Governador de SC faz fala racista sobre cidade: 'Se destaca em cor de pele'
O governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), afirmou nesta quarta-feira (15) que a cidade de Pomerode, no Vale do Itajaí, se destaca "pela cor da pele das pessoas". O município teve colonização alemã e 80% de sua população é branca.
O que aconteceu
A fala ocorreu enquanto o governador falava da Festa Pomerana, evento tradicional da cidade. Em tom de exaltação, Jorginho enumerou pontos que, segundo ele, destacam o município.
Pomerode se destaca pela beleza turística que tem. Pelas casas de enxaimel, pela cor da pele das pessoas, pela mistura, pelo que representa para todos nós.
Governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL)
Cidade tem 80% da população branca. Dos 34.289 habitantes, 27.562 se declaram brancos. Outros 6.652 se declaram negros (pretos e pardos), o equivalente a 19,3%. Os dados são do censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2022.
Pomerode é considerada a cidade "mais alemã" do Brasil. O município surgiu a partir da imigração alemã para o país no século XIX. Em 1863, pessoas vindas da Pomerânia montaram uma colônia localizada entre Blumenau e Joinville que, em 1959, se emanciparia, sendo elevada município em 2000. Parte da população da cidade ainda fala alemão.
Mello participou nesta quarta da abertura da 40ª edição da Festa de Pomerana. O tradicional evento celebra a cultura e as tradições dos imigrantes alemães que povoaram Pomerode. A festa é marcada por apresentações musicais e folclóricas, desfiles, competições típicas e gastronomia, atraindo milhares de turistas anualmente.
Professora da UFF (Universidade Federal Fluminense) avalia que fala de Mello é "infeliz e racista". De acordo com a diretora do ICHF (Instituto de Ciências Humanas e Filosofia) da instituição, Flávia Rios, o governador exaltou uma herança europeia e branca, em detrimento da pluralidade de grupos sociais do estado.
O UOL procurou a assessoria do governador para comentar a declaração. Assim que houver retorno, o texto será atualizado.
Se olhamos historicamente para os discursos, em relação à colonização europeia, eles sempre são muito positivos, e a cor é um dos elementos, a cultura, etc. Então, se está implícito aí uma ideia de superioridade, a ideia da cor da pele dessas pessoas, de afirmação implícita de uma superioridade.
Flávia Rios, diretora do ICH da UFF e pesquisadora do Núcleo de Pesquisa e Formação em Raça, Gênero e Justiça Social do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento)