'Ainda Estou Aqui': visita leva mais de cem a túmulo de Eunice Paiva
Uma visita monitorada com direito a breve aula de história levou mais de cem pessoas ao túmulo de Eunice Paiva, neste domingo (26), no cemitério do Araçá, zona oeste de São Paulo.
Estudantes de história, aficionados por cemitérios e pessoas que foram especificamente homenagear Eunice, na esteira do sucesso do filme "Ainda Estou Aqui", estiveram no local.
O que aconteceu
A visita foi organizada pela Cortel, administradora do Araçá. A historiadora Viviane Comunale e o pesquisador Thiago de Souza também participaram da organização. A caminhada passou por outros jazigos do cemitério, como o da cantora Eliane de Grammont, vítima de feminicídio em 1981.
Thiago é idealizador do projeto "O que te Assombra?". A ideia é contar a história de pessoas e locais a partir dos cemitérios.
O Araçá é um cemitério que ele já provocava esse interesse das pessoas, mas depois do filme da Eunice Paiva, principalmente da Fernanda Torres ter tirado. Teve um aumento essa procura hoje. A gente tá com um público bacana, não é o público que a gente costumava ver aqui no Araçá" Viviane Comunale, historiadora
A visita deste domingo foi a quinta desde o início do projeto. Elas são mensais e começaram em outubro do ano passado. Para esta edição, foram abertas cem vagas, que foram preenchidas rapidamente: quando a organização encerrou o processo, havia 150 inscritos.
Flores para Eunice e aficcionados por visitas a cemitérios
A médica Mirella Rabelo, de 28 anos, compareceu especificamente para homenagear Eunice Paiva. Ela conta que já conhecia a história da advogada e ativista interpretada por Fernanda Torres, mas o sucesso do filme "Ainda Estou Aqui" a fez procurar o passeio.
É muito importante valorizar a memória das figuras da nossa história recente. A memória impede que cometamos os erros do passado.Mirella Rabello, médica, que depositou um buquê de flores em frente à placa com o nome de Eunice
Nem todos estavam lá especificamente por Eunice Paiva. Há no grupo frequentadores assíduos de visitas a cemitérios em várias cidades do estado de São Paulo, e figuras frequentes nos eventos de Viviane e Thago. É o caso do casal Juliano, 42, e Adriana, 53.
Nós já fomos em Campinas em um dos passeios do Thiago. Conhecemos o Thiago pelo Instagram. Como nós gostamos de passeios diferentes, nos encantamos com o tema. Adriana, professora de educação infantil
É uma oportunidade de conhecer a história das pessoas que estão aqui. Conhecer a história dos lugares também. E outras coisas divertidas também, lendas, contos de fantasma. São coisas bem interessantes que ele traz pra gente. Juliano, professor de história
Cuidados em meio à polarização política
Eunice Paiva não é a única ligação do cemitério do Araçá com a violência de Estado. O ossário do cemitério foi atacado e vandalizado em 2013, após receber 1.049 ossadas de vítimas da ditadura militar brasileira, encontradas na vala clandestina de Perus. As ossadas foram transferidas para um local designado pela Unifesp.
É parte da visita ao túmulo de Eunice uma breve aula de história. O público ouviu sobre a biografia da advogada e ativista e de como ela buscou a verdade sobre o assassinato do ex-marido, o deputado Rubens Paiva. Segundo Thiago de Souza, há alguns cuidados tomados nesse relato, e a experiência tem sido positiva.
Faço um esforço grande para não usar palavras que são gatilhos. Evito entregar a esses temas signos que são frequentemente usados para identificar esses assuntos. Se você tratar alguns temas de forma crua, as pessoas se afastam de você. Eu não quero abrir mão de ninguém. Thiago de Souza, historiador