Guilherme Boulos, candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, mal esperou servirem a sobremesa a Ricardo Nunes (MDB) para espinafrar o almoço do prefeito com Jair Bolsonaro (PL) nesta terça-feira (22).
Ele classificou o encontro como um "banquete" simbólico sobre de que lado está o atual prefeito da capital.
A churrascada com o ex-presidente e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) era uma bola quicando muito para alguém deixar de chutar.
Nunes lidera a corrida eleitoral em uma cidade onde 63% dos eleitores diziam em agosto não votar de jeito nenhum em um candidato apoiado por Bolsonaro.
Em 2022, o então presidente foi derrotado por Lula na disputa ao Planalto. Recebeu 49,1% dos votos, contra 50,9% do petista.
Na disputa deste ano, Bolsonaro emplacou o ex-PM Ricardo de Mello Araújo (PL) como candidato a vice na chapa de Nunes.
Em seguida, submergiu.
A pergunta Tostines é se ele sumiu porque não queria posar ao lado do atual prefeito ou se era o atual prefeito que não queria o aliado por perto.
Boulos nunca perdeu a chance de explorar a aliança do rival com o ex-presidente. E Nunes nunca teve coragem de defender Bolsonaro com todas as letras. Mesmo quando questionado pelo deputado sobre o que pensava da gestão do ex-presidente durante a pandemia. "Muita gente acertou e muita gente errou", despistava.
Uma das brechas foi quando o prefeito disse ser contra o passaporte da vacina para frequentar cultos.
Boulos explorou o episódio na sabatina UOL/Folha para questionar como teria sido a condução da crise sanitária na cidade se ele fosse o prefeito na época —era Bruno Covas (PSDB).
Durante o primeiro turno, Bolsonaro distribuiu acenos (e depois patadas) a Pablo Marçal (PRTB). A possibilidade de Nunes ficar fora do segundo turno reforçava a hesitação para entrar de cabeça na campanha. O risco era ficar com a pecha de derrotado.
Agora o risco se inverteu. Bolsonaro vê Nunes caminhar para a reeleição sem o dedo dele e com os louros todos para Tarcísio, possível candidato a presidente em 2026.
Era hora de tirar um naco do sucesso, para desespero de quem professa o mantra segundo o qual "em time que está ganhando não se mexe".
Uma solução apontada pelos articuladores da campanha —Baleia Rossi, coordenador da campanha e presidente do MDB, entre eles— era trocar um evento grande por um almoço discreto e fechado com a Confraria de Amigos do Vinho Eduardo Saddi (Caves) na tal churrascaria do Morumbi. Quem quisesse participar deveria pagar R$ 150 pelo "ingresso".
O constrangimento era o prato principal.
Nas redes, Ricardo Nunes se limitou a postar nos stories do Instagram uma imagem com Bolsonaro e Tarcísio. Ele classificou o almoço como "produtivo".
Bolsonaro até falou no evento. Mas pouco. Ao lado de Michel Temer (MDB) e com o número da legenda do aliado no peito, chamou Nunes de "prezado" e tirou o corpo fora dizendo que "a campanha aqui não é minha".
"Boa sorte, Ricardo", declarou com a empolgação de quem reza a unção dos enfermos.
Boulos não esperou o café esfriar para dizer que "do lado de lá, está quem está preocupado só com privilégios e com defender ideologia de ódio da extrema direita".
E que, ele sim, está "preocupado em mudar essa cidade olhando para aquelas pessoas que mais precisam."
Era um aceno para a parcela de eleitores que engolem Nunes, mas não aceitam Bolsonaro na capital.