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Cárcere e dentes quebrados: o que se sabe do sumiço de socialite do Chopin

Sumiço da socialite Regina Gonçalves, 88, deixou amigos preocupados - Reprodução
Sumiço da socialite Regina Gonçalves, 88, deixou amigos preocupados Imagem: Reprodução
do UOL

Daniele Dutra

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

28/04/2024 04h00Atualizada em 28/04/2024 06h42

O sumiço da socialite Regina Gonçalves, 88, moradora do tradicional edifício Chopin, em Copacabana, na zona sul do Rio, assustou os vizinhos que estavam desde dezembro sem notícias dela. Segundo a família, a idosa estava em cárcere privado e conseguiu fugir em janeiro, apenas com a roupa do corpo, para pedir ajuda.

Seu ex-motorista, José Marcos Chaves Ribeiro, de 53 anos, com quem tinha uma união estável, é o principal suspeito.

O sumiço

Vista pela última vez em dezembro, os vizinhos começaram a dar falta da socialite, que passou a não ser vista no prédio.

"Estou muito preocupada com Regina. Ela e o marido estavam juntos há bastante tempo e nunca mais os vi. Sei que ela tem uma casa em São Conrado, mas ela sempre morou nas duas residências. Costumávamos nos encontrar na portaria, ela sempre muito simpática, querida e generosa. Uma pessoa ótima. Só quero que ela esteja bem", disse a ex-deputada estadual e empresária Alice Tamborindeguy, vizinha da socialite, que era muito amiga de sua mãe.

Regina morava no Chopin, ao lado do Copacabana Palace, há mais de 50 anos. Ela não tem filhos e vivia com José Marcos desde 2011. Nesses 13 anos, ele conseguiu fazer união estável com a socialite e também uma autorização de curatela provisória da idosa, documento que permite uma pessoa a cuidar dos interesses de outra que se encontra incapaz, seja por questões físicas, mentais ou comportamentais para gerir a própria vida.

Segundo a família, Regina estava sendo mantida em cárcere privado e conseguiu fugir em janeiro, apenas com a roupa do corpo, para a casa de um irmão. Fontes ouvidas pelo UOL relatam que no dia da fuga, que foi na hora do almoço, ela saiu do prédio sozinha e tinha marcas roxas pelo braço.

Pouco tempo depois, José Marcos teria aparecido reclamando por terem deixado ela sair sozinha.

Os dois sempre saíam juntos e, por mais discreto que José Marcos fosse, o comportamento da socialite chamava atenção:

"Ele agia naturalmente, não dava para suspeitar. Já a Regina eu percebia que ela não estava bem. Parecia estar sendo coagida e sempre tinha marcas pelo corpo que pareciam ser maus tratos", disse à reportagem uma fonte, que prefere não ser identificada por questões de segurança.

Caso na Justiça

Após a fuga, as medidas judiciais começaram a aparecer. A primeira delas foi em 5 de janeiro de 2024, por meio de uma medida protetiva que proíbe a ida de José Marcos ao Chopin, referente ao processo em que ele é investigado por violência psicológica, doméstica e ameaça contra a socialite.

A outra documentação é um pedido de mudança de responsável pela curatela de Regina, feita em primeiro de abril.

O caso de Regina e José Marcos está em segredo de Justiça, mas a família acusa o ex motorista de agressões, roubos milionários e falsificação de documentos, conforme relata Álvaro O'hara, 41, sobrinho de Regina.

"Ele foi sumindo com ela aos poucos, de todo mundo. Quando ela conseguiu fugir, estava com 42 kg, apenas com a roupa do corpo. Minha tia foi agredida por ele, apareceu com os dois dentes quebrados e teve afundamento de crânio. As mãos estavam quebradas e enfaixadas de qualquer jeito. Foi horrível, mas agora ela está bem e a única coisa que nós queremos é justiça", disse O'hara, ao UOL.

Morte suspeita de irmã

O sobrinho contou que chegou a ser ameaçado de morte por José Marcos ao descobrir que a tia vivia dopada e que ele havia conseguido falsificar os documentos para ter controle do patrimônio da socialite.

No período em que Regina estava sob os cuidados de José Marcos, sua irmã, que morava na casa em São Conrado com eles, morreu de forma suspeita e foi levada para UPA (Unidade de Pronto Atendimento), onde ficou semanas sem o conhecimento de Regina. Ela só foi saber da situação e da morte da irmã dias depois, de acordo com o sobrinho.

