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Ex-PM disse que não percebeu morte de João Alberto e achou que ele fingia

Giovane Gaspar da Silva, segurança e policial que participou das agressões a João Alberto Silveira Freitas no Carrefour - Reprodução/TV Globo
Giovane Gaspar da Silva, segurança e policial que participou das agressões a João Alberto Silveira Freitas no Carrefour Imagem: Reprodução/TV Globo
do UOL

Hygino Vasconcellos

Colaboração para o UOL, em Porto Alegre

04/12/2020 22h53Atualizada em 05/12/2020 00h38

O ex-policial militar temporário Giovane Gaspar da Silva, 25, afirmou em depoimento à polícia que acreditava que João Alberto Silveira Freitas, 40, "estivesse fingindo", ao não perceber mais reação da vítima enquanto era imobilizada. Momentos depois, foi constatado o óbito de Beto, como era conhecido, após por ter sido espancado por Silva e pelo segurança Magno Braz Borges, 30, em 19 de novembro. Os dois estão presos, assim como a agente de fiscalização do Carrefour Adriana Alves Dutra, 51 anos.

"Após imobilizar João Alberto, ou seja, ele parou de se debater, ficou com receio de soltá-lo eis que era uma pessoa forte e poderia novamente agredi-lo. Constatando que João Alberto havia parado de reagir e que, ao olhar para seu rosto, estava com os olhos abertos, pensou que ele estivesse fingindo e que, a qualquer momento, poderia voltar a reagir", segundo trecho de depoimento de Silva.

Em seguida, um funcionário da empresa de segurança Vector conferiu os sinais vitais e disse que Beto estava respirando. Mas um cliente se aproximou e observou que ela havia falecido. "Percebendo que João Alberto perdera os sentidos, acreditando que pudesse ter desmaiado, pediu que novamente fosse verificado seus sinais vitais, ao que foi feito por um senhor que confirmou que não foram mais detectados (sinais vitais)", disse Silva à polícia.

O ex-PM reconheceu que ficou "muito nervoso" após saber que o cliente havia morrido e questionou Adriana sobre o resgate do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) — ela disse que estava a caminho.

O depoimento do ex-PM foi prestado na semana passada e durou cerca de quatro horas. Hoje, Silva foi expulso da Brigada Militar por ter cometido uma transgressão grave.

Para a polícia, o investigado relatou que começou a trabalhar no mercado "para complementar renda" e que aquele era o primeiro dia - ele mencionou que foi ao Carrefour em 18 de novembro para "saber quais seriam suas atividades". No depoimento, o ex-PM afirmou que "causou-lhe espanto" o soco desferido por Beto e que agiu para tentar imobilizá-lo, que "não queria machucar", nem tinha "intenção de causar a morte" da vítima.

Negou ainda ter escutado a vítima falar que não estava conseguindo respirar e que tenha colocado os joelhos nas costas de Beto, apesar de registrado em vídeo.

Caso João Alberto

João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, foi morto em 19 de novembro no Carrefour da zona norte de Porto Alegre. Segundo a esposa dele, Milena Borges Alves, 43, o casal foi ao supermercado para comprar ingredientes para um pudim de pão e adquirir verduras. Gastaram cerca de R$ 60. Ela conta que ficaram poucos minutos no Carrefour e que Beto saiu na frente em direção ao estacionamento. Ao chegar ao local, Milena se deparou com o marido se debatendo no chão. Ele chegou a pedir ajuda, mas a esposa foi impedida de chegar perto dele.

João Alberto era casado e pai de quatro filhas de outros casamentos. Na foto, ele com a esposa e a enteada - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
João Alberto Silveira Freitas e a esposa, Milena Borges Alves (e); ele foi espancado em uma loja do Carrefour em Porto Alegre e morreu
Imagem: Arquivo pessoal

Imagens de câmeras de segurança mostram a circulação de Beto na área dos caixas e as agressões no estacionamento. A gravação mostra Beto desferindo um soco no PM temporário, o que é seguido por chutes, pontapés e socos do segurança e do PM temporário.

A maior parte das imagens mostra a imobilização com uso da perna flexionada do segurança sobre as costas de Beto. Nos Estados Unidos, George Floyd foi mantido por 7 minutos e 46 segundos com o joelho do policial sobre o pescoço dele, segundo os promotores de Minnesota.

No mesmo dia da morte de Beto os dois seguranças foram presos. Cinco dias depois ocorreu a prisão da fiscal de fiscalização do Carrefour Adriana Alves Dutra, 51 anos.

A morte de Beto gerou protestos em Porto Alegre e em outras partes do país. Na capital gaúcha, um grupo de 50 pessoas conseguiu acessar o pátio do mercado, mas recuou após atuação da Brigada Militar. Uma pessoa conseguiu invadir e pichou a fachada do prédio. Outros colocaram fogo em materiais.

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