entre os dias 23 de outubro de 1967 e 3 de janeiro de 1968, o “NP” transformou a vida do temido marginal em uma série de 57 capítulos. Antes disso, a publicação acompanhava a vida de João  Acácio que, antes do apelido que o consagrou no mundo do crime, foi chamado pelo jornal  de “Homem Macaco” e “Mascarado”.

Crimes e identidades do Bandido da Luz Vermelha

O primeiro crime de João Acácio data de 3 de outubro de 1966, quando o criminoso assassinou o estudante Walter Bedran, de 19 anos, que, ao tentar surpreender o bandido que acabara de invadir o quintal de sua residência no Sumaré, foi alvejado com um tiro na cabeça. Dez dias depois, Luz Vermelha matou o operário José Enéas da Costa, 23, vitimado durante uma briga em um bar na Bela Vista.

Em 7 de junho de 1967, o industrial Jean von Christian Szaraspatack, após surpreender Luz Vermelha, foi morto  em uma troca de tiros com o bandido. Um mês depois, o vigia José Fortunato, que tentou impedir a entrada do assassino na mansão em que fazia guarita, no bairro do Ipiranga, também foi morto pelo bandido.

João Acácio foi manchete pela primeira vez no “Notícias Populares” quando usou um macaco hidráulico para alargar as grades das casas que foram roubadas por ele. Na época, o jornal o chamou de “Homem Macaco”. Outra denominação atribuída ao bandido foi a de "Mascarado", que também ganhou destaque na publicação até os seus últimos delitos.

A história de Luz Vermelha remete à trajetória do norte-americano Caryl Whittier Chessman. Morto em 2 de maio de 1960, Chessman também foi apelidado de “Luz Vermelha” – nos Estados Unidos, “Red Light Bandit”. Assim como o criminoso brasileiro, Chessman costumava usar uma lanterna com facho de luz vermelho para intimidar as vítimas.

A vida de Luz Vermelha

João Acácio Pereira da Costa nasceu em 20 de outubro de 1942, em São Francisco do Sul (SC). Ao lado do irmão mais velho, Joaquim Tavares Pereira, Luz Vermelha foi criado por um tio após a morte precoce dos pais.

Assijm que foi preso em Curitiba (PR), em 1967, João revelou maus-tratos cometidos pelo tio tutor, José Pereira da Costa, na época em que ele e o irmão viviam sob a guarda dele em Joinville (SC). Segundo relato do bandido, os garotos eram submetidos a trabalhos forçados para se alimentarem. "Luz Vermelha" disse ainda que foram torturados física e psicologicamente pelo tio, que depois negou as acusações.

Depois de fugir da casa do tio, João Acácio foi viver nas ruas de Joinville, onde começou a praticar pequenos delitos como roubo de guarda-chuva na entrada de cinemas e roupas em lojas, para saciar sua vaidade. Nessa época, chegou a trabalhar como engraxate nas praças da cidade, mas não fugiu à marginalidade e até ficou manjado no município após passagens por roubos e furtos em algumas vezes ele recebia conselhos em vez de prisão por parte dos policiais.

O futuro "Bandido da Luz Vermelha" também tentou trabalhar em duas tinturarias. Na primeira, um beijo na filha do patrão, flagrado pelo pai da moça, o fez deixar o emprego. Na segunda, confiscou o terno de um cliente para ir ao cinema, mas foi visto pelo dono da roupa, que reclamou do ocorrido com o chefe de João Acácio, que acabou o demitindo.

Procurado pela polícia, João se mudou para Curitiba, mas não ficou lá por muito tempo, tanto que, no início dos anos 1960, fixou-se na Baixada Santista, em São Paulo, de onde passou a viajar para a capital paulista para praticar roubos a residências de luxo. Nesse período, em que fez do crime sua profissão, tornou-se um dos bandidos mais temidos de São Paulo, pela forma impetuosa com que agia diante das vítimas. Foram mais de cinco anos de perturbação pública, com dezenas de assaltos, estupros e homicídios na capital paulista.

"Luz Vermelha" foi preso no dia 7 de agosto de 1967, em Curitiba, após incessante investigação da polícia, que o identificou com o falso nome de "Roberto (da) Silva", que foi usado pelo bandido na última vez em que esteve preso em São Paulo, em 1966.

No dia de sua prisão, o "Notícias Populares" publicou em sua primeira página o retrato falado do criminoso, com uma longa legenda que dizia:

"Este é o homem que a polícia está caçando. É ele Roberto da Silva, o bandido da luz vermelha. Foi possível sua identificação através de levantamentos, comparações e análises de impressões digitais, coletadas em diversos locais de assaltos, principalmente nas mansões das ruas Agata e Rafael de Barros [zonal sul de São Paulo]. Há um verdadeiro exército de policiais em seu encalço. Calcula-se que sua prisão deva ocorrer nas próximas horas, caso ainda permaneça em qualquer bairro de nossa cidade".

