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Brasileira de 18 anos vence feira mundial de ciências: "Parece mentira"

Juliana Estradioto conquistou a primeira colocação em uma das categorias da competição - Arquivo Pessoal
Juliana Estradioto conquistou a primeira colocação em uma das categorias da competição Imagem: Arquivo Pessoal
do UOL

Bruna Souza Cruz

Do UOL, em São Paulo

21/05/2019 12h48Atualizada em 27/05/2019 07h57

Ainda faltam palavras para Juliana Davoglio Estradioto, 18 anos, descrever as sensações dos últimos dias. Com muito choro e gritos de "É Brasil", ela subiu ao palco da maior feira internacional de ciências e engenharia para jovens cientistas pré-universitários como vencedora do primeiro lugar de uma das principais categorias do evento.

A premiação da Intel Isef (International Science and Engineering Fair) 2019 foi realizada na última sexta-feira (17) em Phoenix, Estados Unidos. Durante quatro dias de competição, 1.800 jovens pesquisadores de todo o mundo, com idades entre 15 e 19 anos, apresentaram projetos para uma comissão avaliadora de peso, formada por cientistas vindos de vários países.

O projeto desenvolvido por Juliana venceu a categoria de ciência materiais e envolve o aproveitamento de resíduos que sobram do processamento da macadâmia -- que seriam jogados fora -- para a produção de um material orgânico (membrana biodegradável) capaz de se transformar em embalagens e até curativos, substituindo qualquer material sintético.

Juliana Davoglio Estradioto, 18 anos, vencedora da Isef 2019 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Juliana não acreditou quando ouviu que seu projeto havia sido um dos vencedores
Imagem: Arquivo pessoal

"Parece mentira. Às vezes eu me belisco para ver se é verdade. É muito difícil representar o Brasil nesta feira. É mais difícil ainda vencer. São projetos legais do mundo inteiro e eu venci em primeiro na minha categoria. Olha, ainda estou sem palavras. É muito indescritível", contou a jovem, que retornou ao Brasil no domingo (19).

"Quando falaram Osório, o nome da minha cidade, eu ainda pensei 'deve ter outra cidade do mundo chamada Osório. Não deve ser verdade'. Quando subi no palco, o cara que estava apresentando começou a rir da minha cara. Eu só chorava. Eu realmente achava que seria impossível ganhar", lembrou.

A pesquisa de Juliana começou a ser realizada no ano passado, quando cursava o último ano do ensino médio técnico em administração do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, no campus Osório.

Ao longo de um ano, ela e sua orientadora, a professora Flávia Twardowsky, fizeram vários testes para verificar se a casca da noz poderia ser usada em algo sustentável, econômico e que tivesse relevância social. Segundo Juliana, 75% do processamento da macadâmia resulta sobras descartadas no lixo por não terem utilidade para as indústrias.

Ao final da pesquisa, concluída recentemente, Juliana conseguiu encontrar indícios de que a casca da macadâmia pode ser usada como uma espécie de alimento para bactérias, que são capazes de formar material orgânico (tipo um tecido) ao se desenvolverem.

Além da ajuda de sua orientadora, Juliana faz questão de destacar que o seu projeto só foi possível, pois recebeu bastante apoio de outras instituições. Uma delas é o Instituto de Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que cedeu o laboratório para que ela pudesse fazer os testes necessários.

Um asteroide para chamar de "seu"

Além do prêmio de US$ 3 mil dado pela Isef 2019, a jovem cientista será uma das vencedoras da competição a ter o privilégio de nomear um asteroide.

Ainda não se sabe qual de seus dois sobrenomes será usado, mas ela nem liga tanto para isso. O fato de um deles ficar marcado no universo já é motivo de comemoração.

Veterana de competições científicas

Apesar de ter apenas 18 anos, Juliana coleciona vários prêmios na área de ciências. Esta é a terceira vez que a pesquisadora participa da Isef. A primeira participação aconteceu quando ela tinha 16 anos, com um projeto sobre o uso da casca do maracujá para a criação de um plástico biodegradável.

Confira abaixo as conquistas da jovem obtidas "apenas" com a pesquisa do reaproveitamento da casca da macadâmia:

  • 1º Lugar na área Gerenciamento do Meio Ambiente na 33ª Mostratec (Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia). Com ela, Juliana recebeu o convite para participar do seminário de ciência para jovens em Estocolmo, na Suécia, em dezembro.
  • 1º Lugar na categoria Ciências Agrárias na 17ª da Febrace (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia), organizada pela USP (Universidade de São Paulo). No mesmo evento, recebeu o 2° lugar no Prêmio Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular. Por conta da primeira colocação, a jovem recebeu o credenciamento (convite para participar) da Isef 2019 com todas as despesas pagas.

