Como onda de frio nos EUA é capaz de formar um ciclone perigoso na Europa?

A grande onda de frio que atinge os Estados Unidos —e até obrigou Donald Trump a mudar o local de sua posse— deve afetar também a Europa.
O que aconteceu
O continente europeu deve receber um poderoso ciclone extratropical, com impactos maiores no Reino Unido e na Irlanda. A tempestade, que ganhou o nome de Éowyn, deve causar fortes chuvas e ventos de até 145 km/h entre sexta-feira (24) e sábado (25), segundo a BBC. As autoridades locais alertam para possível queda de energia, danos à estrutura de prédios e bloqueio de rodovias.
Os Estados Unidos enfrentam uma frente fria causada pelo ar vindo do Ártico para o sul —e o clima no país tem relação com o ciclone na Europa. Esse ar frio desceu até o Golfo do México e interagiu com o ar quente e úmido da região, o que resultou em uma "onda baroclínica". Segundo o serviço de meteorologia britânico Your Weather, essa onda é o resultado da interação entre massas de ar que têm um gradiente alto de temperatura (ou seja, a diferença entre a temperatura de uma e a temperatura da outra é grande).
Essa onda costuma ser percursora dos sistemas de baixa pressão —associados à formação de ciclones. Ela avançou e ganhou força no Oceano Atlântico alimentada por uma corrente de ar robusta, ainda de acordo com o site britânico Your Weather.
Os ciclones extratropicais são formados pelo encontro entre ar quente e ar frio. Durante esse encontro, o ar úmido e quente — mais leve— sobe para as camadas mais altas da atmosfera, enquanto o ar gelado desce. Isso gera uma área de instabilidade, com ventos fortes, chuva e frio.
O encontro das duas massas de ar já gerou ventos acima dos 400 km/h sobre o oceano. Essa energia grande e em alta velocidade está fazendo com que a tempestade Éowyn mantenha força chegando à Europa.
O ciclone extremo que se dirige para a Irlanda e o Reino Unido é um resultado direto da tempestade de neve no sul dos EUA.
Tomer Burg, meteorologista americano no X
Por que está tão frio nos EUA?
O ar do Ártico chegou aos Estados Unidos graças ao comportamento atípico do vórtex polar —uma grande área de baixa pressão e ar gelado que fica em volta dos polos da Terra. Tipicamente, essa área fica restrita ao Ártico, mas certas condições podem fazer com que o vórtex se enfraqueça e se expanda, com o ar gelado chegando em latitudes mais baixas, explica o site britânico Your Weather.
O vórtex polar enfraquecido fez com que o ar seguisse para o sul, chegando até mesmo ao Golfo do México. Mesmo cidades que não costumam ter invernos tão rigorosos, como Houston e Nova Orleans, enfrentam tempestades de neve e recorde de temperaturas negativas.