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Síria: rebeldes dizem que começam "a cercar" Damasco e exército sírio desmente retirada

07/12/2024 10h51

O avanço de milícias islamistas que tentam tomar o poder na Síria levaram o exército do regime a se retirar, neste sábado (7), de localidades a cerca de dez quilômetros de Damasco. Desde fim de novembro, grupos radicais vêm tomando várias cidades do país, como Aleppo e Hama, e seguem suas incursões cada vez mais perto da capital, dispostos a derrubar a dinastia Assad, que domina a Síria há várias décadas. 

As tropas sírias se retiraram de suas posições na província de Quneitra, que faz fronteira com as Colinas de Golã anexadas por Israel, anunciou neste sábado a ONG Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH). "As forças do regime evacuaram posições militares e de segurança, enquanto os funcionários públicos abandonaram os seus postos" em Quneitra, disse Rami Abdel Rahman, diretor do OSDH à AFP. Ele acrescentou que os combatentes rebeldes locais controlam agora toda a província de Deraa.

Um comandante rebelde confirmou que as facções de oposição estão a cerca de 20 quilômetros da capital, Damasco, depois de assumirem o controle da província de Deraa, no sul da Síria. O avanço dos rebeldes é nítido na região. Eles dizem estar dispostos a chegar ao centro do poder. 

O líder do grupo radical islâmico Hayat Tahrir al-Sham (HTS), que lidera a coalizão de rebeldes na Síria para derrubar Bashar al-Assad, disse aos combatentes neste sábado para se prepararem para tomar a capital. "Damasco está esperando por vocês", disse Ahmed al-Chareh em comunicado aos rebeldes no Telegram, usando seu nome verdadeiro em vez de seu nome de guerra, Abu Mohammad al-Jolani.

Os rebeldes afirmam que "começaram a cercar" a cidade, enquanto o exército sírio nega ter fugido de suas posições perto da capital. "As nossas forças iniciaram a fase final do cerco a Damasco", disse um alto comandante da coligação rebelde, Hassan Abdel Ghani.

O ministério da Defesa sírio, por sua vez, reagiu afirmando que "as informações segundo as quais as Forças Armadas, presentes em todas as áreas do interior de Damasco se retiraram, são infundadas".

O exército sírio concentra suas forças em Deraa e Soueida, ambas províncias do sul do país, após o regime ter perdido o controle da maior parte dessas localidades para os rebeldes, que há uma semana promovem uma ofensiva fulminante. Após capturar duas das principais cidades da Síria, Aleppo, no norte, e Hama, no centro, a coligação de rebeldes liderada por radicais islâmicos está perto de Homs (centro).

Em 27 de novembro, uma coligação de rebeldes, liderada pelo grupo radical islâmico Hayat Tahrir al-Sham (HTS), lançou uma ofensiva a partir do seu reduto em Idleb (noroeste), tomando dezenas de localidades e cidades estratégicas. Depois da conquista de Aleppo e Hama, os rebeldes seguiram em direção a Homs, a 150 quilômetros ao norte da capital, no maior avanço das tropas rebeldes em 13 anos de guerra.

Contra-ataque

No centro do país, as forças governamentais "estão começando a recuperar o controle das províncias de Homs e Hama das mãos de organizações terroristas", afirma um comunicado do exército.

Pelo menos sete civis foram mortos no sábado em ataques russos e sírios perto de Homs, a terceira maior cidade da Síria que os rebeldes tentam conquistar.

"Os ataques aéreos russos e sírios e o fogo de artilharia causaram a morte de sete civis perto da cidade de Homs", disse à AFP Rami Abdel Rahman, diretor do Observatório Sírio para os Direitos Humanos.

O Hezbollah libanês, por sua vez, outro aliado de Assad, enviou 2.000 combatentes de reforços para a cidade de Qusseir, um de seus redutos na Síria, perto da fronteira com o Líbano, para defendê-la no caso de um ataque rebelde, disse à AFP uma fonte próxima ao movimento. Essa mesma fonte sublinhou que o grupo libanês, que lutou ao lado do governo sírio no passado, "não participou" nos confrontos em curso com os rebeldes.

O Hezbollah ainda enviou 150 conselheiros militares para ajudar o exército sírio a defender esta cidade. O governo sírio e o Hezbollah haviam conseguido recuperar a importante cidade de Qussayr aos rebeldes, em junho de 2013.

Tentativa de negociações no Catar

Uma reunião dedicada à situação na Síria acontece neste sábado no Catar, com a presença dos ministros das Relações Exteriores do Irã, da Rússia e da Turquia, informou a agência de notícias oficial iraniana IRNA. Estes três países são parceiros desde 2017 no chamado processo Astana, iniciado para acabar com a guerra na Síria, mesmo sem estarem alinhados no mesmo lado do campo de batalha.

O Irã e a Rússia há muito tempo apoiam o presidente sírio, Bashar al-Assad. A ofensiva descrita pelo Irã como "terrorista" representa uma "ameaça" para o Médio Oriente, disse o chefe da diplomacia iraniana, na sexta-feira. 

"A ameaça terrorista não se limitará à Síria e constitui uma ameaça para todos os países vizinhos e para toda a região", disse Abbas Araghchi, acrescentando que "o terrorismo não conhece fronteiras". Teerã defende um "diálogo político" entre o governo e a oposição na Síria.

Já a Turquia, sem estar diretamente envolvida no terreno, observa com simpatia o progresso dos movimentos rebeldes. O chefe da diplomacia iraniana, Abbas Araghchi, conversou no sábado com o seu homólogo turco, Hakan Fidan. "Tive uma conversa muito franca e direta com o ministro das Relações Exteriores da Turquia", disse Araghchi à imprensa.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que esta semana apelou a Assad para "se reconciliar com o seu povo", "esperava", na sexta-feira (6), que "o avanço dos rebeldes continuasse sem incidentes". O Catar, onde decorrem os diálogos neste sábado e domingo, apoiou os rebeldes no início da guerra civil síria, em 2011, mas o país pede agora um fim negociado do conflito.

(Com AFP)

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