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"Sacrifícios hoje para respirar em dezembro": Itália impõe novas restrições contra a Covid-19

26/10/2020 09h08

A Itália está registrando um forte aumento nas contaminações de Covid-19: quase 20 mil pessoas testaram positivo à doença em 24 horas. Para conter o avanço da pandemia, o governo italiano impôs novas medidas restritivas. Teme-se que o crescimento do número de infectados possa resultar em um colapso das estruturas sanitárias. 

Gina Marques, correspondente da RFI em Roma

"Sacrifícios hoje para que o país volte a respirar em dezembro", assim o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, explicou o novo decreto do governo para conter a pandemia. Segundo ele, estas imposições são fundamentais para não ter que repetir o lockdown total de março e abril passado que causou imensos prejuízos econômicos. 

As normas entram em vigor nesta segunda-feira (26) e vão durar até 24 de novembro. O decreto contém uma série de medidas restritivas para dificultar a socialização. Restaurantes, bares, sorveterias e confeitarias não poderão atender clientes no local depois das 18 horas, podendo funcionar apenas através de serviços de entrega ou preparando os produtos para os consumidores levarem.

Lojas e museus podem abrir, mas respeitando a distância física entre as pessoas. Academias de ginástica, piscinas públicas, cinemas, teatros e espaços culturais devem permanecer fechados.

Conte recomendou que as pessoas fiquem em casa e saiam só por motivos de trabalho, estudo ou necessidades básicas. As aulas virtuais voltaram a ser a regra para 75% dos alunos do ensino superior. 

€ 7 bilhões em ajudas econômicas 

O primeiro-ministro garantiu que vai liberar incentivos econômicos urgentes. O pacote previsto é de € 7 bilhões, dos quais € 2 bilhões serão disponibilizados imediatamente para as categorias mais castigadas pela crise, ou seja, trabalhadores de bares, restaurantes, academias, teatros, cinema e outros. Estão previstos também financiamentos ao setor agroalimentar, extremamente afetado devido às restrições de funcionamento dos restaurantes.  

Além disso, entrarão em vigor ajudas como créditos para os alugueis comerciais em outubro e novembro. Para não desequilibrar a balança econômica, o governo anunciou que vai usar as reservas que não foram gastas para as medidas determinadas nos meses anteriores. 

O seguro-desemprego será prorrogado por mais dez semanas. Já as demissões permanecem proibidas pelas empresas que recebem benefícios ou auxílios públicos durante a pandemia.

Temor de um novo colapso no sistema de saúde

Desde a fase crítica da pandemia, em março e abril, surgiram vários problemas que afetaram o sistema de saúde italiano, como a escassez de vagas para os pacientes nas UTIs dos hospitais. Diante da segunda onda que volta a atingir o país, é grande o temor de um possível colapso da estrutura sanitária que deveria ter sido reforçada nos últimos meses, quando as autoridades perceberam um aumento nos casos da doença.  

Em maio passado o governo italiano anunciou o "Decreto Relançamento", um dos maiores planos econômicos da história do país. Através dele, foram destinados € 54,9 bilhões para apoiar empresas, famílias e trabalhadores, além dos outros € 25 bilhões aprovados em um decreto anterior, denominado de "Cura Itália". Os pacotes serviram também para a criação de novas Unidades de Terapia Intensiva e apoiar as existentes. 

Segundo o Ministério da Saúde, na Itália existem 518 hospitais públicos capazes de oferecer 151.646 leitos. Outras 482 estruturas privadas disponibilizam 40.458 vagas. Portanto, o país conta com 3,2 leitos por 1.000 habitantes. Em relação às UTIs, segundo dados do governo, havia 5.090 leitos disponíveis na Itália em 2018, ou seja, cerca de 8,42 vagas por 100.000 habitantes. 

No entanto, o país está em uma posição muito inferior em relação à média da Europa, que pode se orgulhar de 5 vagas por 1.000 habitantes. Na classificação europeia dos hospitais com mais leitos, a Itália ocupa o 24° lugar. 

O Decreto Relançamento, instituiu a criação de 3.500 novos leitos para terapia intensiva para garantir 14 a cada 100.000 habitantes, distribuindo-os uniformemente por toda a península. Além disso, o governo destinou € 1,1 bilhão em maio passado para garantir cerca de 7.500 leitos nas UTIs construídos às pressas durante a primeira onda para atender ao número crescente de pacientes.

Até o momento, porém, foram criadas apenas 1.279 vagas nas unidades de terapia intensiva, um número aquém das promessas do governo. Para piorar a situação, a distribuição das novas vagas nas UTIs não é homogênea e muitas obras estão atrasadas. Diante desta situação, a população teme viver novamente o pesadelo de alguns meses atrás.

Manifestações contra as medidas

Nos últimos dias, houve manifestações de grupos de extrema direita em Roma e Nápoles contra as medidas anunciadas por Conte. Os protestos neofascistas se transformaram quase em guerrilha urbana, com caixas de lixo queimadas, foguetes e confrontos com a polícia. 

Muitos especialistas acreditam que os protestos têm o objetivo político de desestabilizar o governo. Os investigadores suspeitam de uma conexão do grupo de extrema direita Forza Nuova com o crime organizado da Camorra, a máfia napolitana. 

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