Justiça suspende nomeação de presidente da Fundação Palmares
Rio de Janeiro, 5 dez 2019 (AFP) - O juiz federal Emanuel José Matias Guerra, da 18ª Vara Federal, no Ceará, suspendeu nesta quarta-feira (4) a nomeação do presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Nascimento de Camargo, por negar que exista discriminação racial no Brasil.
Em sua decisão, o juiz alegou que Camargo não pode estar à frente da fundação, que tem como finalidade "promover a preservação dos valores culturais, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira", devido a declarações que ofendem a quem a instituição deveria defender.
O magistrado citou em sua sentença alguns excessos de Camargo, que tem sido criticado por militantes do movimento negro desde a sua nomeação.
"Menciono, a título ilustrativo, declarações do senhor Sérgio Nascimento de Camargo em que se refere à [militante negra americana] Angela Davis como 'comunista e mocreia assustadora', em que diz nada ter a ver com a 'África, seus costumes ou sua religião', que sugere dar medalha a 'branco que meter um preto militante na cadeia por crime de racismo".
Camargo chegou a afirmar, ainda, em data não informada pelo juiz, que "é preciso que [a vereadora] Marielle Franco morra. Só assim ela deixará de encher o saco".
Marielle, uma mulher negra e homossexual eleita vereadora pelo PSOL, foi assassinada em 2018 na região central do Rio de Janeiro.
Por tudo isso, o magistrado concluiu que há "incompatibilidade entre as declarações apresentadas pelo nomeado em redes sociais e os elementos essenciais buscados pela citada Fundação Palmares".
Em outras publicações recentes, Camargo afirmou que "racismo real existe nos Estados Unidos" e que "a negrada daqui reclama porque é imbecil".
Também criticou a adoção de cotas raciais como estratégia de acesso ao ensino superior e afirmou que o Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, "precisa ser abolido", porque "'celebra' a escravidão de mentes negras pela esquerda".
Camargo foi nomeado presidente da Fundação Palmares pelo novo secretário da Cultura, Roberto Alvim, um diretor de teatro que lançou uma "cruzada" contra o chamado "marxismo cultural".
Alvim fez outras nomeações polêmicas, entre as quais a do presidente da Fundação Nacional das Artes (Funarte), Dante Mantovani, para quem ouvir rock leva ao satanismo, através do uso de drogas e do aborto.
"O rock ativa a droga, que ativa o sexo, que ativa a indústria do aborto. A indústria do aborto por sua vez alimenta uma coisa muito mais pesada que é o satanismo", afirmou Mantovani em um vídeo.
js/yow/mvv
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