Ele roubou mais de R$ 20 milhões em joias da minha tia, sumiu com várias obras de arte, vendeu uma mansão em São Conrado e nunca deu esse dinheiro a minha tia. Nesse meio tempo ele fez uma união estável, que ela se nega a ter compactuado com isso. Ela teve a imagem usada por ele para dar vários golpes em outras famílias, falsificava documentação, fez coisas terríveis. Até a irmã da minha tia teve uma morte suspeita, que também está sob segredo de Justiça. Agora ela está melhor, mas disse que durante o tempo que ficou presa em casa, estava tão desesperada que cogitou tirar a própria vida, tamanho o sofrimento que viveu.
Álvaro O'hara

Procurado pela reportagem, Bruno Saccani, advogado de José Marcos, não quis dar entrevista e nem comentar as acusações.

Não é o momento apropriado para a manifestação por parte do Marcos, pois o processo está sob segredo de justiça.
Defesa de José Marcos Chaves Ribeiro

Volta ao Chopin

Regina já está recuperada das lesões e pretende voltar nos próximos dias ao Chopan, para assistir ao show de Madonna e fazer uma festa para um pequeno grupo de amigos.

Amiga e síndica do edifício, Marina Felfeli conta ao UOL que conseguiu falar por vídeo com a socialite e disse que ela está bem e voltou a ser quem ela sempre foi:

Conheço Regina há anos, desde a época do falecido marido dela. Sempre foi uma pessoa muito simpática,agradável e generosa. Fiquei muito feliz em saber que ela está sendo bem cuidada e se recuperando dos traumas. Conversamos e ela estava como sempre: linda, maquiada, arrumada e muito querida. Assim que ela retornar ao prédio, vamos preparar uma festa de boas-vindas.
Marina Felfeli

Quem é a socialite?

Regina Gonçalves é viúva do dono dos baralhos Copag e fazendeiro, Nestor Gonçalves. O casal não teve filhos e quando faleceu, ele deixou uma herança de US$ 500 milhões (mais de R$ 2,5 bilhões no valor atual).

socialite - Reprodução - Reprodução
A socialite Regina Gonçalves, 88
Imagem: Reprodução

Bilionária (segundo o sobrinho), Regina prometeu que nunca teria mais ninguém em sua vida, em respeito à memória do marido.

Dona de dois apartamentos de quase mil metros quadrados no Chopin, a socialite também é dona de uma ilha em Angra dos Reis, prédios comerciais, joias, barcos e outras quatro mansões em condomínios de luxo.

Retratada como simpática e generosa, Regina sempre gostou de dar festas para a alta sociedade carioca.

Em uma delas, em 2011, o sobrinho conta que José Marcos, até então o motorista, estava no evento com mais de 300 pessoas. Ele é de Minas Gerais e conseguiu o trabalho após a indicação de uma prima de terceiro grau de Regina.

"Ele veio com essa cara de homem simples, humilde e foi ganhando a confiança dela. E como minha tia sempre foi muito generosa, acabou acreditando. Ele virou uma espécie de faz tudo. Em dezembro de 2011, durante a festa no Chopin, ele estava lá, muito empolgado. Achei que ele estava encantado, deslumbrado, que nem a maioria das pessoas ficam, já que a tia Regina vive uma vida que ninguém vive. Até que ela foi sumindo aos poucos", afirmou Álvaro.

O sobrinho diz que durante o tempo que morou com a tia, em São Conrado, reparou comportamentos suspeitos de José Marcos, até que teria encontrado documentos falsificados:

"Reparei que ele vivia com o cartão de crédito e talões de cheques assinados. Foi então que investiguei e descobri que ele tinha feito uma procuração como o único herdeiro dela, já que ela não tem filhos. Rasguei tudo, mas ele percebeu que o documento não estava mais lá. Assim que descobriu que ele simulou uma tentativa de assalto, nessa mesma semana ele tentou me envenenar. Ficou ela dopada de um lado e eu quase morrendo do outro. Consegui fugir com a ajuda de uma amiga, fui até a delegacia, mas nada aconteceu. Assim que ele conseguiu tomar o que era dela, ele afastou ela de todos. Ela passou 10 anos sem usar celular, porque ele não deixava. Começou a minar todo mundo de perto dela, inventando que ela estava dormindo, viajando ou tomando banho. As pessoas próximas deles eram socialites que eram coniventes com a situação", afirma O'hara.

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