Antártida está ficando verde em ritmo acelerado e isso é uma má notícia
Cientistas alertam para o aumento gradual da presença de plantas na Antártida, continente com características climáticas extremas. Segundo pesquisadores, o aquecimento global tem causado o derretimento das geleiras de forma mais acelerada do que o previsto, alterando o ecossistema e abrindo espaço para plantas como musgos. Fotos divulgadas em estudo recente ilustram a gravidade da situação na região.
O que aconteceu
Estudo analisou a quantidade de vegetação presente na Antártida. Segundo dados da pesquisa publicada na revista Nature Geoscience na sexta-feira (4), entre 1986 e 2021 a cobertura vegetal na Península aumentou mais de 13 vezes: de 0,863 km² para 11,947 km². A análise foi feita por especialistas das Universidades de Exeter e de Hertfordshire e do instituto British Antarctic Survey, todos da Inglaterra.
Nos últimos anos, o crescimento da área coberta por vegetação foi ainda mais acelerado. De acordo com os resultados identificados na pesquisa, entre 1986 e 2021 o aumento do verde na Antártida foi, em média, 0,317 km² por ano. Entre 2016 e 2021, esse marcador já indicava 0,424 km² anuais.
Com o desaparecimento do gelo, musgos têm tomado conta de parte da Antártida. De acordo com a pesquisa, a presença crescente de musgos na Antártida indica uma "mudança radical futura na biologia terrestre" da região.
As comunidades de musgo têm um papel central na conversão de superfícies rochosas nuas em solo com vegetação. Portanto, compreender a taxa, a natureza e os controles sobre as mudanças nos ecossistemas dominados por musgo é fundamental para abordar a questão [do esverdeamento da Antártida]
Trecho do estudo publicado na Nature Geoscience
O colapso da Antártida e seus riscos
Mais musgo, menos gelo. Segundo os registros do Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo dos Estados Unidos (NSIDC, na sigla em inglês), a Antártida anotou, em setembro, o segundo menor volume de gelo desde que o monitoramento por satélite foi implementado na região: a extensão máxima de gelo foi de 17,16 milhões de km².
Pesquisa elaborada pelos especialistas indica ainda que região está aquecendo mais rápido do que a média global. Episódios de calor considerado extremo estão acometendo a Península, derretendo geleiras como a Geleira Thwaites, conhecida como "Geleira do Juízo Final". O volume de gelo flutuando no mar que se desprendeu da Thwaites e de geleiras vizinhas mais do que dobrou entre as décadas de 1990 e 2010. Segundo projeções de cientistas, caso a "Geleira do Juízo Final" entre em colapso total, o nível dos mares em todo o mundo deve subir 65 centímetros.
Cientistas alertam para as eventuais consequências do cenário visto na Antártida. "[O aumento da vegetação no local] reflete um padrão mais amplo de 'esverdeamento' nos ecossistemas de clima frio em resposta ao aquecimento recente, sugerindo futuras mudanças generalizadas nos ecossistemas terrestres da Península Antárctica e no seu funcionamento a longo prazo", conclui o estudo.
Assim como o estudo publicado na Nature Geoscience, outras publicações analisam o futuro da Antártida. Estudo que contou com mais de 50 cientistas especializados em clima apresentou projeções em relação à camada de gelo na região até 2300. Publicado no início de setembro, o material indica que a parte ocidental da Península corre risco de colapso total.
Região tem impacto direto nas condições climáticas mundiais. Segundo a Marinha do Brasil, a Antártida é o "principal regulador térmico do Planeta", controlando as circulações atmosféricas e oceânicas que se espalham pela Terra. Dona de 90% das reservas de gelo do Planeta, a Antártida também concentra 70% da água doce em geleiras de todo o mundo.