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Caso Moro: mensagens somem do Telegram quando app é deletado?

Ministro Sergio Moro fala durante audiência na Comissão de Constituição e Justiça do Senado para explicar as mensagens vazadas - Adriano Machado/Reuters
Ministro Sergio Moro fala durante audiência na Comissão de Constituição e Justiça do Senado para explicar as mensagens vazadas Imagem: Adriano Machado/Reuters
do UOL

Bruna Souza Cruz e Rodrigo Trindade

Do UOL, em São Paulo

20/06/2019 15h35

O ministro da Justiça Sergio Moro admitiu, na quarta-feira (19), em audiência na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, que pode ter sido o autor de algumas das mensagens trocadas com procurador Deltan Dallagnol e com outros membros do Ministério Público pelo Telegram. No entanto, Moro afirmou que seria impossível confirmar se todos os diálogos vazados pelo The Intercept, que dizem respeito a interferências do ex-juiz em processo da Lava Jato, são mesmo verdadeiros.

O principal argumento é que ele deixou de usar o aplicativo em 2017 e que não há nenhum histórico das conversas em seu celular. Mas será que não existe mesmo como comprovar se as mensagens vazadas são reais ou foram alteradas?

Pelas regras do serviço, as chances de encontrar uma cópia das mensagens são mínimas e dependem exclusivamente da manutenção das contas dos destinatários das mensagens de Moro. A seguir, explicamos o porquê dessa dificuldade.

Como o Telegram funciona?

Antes de mais nada é preciso entender o funcionamento do aplicativo de troca de mensagens. A plataforma utiliza duas formas de conversas (todas com criptografia).

  • Chat padrão: você manda uma mensagem e o conteúdo fica salvo nos servidores do Telegram. A ideia é que os usuários possam continuar mais facilmente as suas conversas em diferentes dispositivos acessando ao backup automático feito pela empresa. No caso do WhatsApp, por exemplo, o histórico fica armazenado em serviços externos (Google Drive ou iCloud) e precisa ser configurado pelo próprio usuário.
  • Chat secreto: as mensagens do bate-papo secreto não passam pelos servidores do Telegram. Elas só ficam nos celulares das pessoas envolvidas na conversa. Por isso, se alguém apagar uma mensagem enviada, ela some do dispositivo do destinatário. O chat secreto precisa ser iniciado manualmente e também permite que o usuário habilite as mensagens "autodestrutíveis", que somem após segundos, horas, dias ou uma semana.

Outra informação importante é que, por padrão, o Telegram tem um recurso que deleta as contas de usuários após seis meses de inatividade - o período pode variar de um mês a um ano, se o usuário decidir mudar.

Tem algum jeito de resgatar essas conversas?

Moro disse que "saiu" do Telegram em 2017. Embora não tenha detalhado se:

  1. Apenas deixou de usar o serviço;
  2. Somente deletou o aplicativo do celular;
  3. Se apagou a conta quando parou de usar o serviço.

Considerando o primeiro cenário, a conta de Moro permaneceria ativa (e com as conversas armazenadas nos servidores do Telegram) por no máximo 12 meses, já que a contas do serviço se "autodestroem" após um tempo de inatividade - por padrão é de seis meses, mas pode ser alterado pelo usuário.

No segundo caso, as conversas do ministro voltariam a aparecer desde que o período de inatividade não tenha excedido o tempo-limite para a desativação automática de conta, que pode ser configurado de um a 12 meses.

A exclusão imediata do histórico de conversas só aconteceria então se ele tivesse apagado de vez a conta (terceiro cenário).

As políticas de privacidade da empresa definem que apagar um perfil no serviço resulta na remoção de "mensagens, mídia, contatos e qualquer outro tipo de informação" que é armazenada na nuvem da empresa. Tal processo não pode ser desfeito e todo conteúdo armazenado na nuvem do serviço e no aparelho de quem encerrou a conta é deletado.

Ou seja, mesmo se considerarmos todos os cenários, as mensagens dele realmente não existem mais - nem no celular, nem na nuvem. Porém, ninguém conversa sozinho.

Levando em consideração que os diálogos vazados teriam sido feitos em grupo que usaram o chat padrão do Telegram, o acesso às mensagens poderia ser feito pelo app de outros envolvidos na conversa. Luis Corrons, especialista de segurança da Avast, explica como as conversas poderiam ser recuperadas.

"Conversas são armazenadas nos servidores do Telegram, pelo menos para os usuários que ainda não deletaram suas contas. Então elas poderiam ser baixadas de lá ou um juiz poderia pedir para o Telegram", explicou.

Fizemos um teste. Mesmo quando uma conta é desativada, as conversas que ocorreram podem ser lidas nos aparelhos dos destinatários (individualmente ou em grupo). A única coisa que muda é que, no lugar do nome de usuário, aparece "Conta deletada".

Só que a chance dos envolvidos na polêmica terem apagada de vez as contas no Telegram desde que o caso veio à tona é enorme. É improvável que haja algum aparelho com essas conversas dando sopa por aí, já que elas são excluídas do servidor na hora.

O procurador Deltan Dallagnol, por exemplo, afirmou nesta quarta que desativou sua conta no Telegram em abril deste ano.

A única opção seria alguns dos envolvidos na conversa não ter interesse em sumir com esse bate-papo...

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