Quem olha a trajetória de Juliana nem imagina que o grande sonho de infância era ser cantora. "Sempre quis, mas depois descobri que não era muito boa e desisti. Resolvi fazer pesquisa e sou melhor nisso", brincou.

Os sonhos mudaram e Juliana está agora determinada a fazer faculdade nos Estados Unidos. Durante todo o ano, ela vai se preparar para participar dos processos seletivos. Depois de formada, o objetivo é voltar para o Brasil e continuar fazendo pesquisas. Afinal, ela não quer abrir mão dessa paixão.

Fazer pesquisa, viajar, ser reconhecida. Tudo isso foi um mundo de descobertas. Quero estudar forma, mas vou voltar para o Brasil. Sinto que aqui é o meu lugar. Quero continuar sendo pesquisadora e trabalhar com divulgação científica. Eu sei o quanto a educação e a ciência transformaram a minha vida. Quero que outros jovens tenham a oportunidade de conhecer isso Juliana Davoglio Estradioto

Parte da delegação brasileira que participou da edição deste ano da Isef - Divulgação - Divulgação
Ao todo, 29 jovens pesquisadores brasileiros foram credenciados para a edição deste ano da Isef
Imagem: Divulgação

O Brasil fez bonito lá fora

Além de Juliana, outros 28 jovens cientistas brasileiros participaram desta edição da Isef. Ao todo, o Brasil conquistou oito prêmios. Por conta disso, fomos o país mais premiado da América Latina e o 10º na colocação mundial.

Confira abaixo todos os vencedores brasileiros:

Os grandes prêmios

Juliana Davoglio Estradioto, 18 anos

  • Prêmio: Primeiro lugar na categoria Materials Science
  • Projeto: CATCHPOOH: aproveitamento de resíduos para biossíntese de celulose e confecção de embalagem
  • Escola: IFRS - Campus Osório, Osório - RS
  • Credenciada pela Febrace

João Pedro Silvestre Armani, 16 anos

  • Prêmio: Terceiro lugar na categoria Plant Sciences
  • Projeto: Revestimentos comestíveis na pós-colheita de laranjas
  • Escola: Colégio Gabriela Mistral, Palotina - PR
  • Credenciado pela Febrace

Muriel Schiling Krohn, 19 anos, e Maria Helena Ferreira, 19 anos

  • Prêmio: Quarto lugar na categoria Biochemistry
  • Projeto: Estudo e caracterização da atividade antimicrobiana do estigma do milho (Zea mays)
  • Escola: Fundação Liberato Salzano Vieira da Cunha, Novo Hamburgo - RS
  • Credenciadas pela Mostratec

Ekarinny Myrela Brito de Medeiros, 18 anos

  • Prêmio: Quarto lugar na categoria Translational Medical Science
  • Projeto: Desenvolvimento de cateter bioativo proveniente do aproveitamento do líquido da castanha do caju (Anacardium Occidentale) como alternativa na prevenção de infecção sistêmica.
  • Escola: EE Prof. Hermógenes Nogueira da Costa, Mossoró - RN
  • Credenciada pela Febrace

Prêmios especiais

Ekarinny Myrela Brito de Medeiros, de 18 anos

  • Prêmio: primeiro lugar da Patent and Trademark Office Society
  • Projeto: Desenvolvimento de cateter bioativo proveniente do aproveitamento do líquido da castanha do caju (Anacardium Occidentale) como alternativa na prevenção de infecção sistêmica.
  • Escola: E.E. Prof. Hermógenes Nogueira da Costa, Mossoró - RN
  • Credenciada pela Febrace

Bruna da Silva Cruz, de 19 anos

  • Prêmios: segundo lugar da Patent and Trademark Office Society e Prêmio de Machine Learning em Aplicações de Bioengenharia do Mundo Real do King Abdul-Aziz & his Companions Foundation for Giftedness and Creativity
  • Projeto: Fast Braille - Impressora com múltiplas funções para auxiliar a escrita de deficientes visuais II
  • Escola: Fundação Liberato Salzano Vieira da Cunha, Novo Hamburgo - RS
  • Credenciada pela Mostratec

Muriel Schilling Krohn, de 19 anos, e Maria Helena Ferreira, de 19 anos

  • Prêmio: Bolsa de Estudos da ASU (Universidade Estadual do Arizona) renovável por até quatro anos.
  • Projeto: Estudo e caracterização da atividade antimicrobiana do estigma do milho (Zea mays)
  • Escola: Fundação Liberato Salzano Vieira da Cunha, Novo Hamburgo - RS
  • Credenciadas pela Mostratec
Errata: este conteúdo foi atualizado
O nome da escola de Novo Hamburgo (RS) citada na reportagem é Liberato Salzano Vieira da Cunha, e não Liberato Souza Vieira da Cunha.

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