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Sem provas, Bolsonaro cita vírus de laboratório e lança dúvida sobre China

do UOL

Eduardo Militão

Do UOL, em Brasília

05/05/2021 13h27Atualizada em 05/05/2021 17h09

Sem citar nominalmente a China e sem apresentar provas, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou hoje que o coronavírus pode ter sido criado a partir de um vírus de "laboratório". Contrariou, dessa forma, a OMS (Organização Mundial da Saúde), que investigou as origens do coronavírus e disse que é improvável que a doença tenha surgido a partir de um vírus de laboratório — a informação foi publicada pela agência de notícia estatal do próprio governo de Jair Bolsonaro.

É um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em laboratório ou nasceu por algum ser humano ingerir um animal inadequado. Mas está aí. Os militares sabem o que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será que não estamos enfrentando uma nova guerra?"
Jair Bolsonaro, em cerimônia no Palácio do Planalto

"Qual o país que mais cresceu o seu PIB? Não vou dizer para vocês. Que que está acontecendo com o mundo todo, o seu povo, com sua gente, com nosso Brasil?", acrescentou.

Até 3 de março de 2021, a China foi o país que apresentou maior crescimento econômico em 2020 dentre aqueles que haviam divulgado o índice, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Os demais apresentaram PIB negativo no período, como o Brasil, com queda de 4,1%.

Em fevereiro deste ano, a Agência Brasil noticiou que o especialista em segurança alimentar e doenças animais da OMS, Peter Ben Embarek, fez um resumo da investigação realizada por uma equipe de cientistas chineses e da OMS sobre as possíveis origens do novo coronavírus em Wuhan, a cidade chinesa onde os primeiros casos de covid-19 foram diagnosticados.

A equipe da OMS, que inclui especialistas de dez países, visitou hospitais, institutos de pesquisa e o mercado de frutos do mar onde foram diagnosticados os primeiros casos. "As descobertas sugerem que a hipótese de se tratar de um incidente em um laboratório é extremamente improvável", declarou Embarek, na ocasião.

Reação de diplomatas chineses

O UOL apurou que diplomatas da China no Brasil prestaram atenção às novas declarações de Bolsonaro. Mas, como fizeram em ocasiões anteriores, evitaram comentar o assunto publicamente.

Nem sempre a paciência dos chineses foi assim. O maior parceiro comercial do Brasil mandou recados na semana passada. O embaixador da China no país, Yang Wanming, disse, há 15 dias, que a relação havia melhorado com a saída de Ernesto Araújo do comando do Itamaraty.

Hoje, Bolsonaro elogiou Araújo, que deixou o governo após pressão do Congresso por seus atritos com a China e por sua atuação durante a pandemia de coronavírus.

No ano passado, o filho do presidente Eduardo Bolsonaro, culpou os chineses pelo coronavírus. A China protestou. Araújo, então, engrossou as críticas aos chineses e defendeu o filho do presidente. Citou a "insatisfação do governo brasileiro" com o país asiático.

Entre um atrito e outro, os chineses alternaram críticas abertas e silêncio. No segundo caso, um deles disse ao UOL que era preferível não rebater Jair Bolsonaro e seus filhos porque a ciência e os fatos mostrariam que eles estavam equivocados.

Antes da pandemia, economia brasileira desacelerou

Apesar de o crescimento da China ser positivo em 2020, ele foi o menor desde 1976. Em 2019, antes da pandemia de covid ser decretara pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a economia chinesa cresceu 6,1%.

Aquele foi o primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro, quando o PIB brasileiro foi de 1,1%. Apesar de não haver pandemia de coronavírus em 2019, a taxa foi menor que a alcançada no último ano da gestão de Michel Temer (MDB). Em 2018, a economia brasileira cresceu 1,8%, de acordo com o IBGE.

Hoje, Bolsonaro disse que o Brasil - com PIB negativo de 4,1% no ano passado - foi um "um dos países que menos encolheu por ocasião da pandemia". Os Estados Unidos tiveram retração de 3,5%. O Reino Unido teve queda de 9,9%, assim como França (-8,2%), Alemanha (-5%) e Japão (-4,8%)

CPI vai mostrar destino de "bilhões", diz Bolsonaro

No discurso, Bolsonaro disse que a CPI será uma oportunidade para vai mostrar o que "alguns" fizeram com "bilhões de reais" enviados pelo governo federal a estados e prefeituras. Ele também pediu que sejam convocados profissionais que defende o chamado "tratamento precoce". Normalmente, o termo é usado para um grupo de remédios sem comprovação científica para tratamento do coronavírus, dentre eles a cloroquina e a ivermectina.

Ontem, a medicação foi criticada pelo ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), que deixou o governo por divergir do presidente na condução da pandemia. Hoje, Bolsonaro disse que quem é contra o chamado "tratamento precoce" e não oferece alternativas é "canalha".

Ele também disse que a CPI deve analisar o efeito de "doses cavalares" da hidroxicloroquina no enfrentamento à pandemia em Manaus (AM). A capital foi a primeira a viver a segunda onda de coronavírus no Brasil. Lá, desenvolveu-se uma cepa brasileira do vírus, mais contagiante que a primeira.

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