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Anna Muylaert inverte papéis de gênero em sátira: 'O dinheiro é machista'

"O Clube das Mulheres de Negócios" traz elenco de peso, com Irene Ravache, Grace Gianoukas, Cristina Pereira e mais - Aline Arruda
"O Clube das Mulheres de Negócios" traz elenco de peso, com Irene Ravache, Grace Gianoukas, Cristina Pereira e mais Imagem: Aline Arruda
do UOL

De Splash, em São Paulo

30/11/2024 05h30

Anna Muylaert, diretora de sucessos como "Que Horas Ela Volta?" e "Durval Discos", lançou nesta semana "O Clube das Mulheres de Negócios". O filme propõe uma inversão dos papéis de gênero em uma espécie de fantasia satírica.

Na história, os jornalistas Candinho (Rafael Vitti) e Jongo (Luís Miranda) precisam entrevistar um grupo de mulheres poderosas e endinheiradas em um clube de luxo. Eles se mostram acanhados, passivos, diante de mulheres que assediam, são arrogantes, avarentas, infiéis.

A ideia surgiu a partir de experiências da diretora com o sucesso e das tensões em torno de gênero que surgiram a partir de 2015. "Primeiro teve o golpe da Dilma, onde eu enxergo como um dos grandes fatores a misoginia. Em 2017, vem o 'Me Too', que é uma explosão. Acho que as mulheres do mundo todo lutavam com a mesma revolta que eu. Veio o filme 'Não Sou um Homem Fácil', que era mais ou menos a minha ideia. Resolvi ampliá-lo, não só falar da inversão de gênero, mas das várias facetas tóxicas da formação patriarcal", diz, em entrevista para Splash.

O machismo é proporcional à quantidade de poder envolvido. O dinheiro é machista. Quanto mais você se aproxima dele, mais resistência vai encontrar. Se você for eleita presidente, vai ser tirada com facilidade. [...] Todo mundo sofre com o machismo em todas as instâncias, mas quanto mais sucesso, maior essa força contrária. Anna Muylaert

Anna conta que o machismo que sofreu após o sucesso de "Que Horas Ela Volta?" também foi um fator importante. "Depois do sucesso do filme, vi vários amigos meus, diretores homens, fazendo sucesso similar e sendo muito bem tratados e honrados. Eu, por ser mulher, estava prestes a ser desonrada e maltratada por estar fazendo a mesma coisa. Senti uma revolta muito grande."

Eu virei uma figura conhecida em qualquer lugar do Brasil. Teve um lado bom, que foi o orgulho de fazer um trabalho reconhecido por toda a sociedade. Mas teve um lado violento. Na hora que me tornei uma pessoa reconhecida, sendo uma mulher que tem ideias, eu virei uma figura perigosa. Eu apanhei como nunca tinha apanhado. Anna Muylaert

Segundo ela, as mulheres do filme foram inspiradas em "arquétipos" e não necessariamente em pessoas específicas. Ela associa, por exemplo, a personagem de Katiuscia Canoro, obcecada por armas, a Bolsonaro, Trump e Netanyahu. "É uma tradição integralista do passado, essa direita inflamada. Não é exatamente uma pessoa", diz.

Mesmo com um elenco de peso, ela afirma que temeu uma disputa de ego nos camarins, o que não aconteceu. "Foi extrema harmonia. Todo mundo sacou que era um coletivo, que ninguém era a principal", conta. No elenco, atrizes como Cristina Pereira, Irene Ravache, Louise Cardoso, Katiuscia Canoro, Grace Gianoukas e Polly Marinho compõem o clube.

O pôster, questionado nas redes por trazer as atrizes estampadas e apenas os nomes dos atores nos créditos, foi uma solução para incluir todo o elenco. "A gente escolheu essa como a melhor imagem para o cartaz, em que elas estão dominando, mas eles são também superprincipais e não estão na foto. O jeito de eles estarem foi botar o nome deles", explica.

Anna diz que o objetivo do filme é divertir as mulheres e causar um "pensamento catártico" nos homens. "Para as mulheres tem um quê de vingança, para os homens tem um choque, um mal-estar. As mulheres se veem, todas têm uma história de assédio. Os caras ficam com vergonha", conta.

Em uma das cenas mais chocantes, o personagem de Vitti é assediado sexualmente pela personagem de Gianoukas. Ele sofre ao não ser acolhido por sua avó, que também faz parte do clube.

Com "Ainda Estou Aqui" podendo representar o Brasil no Oscar do próximo ano, Muylaert avalia as chances como grandes. "O brasileiro está gostando do filme porque fala da nossa história. É um filme importante, bem feito, caro. Uma reconstrução de época. A Fernanda [Torres] é incrível, o Selton [Melo] é maravilhoso. E há uma esperança, porque o Walter Salles já esteve no Oscar. Então, as pessoas confiam que ele pode trazer o 'fogo sagrado' do Oscar."

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