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Coronavírus: fim de quarentena para 500 passageiros de navio no Japão gera críticas

19/02/2020 09h41

Fim do pesadelo para 500 passageiros do navio Diamond Princess depois de 14 dias de quarentena a bordo do navio no Japão por causa da epidemia do coronavírus (Covid-19). Diagnosticados negativos, eles foram autorizados a desembarcar em Yokohama. Ao mesmo tempo, 79 novos casos de contaminação foram detectados nos outros passageiros, que continuam a bordo. A decisão das autoridades japonesas provoca controvérsia no país.

Correspondente da RFI no Japão

O desembarque dos passageiros do Diamand Princess começou com meia hora de atraso, mas tudo foi feito com muita discrição. As câmeras de televisão foram mantidas a vários metros do navio e as autoridades exigiram que as imagens fossem desfocadas, para impedir que as pessoas fossem identificadas.

Inicialmente, 3711 passageiros e tripulantes estavam no "coronacruzeiro", como o apelidou a mídia internacional. Além dessas primeiras 500 pessoas, outros confinados devem ser autorizados a deixar o navio até a próxima sexta-feira (21).

As condições para obter este precioso passaporte para a liberdade e a terra firme são rígidas. Somente os diagnosticados negativos nos testes de detecção da infecção, assintomáticos e que não tiveram contato com nenhum contaminado puderam deixar o navio. Eles receberam um certificado oficial indicando que não "representam nenhum risco de infecção do novo coronavírus e que não apresentavam nenhum sintoma da doença no momento da inspeção".

Ao desembarcar, os passageiros se comprometeram a informar as autoridades sobre a evolução de seu estado de saúde. Eles deixaram o porto de Yokohama em ônibus e táxis fretados.

Preocupação dos japoneses

Com os novos 79 casos confirmados nesta quarta-feira, subiu para 621 o número de passageiros contaminados no Diamond Princess, que segue sendo o principal foco da doença fora da China.

Os japoneses estão preocupados. Apesar das medidas oficiais anunciadas, eles temem que uma parte dos turistas que deixaram o navio estejam infectados, devido ao prazo de incubação do covid-19. Desde o anúncio do desembarque, comentários alarmantes começaram a se propagar nas redes sociais do país.

Eles temem que os desembarcados fiquem doentes nos próximos dias e contaminem outras pessoas em terra. Uma pesquisa publicada na terça-feira (18), revela os erros do governo na gestão dessa crise sanitária do Diamond Princess. Segundo a sondagem, a maioria dos japoneses acha que faltaram informações e explicações. Somente 39% dos entrevistados julga que o governo reagiu corretamente.

Situação caótica a bordo

Além do mais, a situação a bordo do Diamond Princess seria "completamente caótica", segundo o professor da divisão de doença infecciosas da Universidade de Kobe, Kentaro Iwata, que vistoriou o navio. Em vídeos postados na internet e visualizado por milhares de pessoas, ele diz ter tido "medo" a bordo. "Este navio é totalmente inapropriado para o controle da propagação de infecções. Não há separação entre as áreas onde o covid-19 não foi detectado e as áreas infectadas. As pessoas que trabalham no navio podem circular de uma área a outra, comer e telefonar" em qualquer lugar, explicou o médico.

O médico ficou tão impressionado que decidiu por conta própria respeitar uma quarentena de 14 dias para não contaminar sua família.

Diante das críticas, o porta-voz do governo japonês, Yoshihide Suga, declarou que "desde 5 de fevereiro, medidas rigorosas foram tomadas a bordo para prevenir a propagação da doença, principalmente a utilização de máscaras de proteção e a utilização de desinfetantes". Sobre a falta de separação entre as áreas contaminadas e não-infectadas do Diamond Princess, ele disse que o "governo faz o melhor que pode", garantindo que, segundo os especialistas, a situação está "sob controle".

Balanço na China

Segundo a atualização diária, a China chegou a 2.000 mortos e 74.000 pessoas contaminadas pelo coronavírus. Mas os novos casos de contágio (1.693) atingiram o número mais baixo da semana na quarta-feira.

Sem minimizar a "seriedade" do surto, o diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS) lembra que mais de 80% dos pacientes sofrem uma forma muito leve da doença, e a taxa de mortalidade permanece muito baixa, de 0,2% até 39 anos, aumentando gradualmente com a idade.

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