Cerca de um mês antes, outro retrato falado fora publicado pelo jornal, mas as características físicas não lembravam em nada o verdadeiro "Luz Vermelha". A edição de 8 de agosto de 1967 do “NP” destacou na capa a manchete sobre a prisão do marginal:

"Preso Bandido da Luz Vermelha em Curitiba - com malas cheias de dinheiro". A reportagem relatava com detalhes toda a movimentação da polícia paulista até a caça do criminoso no Paraná.

O primeiro parágrafo da reportagem resumia: "Acuado pelos policiais paulistas, o mascarado conseguiu ludibriar a vigilância de que era alvo, fugindo ao cerco, tomando o rumo do Sul, passando por Santos. A polícia paulista, certa de que Roberto Silva [nome falso] procuraria homiziar-se no Paraná, imediatamente entrou em contato com as autoridades daquele Estado, alertando-as. Exercendo severa vigilância em todos os pontos por onde o marginal poderia estar no Paraná, os policiais locais conseguiram prender o perigoso bandido que já alcançara Curitiba, submetendo-o, então, a cerrados interrogatórios".

O criminoso, que gastou boa parte do dinheiro dos roubos com mulheres e boates na Baixada Santista, agora não passava de mais um número no sistema prisional brasileiro.

"Luz Vermelha" foi condenado em 88 processos, sendo 77 roubos, quatro homicídios e sete tentativas de homicídios, que renderam a ele 351 anos, 9 meses e 3 dias de reclusão em regime fechado. Porém a lei brasileira não permite que um preso permaneça mais do que 30 anos na prisão.

Logo nos primeiros meses de detenção, João Acácio escreveu de dentro da cela uma carta em que denunciou frequentes ameaças de morte que vinha sofrendo na prisão. O relato foi publicado na capa do 'NP' em 6 de outubro de 1967.

Fim da Linha

Em 26 de agosto de 1997, João Acácio ganhou as ruas após cumprir 30 anos de prisão, em idas e vindas entre a Penitenciária do Estado e a Casa de Custódia de Taubaté, onde realizava tratamento psiquiátrico. Três dias antes, uma liminar concedida pelo então segundo vice-presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, o desembargador Amador da Cunha Bueno Neto, o impediu de sair. O magistrado, atendendo a pedido do Ministério Público, alegou que era evidente que a sociedade não poderia ficar à mercê de eventuais atos cometidos pelo sentenciado. "Luz Vermelha" ficaria preso em Taubaté.

Porém, novos laudos médicos realizados pelos psiquiatras Charles Louis Kiraly e Norberto Zollner Júnior, Cunha Bueno revogou a liminar e "Luz Vermelha" ganhou as ruas. O despacho emitido pelo desembargador dizia: "Ante a clareza das conclusões, não se justificava a permanência do sentenciado na Casa de Custódia".

No dia seguinte, em 27 de agosto, o temido marginal voltou às manchetes do “NP”: "Luz Vermelha está solto".

"João Acácio Pereira da Costa, 55, o "Bandido da Luz Vermelha, está finalmente de volta às ruas. Depois de cumprir 30 anos e 4 dias de prisão, o bandido deixou a Casa de Custódia de Taubaté, ontem, às 6h da tarde", relatava o início da reportagem sobre a liberdade de Luz Vermelha.

João Acácio, seguiu para Joinville, para casa do irmão Joaquim Tavares Pereira. Depois de diversas desavenças com os familiares, procurou o tio José Pereira da Costa, o mesmo que fora acusado por ele de maus-tratos. Mas novos conflitos com o tio levaram "Luz Vermelha" a Curitiba, onde foi assassinado poucos meses depois.

Em 7 de janeiro de 1998, menos de cinco meses após sua liberdade, o “NP” noticiou a morte do bandido, que foi assassinado pelo pescador Nelson Pisingher, de 46 anos, que confessou o crime. Segundo Pisingher, o disparo foi efetuado para salvar a vida do irmão Lírio Pisingher, que fora agarrado por "Luz Vermelha" e ameaçado com uma faca após um desentendimento por causa de supostos assédios cometidos por Acácio contra a mãe e a esposa do pescador.

Segundo apuração do jornal, João Acácio morava de favor havia dois meses na casa de Nelson e, na época, o diretor do Hospital Regional de Joinville teria assinado o atestado de insanidade do ex-presidiário, dias antes de ele ser assassinado pelo pescador. De acordo com o  "NP", "Luz Vermelha" seria internado em um hospital de Florianópolis em poucos dias.

Dentro e fora das grades, os 55 anos de vida de João Acácio Pereira da Costa se resumiram em 55 anos de tragédia.

No cinema, o cantor Ney Matogrosso deu vida ao bandido; confira:

(Com informações do site “F5)

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