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Socialistas espanhóis se abrem à esquerda, e líder liberal renuncia

11/11/2019 19h09

Jesús Lozano.

Madri, 11 nov (EFE).- O Partido Socialista Espanhol (PSOE), que ganhou com maioria simples as eleições do domingo passado, antecipou nesta segunda-feira que pretende formar o quanto antes um governo progressista e que buscará "se entender" com grupos como a coalizão de esquerda Unidas Podemos.

As novas eleições não conseguiram facilitar o panorama político do país, mas causaram o colapso do partido liberal Ciudadanos, cujo líder, Alberto Rivera, renunciou ao cargo e decidiu sair da política. O pleito também teve como destaque o forte crescimento do Vox, de extrema-direita.

Os espanhóis voltaram às urnas pela segunda vez em seis meses porque o bloqueio político derivado das eleições de 28 de abril impediu a formação de um governo.

Mas o novo resultado não resolveu a situação, e a governabilidade "ficou ainda mais complicada", segundo opinou à Agência Efe o cientista político Roberto Rodríguez, da Universidade de Comillas.

Mais partidos do que nunca (19) conseguiram representação no Congresso dos Deputados (câmara baixa), e dez deles têm menos de dez assentos em um Parlamento plural, onde cresceram pequenas forças independentistas, regionalistas e até mesmo localistas.

A isso se soma a ascensão meteórica do Vox, que se tornou a terceira maior força, com 52 cadeiras, logo atrás dos conservadores do Partido Popular (PP), com 88.

E AGORA?

Como nas eleições de abril, a única possibilidade de governo volta a girar em torno do PSOE, que venceu no domingo, conseguindo 120 das 350 cadeiras no Congresso dos Deputados (três a menos que antes), mas agora também terá que negociar com outros partidos.

As combinações para uma maioria estável de governo estão limitadas devido ao desastre eleitoral do Ciudadanos, partido que caiu de 57 para dez deputados.

Socialistas e liberais poderiam ter formado uma maioria absoluta de 180 deputados na legislatura anterior, mas a recusa de Rivera a qualquer acordo com o líder socialista, Pedro Sánchez, impediu a união.

Agora, com o fracasso do Ciudadanos, se fecha um "caminho centrista" para um possível acordo de governo. A única opção agora é com a esquerda, o que também implicaria a necessidade de contar com nacionalistas bascos e independentistas catalães, segundo Rodríguez.

EVITAR AS TERCEIRAS ELEIÇÕES.

Sánchez, que governa interinamente desde abril, começará a conversar com os líderes de outros partidos para "sondar" opiniões e "estabelecer a dinâmica para formar um governo o quanto antes", de modo que "não ocorram as terceiras eleições", anunciou nesta segunda-feira o número 2 do PSOE, José Luis Ábalos, após uma reunião da direção do partido para a análise dos resultados eleitorais.

Ábalos não deixou claro se o PSOE tem agora uma maior disposição para formar um governo de coalizão esquerdista com a Unidas Podemos, que exigia essa condição para apoiar Sánchez como presidente do governo espanhol após as eleições de abril.

O que já foi descartado é uma "grande coalizão" com o Partido Popular, já quem segundo Ábalos, os conservadores "representam a direita, um adversário político".

O representante socialista explicou que o objetivo do PSOE é "se entender" com outros partidos e encarar pactos "com a máxima responsabilidade" para tentar selar um acordo antes do fim do ano.

Unidas Podemos caiu de 42 para 35 deputados, mas segue querendo fazer parte de um governo com os socialistas para apoiar Sánchez.

O PSOE acredita em uma posse de Sánchez com o apoio de Ciudadanos, Unidas Podemos e dos partidos pequenos mais inclinados aos socialistas para depender o mínimo possível dos independentistas catalães, mas não esperam nada do opositor Partido Popular.

O secretário-geral do PP, Teodoro García Egea, acusou Sánchez de ter provocado novas eleições a troco de nada, citou seu partido como a "única alternativa" ao PSOE e confirmou que não facilitará a posse do líder socialista com uma abstenção no Parlamento.

Neste cenário, segundo o cientista político Roberto Rodríguez, os políticos são "obrigados a dialogar, negociar" para acabar com o bloqueio, pois uma terceira convocação às urnas seria "impensável".

A situação está "endiabrada", opinou Jaime Ferri, professor de ciências políticas da Universidade Complutense de Madri, mas os partidos, segundo ele, "não vão permitir outras eleições".

Ferri considera um "fracasso" a estratégia dos assessores de Sánchez de achar que a repetição das eleições favoreceria o PSOE, pois perdeu deputados.

"A curto prazo, será necessário um governo para que dure um ou dois anos", analisou o especialista, enquanto apontou para problemas de médio prazo, como a busca de saídas para questões como as tensões independentistas na região da Catalunha. EFE

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