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Por que Ecosport morreu na sua terra natal, mas sobrevive nos EUA e Europa

Fim da produção do EcoSport em Camaçari (BA) foi anunciada no último dia 11; cria brasileira, SUV segue à venda nos EUA, na Europa e em outros mercados - Divulgação
Fim da produção do EcoSport em Camaçari (BA) foi anunciada no último dia 11; cria brasileira, SUV segue à venda nos EUA, na Europa e em outros mercados
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do UOL

Alessandro Reis

Do UOL, em São Paulo (SP)

21/01/2021 04h00

Prestes a sair de linha no Brasil assim que acabarem os estoques, após ter a produção encerrada em Camaçari (BA), o Ford EcoSport continua à venda em mercados exigentes como o norte-americano e o europeu.

Nascido e criado no Brasil, onde inaugurou a categoria de SUVs compactos nacionais em 2003, o utilitário esportivo se tornou modelo global a partir da segunda geração, que estreou aqui em 2012, com desenvolvimento também chefiado pelo time brasileiro da Ford.

Apesar de ter surgido e ser fabricado até pouco tempo atrás em nosso País, o Eco feito na Bahia nunca foi exportado daqui para Estados Unidos e Europa - que são abastecidos por veículos montados na Índia e na Romênia, respectivamente.

O que explica a aposentadoria do EcoSport na sua terra natal, enquanto ele sobrevive em outros países? E qual é o motivo de o modelo brasileiro não servir para mercados de "primeiro mundo"?

Para responder essas questões, UOL Carros conversou com Flavio Padovan, que trabalhou durante 30 anos na Ford - lá, ele ocupou o cargo de diretor comercial da operação de caminhões para a América do Sul e foi membro do conselho de administração local da marca.

'Prejuízo em cima de prejuízo'

Ford - Camaçari - Divulgação - Divulgação
Fábrica de Camaçari produzia EcoSport, Ka e Ka Sedan; estoques devem se esgotar em até 40 dias
Imagem: Divulgação

Segundo o executivo, os mesmos fatores que levaram à drástica decisão da Ford de encerrar as respectivas operações locais de manufatura explicam a continuidade do Eco no exterior.

Atualmente, ele é sócio da MRD Consulting, consultoria que atua nas áreas de planejamento e gestão estratégica.

Custos elevados de produção, prejuízos em sequência, falta de recursos para modernização de produtos e decisões equivocadas dos gestores no Brasil, de acordo com Padovan, fizeram EcoSport, Ka e Ka Sedan parar no tempo - e finalmente decretaram o fechamento das três fábricas remanescentes da oval azul no País.

"A Ford estava operando com prejuízo em cima de prejuízo havia muitos anos no Brasil. Houve lá atrás um planejamento que previa alta no volume de vendas, que nunca chegou ao nível pretendido, após sucessivas crises econômicas. Isso levou à ociosidade da fábrica de Camaçari, que vinha produzindo cerca de metade dos veículos para a qual foi projetada, de 250 mil unidades por ano. Manter linha de produção ociosa custa dinheiro".

Flavio Padovan destaca que a pandemia do coronavírus "só antecipou" a decisão de encerrar produção em solo brasileiro e diz "não ter dúvidas" de que o martelo já estava batido desde o fechamento da unidade de caminhões em São Bernardo do Campo (SP), em 2019.

"A Ford não tinha mais fôlego para investir na modernização dos seus produtos, que estavam defasados, incluindo o EcoSport".

Eco indiano e romeno são melhores

Ford EcoSport EUA - Divulgação - Divulgação
Importado da Índia, Eco vendido nos EUA é mais equipado; foram 60,5 mil emplacamentos no país em 2020
Imagem: Divulgação

Especificamente em relação ao SUV compacto, o consultor explica a razão dele seguir firme e forte no exterior.

"Lá fora, o Eco tem custo de produção compatível com o volume de vendas e aqui já não tinha. Sem contar o fato de ser continuamente modernizado e ajustado para os respectivos mercados. No exterior, sua manufatura é diferente e o produto, melhor", avalia.

Em 2020, o EcoSport teve pouco mais do que 60,5 mil emplacamentos nos EUA - volume modesto ao ser comparado com as mais de 226 mil unidades do Ford Explorer comercializadas naquele mercado no mesmo período.

Ainda assim, ficou bem acima dos 24 mil exemplares emplacados no Brasil durante o ano passado. Na Europa, o utilitário esportivo vendeu mais de 45 mil unidades.

O Eco estrangeiro também difere e muito do brasileiro no que se refere a tecnologia embarcada, segurança e equipamentos em geral.

Nos EUA, o EcoSport indiano tem a opção de motor 1.0 turbo Ecoboost de três cilindros e 125 cv, nunca utilizado nas versões brasileiras. Também traz oito airbags e freios a disco nas quatro rodas, além de alerta pré-colisão.

Aqui, o utilitário oferece no máximo sete airbags, e isso apenas a partir da configuração Titanium Plus, e vem sempre com tambores nas rodas traseiras.

Quanto a itens de série, o Eco dos EUA também é mais recheado e vem com sensor de chave até na versão de entrada, enquanto a tela da central multimídia disponível para a gama é de oito polegadas, contra sete do carro brasileiro.

Na Europa, o cenário é semelhante.

EcoSport volta como importado?

Em reportagem publicada recentemente, com base em informações fornecidas por um concessionário Ford sob condição de anonimato, relatamos que em outubro do ano passado a cúpula da Ford brasileira ainda contava com a produção da terceira geração do SUV em Camaçari.

Durante reunião com distribuidores realizada naquele mês, da qual nossa fonte participou, executivos da marca revelaram planos de fazer o novo EcoSport na fábrica baiana, juntamente com outro utilitário esportivo.

"[Na reunião, ouvimos que o investimento na Bahia] ainda não estava confirmado. Natan Vieira, vice-presidente de marketing, vendas e serviços, disse acreditar em novo ciclo de produtos brasileiros, embora não pudesse garanti-lo. A linha mudaria de patamar, com um EcoSport maior e pelo menos outro SUV".

Também em outubro de 2020, ao menos um protótipo do novo Eco foi flagrado rodando em testes no Brasil, utilizando a carroceria do Ka como disfarce.

A previsão de lançamento no Brasil era para o fim de 2021.

Maior e bem diferente do modelo atual, a próxima geração deve trazer motor turbo e uma série de aprimoramentos. Seu desenvolvimento prossegue na Índia, onde a produção deverá ser mantida, e em outros países, como a China.

Portanto, não dá para descartar a possibilidade de o EcoSport voltar à sua terra natal, porém provavelmente como modelo importado.

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