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Morro onde Bunitinho foi morto é QG de facção e teve 22 tiroteios em 3 anos

O comediante e digital influencer Bunitinho, morto durante operação da PM - Reprodução/ Instagram
O comediante e digital influencer Bunitinho, morto durante operação da PM Imagem: Reprodução/ Instagram
do UOL

Igor Mello

Do UOL, no Rio

05/12/2019 17h32

Resumo da notícia

  • Morro do Dendê teve 22 confrontos com as polícias em 3 anos, segundo levantamento do UOL com base no Fogo Cruzado
  • Comediante e influenciador digital, Bunitinho foi morto durante tiroteio na comunidade
  • QG do TCP (Terceiro Comando Puro), a comunidade foi palco de operação com seis mortos em junho

Local onde o comediante e digital influencer Diego de Farias Pinto, o Bunitinho, foi morto, o Morro do Dendê, na Ilha do Governador, teve 22 trocas de tiro com as forças policiais nos últimos três anos, mostram registros do Laboratório de Dados sobre Violência Armada Fogo Cruzado analisados pelo UOL.

Bunitinho teria sido convidado para fazer uma apresentação em um baile onde foi comemorado o aniversário de Marcos Vinicius dos Santos, o Chapola, chefe do tráfico da comunidade. A PM afirmou, por meio de nota, que recebeu informações do setor de inteligência de que haveria essa reunião de lideranças do tráfico no local e, por isso, invadiu a comunidade. Além de Bunitinho, outras três pessoas foram mortas durante a ação.

Moradores relataram nas redes sociais intensa troca de tiro a partir da chegada de homens do Bope (Batalhão de Operações Especiais) na comunidade. Um blindado da PM foi usado durante a ação da polícia.

Localização estratégica e operação com 6 mortos em junho

O Morro do Dendê é um dos QGs da facção TCP (Terceiro Comando Puro) no Rio e tem uma localização estratégica. Por ficar na Ilha do Governador, serve de entreposto para a chegada de armas e drogas por via marítima através da Baía de Guanabara.

Também tem fácil acesso à Linha Vermelha, uma das principais vias expressas da região metropolitana do Rio, por meio da qual é possível chegar ao centro da cidade e à Baixada Fluminense. Além disso, é um ponto de venda de drogas valorizado por sua proximidade com o Jardim Guanabara, bairro de maior poder aquisitivo da Ilha do Governador.

Somente este ano, dados do Fogo Cruzado registraram oito confrontos com as polícias na área. Um deles ocorreu no fim de junho, quando a comunidade foi palco de outra operação policial com alta letalidade e participação do Bope.

Na ocasião, Fernando Gomes de Freitas, o Fernandinho Guarabu, e outros cinco homens foram mortos por policiais militares. Além do Bope, outras unidades especializadas da PM participaram da ação, como o Batalhão de Choque, o GAM (Grupamento Aeromóvel) e o BAC (Batalhão de Ações com Cães).

Fernandinho Guarabu era considerado o chefe do tráfico mais longevo do Rio, atuando como "dono" do Morro do Dendê há 16 anos ininterruptamente.

De acordo com a PM, o traficante tinha 14 mandados de prisão: por tráfico de drogas, homicídios, porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, além de outros crimes. Ele estava foragido da Justiça desde 2003, e o Portal dos Procurados do Disque-Denúncia oferecia R$ 30 mil por informações que levassem à sua captura. Ainda segundo o Disque-Denúncia, Chapola o substituiu no comando da quadrilha que domina a comunidade.

Comunidade era conhecida por armamento pesado

Guarabu criou um intrincado esquema de pagamento de propinas para policiais civis e militares, com o objetivo de reduzir o número de ações da polícia na área e aumentar o lucro com a venda de drogas. A proximidade com policiais era explicitada pela relação com ex-PM Antônio Eugênio de Souza Freitas, o Batoré. Braço direito e matador da quadrilha, ele também foi morto ao lado de Fernandinho Guarabu.

O chefe do tráfico também mantinha boas relações com milicianos. Com grande influência em quase todas as comunidades da Ilha do Governador, ele terceirizou a venda de botijões de gás na região para milicianos, conforme mostrou investigação da Corregedoria da PM.

Com o pagamento de propinas, o Morro do Dendê conseguiu mudar a imagem construída nos anos 1990 —de uma comunidade conhecida pelos constantes confrontos com a polícia. A situação se tornou célebre por conta do funk. Os MCs Cidinho e Doca gravaram uma nova versão do Rap das Armas —uma das composições mais famosas do gênero, de autoria dos MCs Junior e Leonardo.

No "proibidão", Cidinho e Doca exaltam o poderio bélico do tráfico do Morro do Dendê, citando diversos armamentos usados no local e relatando os confrontos com diversas unidades da PM e da Polícia Civil e também com quadrilhas rivais. A música serviu como trilha sonora do filme Tropa de Elite, de José Padilha.

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