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Antártida está ficando verde em ritmo acelerado e isso é uma má notícia

Conhecida pelos enormes icebergs, a Antártida vai ficando cada vez mais verde: vegetação vem cobrindo o território de forma acelerada. Acima, área da península chamada Ilha Barrientos (62°?S) - Divulgação/Nature Geoscience
Conhecida pelos enormes icebergs, a Antártida vai ficando cada vez mais verde: vegetação vem cobrindo o território de forma acelerada. Acima, área da península chamada Ilha Barrientos (62°?S) Imagem: Divulgação/Nature Geoscience
do UOL

Giovanna Arruda

Colaboração para Ecoa

08/10/2024 05h30

Cientistas alertam para o aumento gradual da presença de plantas na Antártida, continente com características climáticas extremas. Segundo pesquisadores, o aquecimento global tem causado o derretimento das geleiras de forma mais acelerada do que o previsto, alterando o ecossistema e abrindo espaço para plantas como musgos. Fotos divulgadas em estudo recente ilustram a gravidade da situação na região.

O que aconteceu

Estudo analisou a quantidade de vegetação presente na Antártida. Segundo dados da pesquisa publicada na revista Nature Geoscience na sexta-feira (4), entre 1986 e 2021 a cobertura vegetal na Península aumentou mais de 13 vezes: de 0,863 km² para 11,947 km². A análise foi feita por especialistas das Universidades de Exeter e de Hertfordshire e do instituto British Antarctic Survey, todos da Inglaterra.

Nos últimos anos, o crescimento da área coberta por vegetação foi ainda mais acelerado. De acordo com os resultados identificados na pesquisa, entre 1986 e 2021 o aumento do verde na Antártida foi, em média, 0,317 km² por ano. Entre 2016 e 2021, esse marcador já indicava 0,424 km² anuais.

Análise divulgada no estudo mostra a vegetação "se espalhando" pela Antártida. Da esquerda para a direita, os registros correspondem aos anos de 1986, 2004, 2016 e 2021; sendo que o último indica a tendência da vegetação no local segundo os pesquisadores - Divulgação/Nature Geoscience - Divulgação/Nature Geoscience
Análise divulgada no estudo mostra a vegetação "se espalhando" pela Antártida. Da esquerda para a direita, os registros correspondem aos anos de 1986, 2004, 2016 e 2021; sendo que o último indica a tendência da vegetação no local segundo os pesquisadores
Imagem: Divulgação/Nature Geoscience

Com o desaparecimento do gelo, musgos têm tomado conta de parte da Antártida. De acordo com a pesquisa, a presença crescente de musgos na Antártida indica uma "mudança radical futura na biologia terrestre" da região.

As comunidades de musgo têm um papel central na conversão de superfícies rochosas nuas em solo com vegetação. Portanto, compreender a taxa, a natureza e os controles sobre as mudanças nos ecossistemas dominados por musgo é fundamental para abordar a questão [do esverdeamento da Antártida]
Trecho do estudo publicado na Nature Geoscience

Musgos têm tomado conta de parte do ecossistema da Antártida. Na imagem acima, as elevações formadas por este tipo de planta na Ilha Ardley (62° S) - Divulgação/Nature Geoscience - Divulgação/Nature Geoscience
Musgos têm tomado conta de parte do ecossistema da Antártida. Na imagem acima, as elevações formadas por este tipo de planta na Ilha Ardley (62° S)
Imagem: Divulgação/Nature Geoscience

O colapso da Antártida e seus riscos

Mais musgo, menos gelo. Segundo os registros do Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo dos Estados Unidos (NSIDC, na sigla em inglês), a Antártida anotou, em setembro, o segundo menor volume de gelo desde que o monitoramento por satélite foi implementado na região: a extensão máxima de gelo foi de 17,16 milhões de km².

Pesquisa elaborada pelos especialistas indica ainda que região está aquecendo mais rápido do que a média global. Episódios de calor considerado extremo estão acometendo a Península, derretendo geleiras como a Geleira Thwaites, conhecida como "Geleira do Juízo Final". O volume de gelo flutuando no mar que se desprendeu da Thwaites e de geleiras vizinhas mais do que dobrou entre as décadas de 1990 e 2010. Segundo projeções de cientistas, caso a "Geleira do Juízo Final" entre em colapso total, o nível dos mares em todo o mundo deve subir 65 centímetros.

Geleira Thwaites, na Antártida. Derretimento das geleiras na Península tem sido mais rápido do que o esperado pela comunidade científica - Reprodução/Wikimedia Commons/Nasa - Reprodução/Wikimedia Commons/Nasa
Geleira Thwaites, na Antártida. Derretimento das geleiras na Península tem sido mais rápido do que o esperado pela comunidade científica
Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons/Nasa

Cientistas alertam para as eventuais consequências do cenário visto na Antártida. "[O aumento da vegetação no local] reflete um padrão mais amplo de 'esverdeamento' nos ecossistemas de clima frio em resposta ao aquecimento recente, sugerindo futuras mudanças generalizadas nos ecossistemas terrestres da Península Antárctica e no seu funcionamento a longo prazo", conclui o estudo.

Imagem mostra presença de musgo na Península Antártida, Norsel Point (64° S) - Divulgação/Nature Geoscience - Divulgação/Nature Geoscience
Imagem mostra presença de musgo na Península Antártida, Norsel Point (64° S)
Imagem: Divulgação/Nature Geoscience

Assim como o estudo publicado na Nature Geoscience, outras publicações analisam o futuro da Antártida. Estudo que contou com mais de 50 cientistas especializados em clima apresentou projeções em relação à camada de gelo na região até 2300. Publicado no início de setembro, o material indica que a parte ocidental da Península corre risco de colapso total.

Região tem impacto direto nas condições climáticas mundiais. Segundo a Marinha do Brasil, a Antártida é o "principal regulador térmico do Planeta", controlando as circulações atmosféricas e oceânicas que se espalham pela Terra. Dona de 90% das reservas de gelo do Planeta, a Antártida também concentra 70% da água doce em geleiras de todo o mundo.

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