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Anunciados boicotes à entrega do Nobel a autor Peter Handke

Darko Janjevic (av)

08/12/2019 14h42

Chefe da diplomacia kosovar acusa escritor austríaco de ser "amigo e apoiador" das políticas do criminoso de guerra sérvio Slobodan Milosevic. Atitudes polêmicas de Handke também reforçam a resistência à premiação.Escolhido para o Prêmio Nobel da Literatura de 2019, o controverso Peter Handke, receberá a distinção nesta terça-feira (10/12), em Estocolmo. O ministro do Exterior do Kosovo, Behgjet Pacolli, anunciou que o embaixador do país boicotará o evento, e conta que o da Albânia fará o mesmo, por o autor austríaco ser um "amigo e apoiador" das políticas do ex-líder sérvio Slobodan Milosevic.

Esse político nacionalista governou a Sérvia e controlava as Forças Armadas nacionais durante a sangrenta dissolução da Iugoslávia na década de 1990, inclusive a guerra do Kosovo, de 1998 a 1999, em que o país de maioria albanesa se desligou da Sérvia. Milosevic morreu em 2006, enquanto respondia a processo por crimes de guerra.

Handke, que reiteradamente expressara aprovação à Sérvia durante as guerras, fez uma eulogia no funeral do líder. Em certa ocasião, ele descreveu o genocídio de Srebrenica – em que tropas comandadas pelo bósnio-sérvio Ratko Mladic mataram cerca de 8 mil homens e adolescentes bosníacos – como "massacre de soldados muçulmanos".

Mais tarde o escritor revisou sua posição, descrevendo o episódio como "o pior crime contra a humanidade" desde a Segunda Guerra Mundial. A decisão de conceder-lhe o prêmio de literatura provocou protestos em toda a Europa e a resignação de dois membros do Comitê do Nobel. Um membro da Academia Sueca, o historiador e autor Peter Englund, também anunciou que boicotaria a cerimônia.

Depois de ser indicado para o prêmio em novembro, Handke negou publicamente ser simpatizante de Milosevic. Ele também se tornou cada vez mais verbalmente agressivo, quando indagado sobre suas opiniões mais polêmicas a respeito da guerra da Iugoslávia.

Interpelado sobre Srebrenica por um repórter, na última sexta-feira em Estocolmo, ele comparou a pergunta a uma carta de ódio com "caligrafia" de excremento: "Eu lhe digo que prefiro o papel higiênico, uma carta anônima com papel higiênico dentro, do que sua pergunta vazia e ignorante."

Em novembro, o autor de 77 anos também cancelou uma entrevista e mandou que deixasse sua casa o repórter que lhe perguntara sobre o passaporte iugoslavo tirado por ele em 1999.

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Autor: Darko Janjevic (av)

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