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Interpol procura pai nigeriano que tirou filha do Brasil sem a mãe saber

21/05/2019 16h48

Há um mês a brasileira Laurimar Pires está na Nigéria tentando levar de volta para casa, em Belo Horizonte, a única filha, uma menina de 9 anos que foi tirada do Brasil em janeiro pelo pai, o nigeriano Michael Olusegun Akinruli, sem o conhecimento da mãe. O casal não vive junto desde 2012. Michael morava também morava em Minas Gerais e conseguiu uma liminar que o autorizava a viajar com a criança.

Vinícius Assis, correspondente da RFI na África do Sul

 

"Entreguei minha filha para ele no dia 09 de janeiro, mas para passarem uns dias juntos. Eu não sabia que existia essa autorização de viagem porque eu não fui citada. Dois dias depois ele me mandou um e-mail dizendo que estava viajando com nossa filha para a Nigéria e com a autorização em anexo. O juiz deu essa autorização a ele durante o recesso do Judiciário. Só consegui falar com ela quando já estavam chegando na Nigéria", contou a mineira.

Laurimar disse que a autorização era válida de 9 de janeiro até 3 de fevereiro deste ano. Só que no dia 4 de fevereiro a brasileira recebeu um e-mail do ex-companheiro dizendo que não voltaria ao Brasil com a filha do casal. Em anexo ele mandou a cópia do pedido de guarda que fez à Justiça nigeriana.

"Foi quando começou toda essa minha luta. Hoje no Brasil ele não tem mais a guarda. Ele está sendo procurado por fraude processual, desobediência, crime de sequestro e falsidade ideológica, porque de 2015 para cá ele se apresentava no Brasil como cônsul da Nigéria. Ele fraudou documentos que juntou ao processo dando garantia de retorno. Chegou a fazer a matrícula dela na escola lá no Brasil para comprovar que voltaria com ela. Está muito clara a má fé dele, a má intenção que ele tinha desde o início, porque ele premeditou toda essa ação dele", disse Laurimar.

Hoje o nigeriano é considerado foragido da Justiça brasileira e está sendo procurado pela Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal).

Afastada do trabalho

Laurimar está há um mês afastada do trabalho. Ela é psicóloga e conheceu o nigeriano em 2004, na capital mineira. Um ano depois o casal começou um relacionamento que durou sete anos. Após o fim da união estável, em 2012, a mãe ficou com a guarda criança até o pai pedir à Justiça a guarda compartilhada.

"Voltei a viver com meus pais e ele sempre teve acesso total a nossa filha. Sempre participou da vida dela, atividades escolares e tudo mais. A partir de 2016 a guarda começou a ser compartilhada. Depois disso, ele deu entrada em um pedido judicial para viajar com ela para fora do país", explicou Laurimar, que chegou a se encontrar com o ex-companheiro e a criança.

"Desde que eu cheguei aqui eu só fiquei com minha filha uma semana durante algumas horas. Ela está muito confusa. Não entende porque o pai dela não deixa a gente se falar, porque não pode voltar. Foi uma mudança muito radical que aconteceu na vida dela. Os dias para mim são intermináveis porque eu fico aqui aguardando o retorno da Justiça, algo concreto", disse.

Os encontros entre mãe e filha foram sempre em locais públicos, combinados entre a brasileira e o ex-companheiro por telefone. "Ele esteve presente todas as vezes em que me encontrei com ela. Numa dessas ocasiões, eu cheguei a conversar com ele, pedi para retornar com ela, para encerrarmos essa situação. Ele simplesmente disse que o retorno dela é inegociável. Ele não se sente culpado ou responsável. Ele está fazendo algo que na cabeça dele é certo, só que não levou em consideração a vontade dela, minha opinião, muito menos as leis em vigor ", contou.

O último encontro entre os três foi no dia 7 de maio. Já não existe mais contato entre eles. A psicóloga diz que não consegue mais falar com o nigeriano nem com a irmã dele, que também mora em Lagos. No endereço que consta no processo como sendo o da casa de Michael há um imóvel em construção, porém vazio.

Como a criança fazia aulas de inglês no Brasil, consegue se comunicar no idioma oficial da Nigéria. A menina chegou até a ser matriculada pelo pai em uma escola, como consta no processo em que ele pede à Justiça nigeriana a guarda dela. Só que a mãe esteve no colégio e descobriu que a menina não está mais frequentando aulas nesta escola.

De quem é a guarda?

Laurimar conta que o ex-companheiro pediu à Justiça nigeriana que a filha ficasse na África até concluir os estudos. Mas o judiciário local disse que não tem poder para definir a guarda dela, uma vez que já existe uma guarda estipulada no Brasil.

"Eles negaram para ele essa guarda. Acho que foi uma decisão correta, mas em relação ao retorno dela nada foi falado. Eu me sinto sinto insegura. Não sei como as coisas vão se resolver ", contou Laurimar.

A RFI enviou uma mensagem para o número que seria do nigeriano, mas não teve retorno até a publicação desta reportagem. A mãe da menina cancelou a passagem de volta que tinha comprado, para dia 3 de maio. Não sabe quando retornará ao Brasil. Só consegue ter forças pra acreditar que retornará junto com a filha.

"Eu vim porque eu amo minha filha. Vou lutar e esgotar todos os recursos que existem para ter minha família reunida de novo", disse.

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