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Chineses em Hong Kong se apavoram com escalada da violência

Bei Hu, Alfred Cang e Alfred Liu

21/10/2019 17h20

(Bloomberg) -- Com os protestos em Hong Kong cada vez mais violentos, os chineses oriundos do continente que vivem na cidade estão com medo.

Min, que se mudou para lá em 1995 e agora administra seu próprio fundo de hedge, conta que, devido à surpreendente escalada em direção ao caos, orientou seus filhos a não falar mandarim em público por medo de serem espancados nesta cidade onde predomina o idioma cantonês.

Com a disseminação das batalhas entre policiais e manifestantes vestidos de preto, Min, que pediu para não ter o sobrenome revelado, considera transferir seus negócios para Xangai e mandar sua família para o Canadá.

Os conflitos ? que incluem policiais em combate físico com manifestantes, estações de metrô incendiadas e um dispositivo explosivo improvisado detonado perto de um carro de polícia ? são interpretados com outros olhos pelos residentes nascidos no continente. Desde a transferência de Hong Kong do Reino Unido para a China, em 1997, uma multidão de profissionais do continente migrou para a cidade e hoje eles são mais de 1 milhão dentro da população de 7,5 milhões.

Os protestos começaram em oposição a um projeto de lei ? agora retirado ? que permitiria extradições para a China continental e evoluíram para exigências de mais democracia e um inquérito independente sobre táticas policiais. Em sua maioria, os manifestantes são pacíficos, mas os protestos carregam um tom de oposição à China. Bandeiras chinesas foram queimadas e foram pichadas pela cidade frases como "Chinazi" e "Hong Kong não é China!". Chineses de origem continental já foram atacados. No último fim de semana, gangues saquearam ou destruíram agências bancárias e lojas de origem chinesa.

No setor financeiro, os conflitos entre simpatizantes dos manifestantes e aqueles alinhados com Pequim podem ser tanto sutis quanto dramáticos.

Hao Hong, estrategista-chefe da Bocom International Holdings, visitou recentemente outra empresa para se reunir com profissionais da China continental. Ele entrou em um escritório e falou com eles em mandarim. Um colega rapidamente aumentou o volume da TV e o som do programa em cantonês se sobrepôs à conversa.

Voltando para casa

"Às vezes, as pessoas se recusam a conversar com quem se dirige a elas em mandarim", conta Hong, que vive na antiga colônia britânica há oito anos. "Todos estão muito sensíveis."

Além de não falar mandarim em público, chineses do continente relatam que pararam de usar o WeChat (serviço de mensagens da Tencent Holdings) abertamente.

Alguns começaram a pensar em voltar para a terra natal, mesmo após décadas vivendo na cidade, segundo uma mulher que trabalha em um fundo de hedge chinês e pediu para ser identificada apenas como Levy. Quem tem filhos teme a exposição na escola a sentimentos antigovernamentais, acrescentou ela.

"Estamos todos no setor financeiro", disse Levy. "Se for possível encontrar boas oportunidades em Xangai ou Pequim, agora existe um incentivo mais forte para voltar. "

--Com a colaboração de Manuel Baigorri, Moxy Ying, Lulu Chen e Iain Marlow.

Repórteres da matéria original: Bei Hu Hong Kong, bhu5@bloomberg.net;Alfred Cang Singapore, acang@bloomberg.net;Alfred Liu Hong Kong, aliu226@bloomberg.net

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