Topo
Notícias

Keijo e Wikie: por que orcas estão no centro de batalha judicial na França?

Uma orca nada em uma piscina do parque temático Marineland, na cidade de Antibes, na Riviera Francesa, sudeste da França - AFP/VALERY HACHE
Uma orca nada em uma piscina do parque temático Marineland, na cidade de Antibes, na Riviera Francesa, sudeste da França Imagem: AFP/VALERY HACHE

05/12/2024 17h20Atualizada em 06/12/2024 14h28

O parque aquático Marineland de Antibes, no sul da França, está no centro de uma polêmica em torno de duas orcas, as últimas em cativeiro no país. A administração do parque anunciou seu fechamento, mas a Justiça francesa obriga a administração a ficar com os dois animais, pelo menos "até o final de uma perícia sobre suas condições de vida".

Nesta quinta-feira (5), um tribunal de Aix-en-Provence, 758 km ao sul de Paris, obrigou o parque aquático a ficar com as orcas Wikie, 23 anos, e seu filho Keijo, de 11, e não as enviar ao Japão, como planejado.

Na quarta-feira, a administração do parque, conhecido por seus espetáculos envolvendo mamíferos marinhos, anunciou o encerramento definitivo no dia 5 de janeiro de suas atividades. A explicação para o fechamento é uma queda importante na frequentação e temores das consequências da implementação da lei, aprovada em 2021 na França, que proíbe shows e exibição de cetáceos a partir de dezembro de 2026.

No final de uma longa batalha jurídica encabeçada pela associação de defesa dos animais One Voice, a Justiça ordenou, em setembro de 2023, uma perícia sobre as condições de vida das orcas, duas das quais já morreram, uma de septicemia, em outubro de 2023, e outra após a ingestão de um pedaço de metal, em março de 2024.

A ONG tinha entrado com medidas legais, temendo que as orcas partissem para um parque aquático em Kobe, no Japão. Mas um tribunal ordenou que elas fossem mantidas em Antibes até ao final da avaliação, sob pena de multa. O tribunal de segunda instância manteve esta decisão.

O plano de fechamento do parque, que emprega 103 funcionários, foi anunciado na manhã de quarta-feira (4). Estabelecido na Riviera francesa desde 1970, o Marineland, que se apresenta como o primeiro zoológico marinho da Europa, tem sido alvo de protestos há um ano, após a morte das orcas. A polêmica aumentou com o plano de transferir os dois animais restantes, nascidos em cativeiro, para o Japão.

Em novembro, a ministra da Transição Ecológica, Agnès Pannier-Runacher, se opôs à transferência devido às leis japonesas sobre "bem-estar animal".

"Quer o Marineland feche ou não, eles devem assumir a responsabilidade por seus animais e não os jogar no lixo como coisas velhas", protesta a presidente da One Voice, Muriel Arnal, lembrando que "Keijo acaba de completar 11 anos e sua mãe Wikie tem 23. Eles têm 60 anos de expectativa de vida pela frente", insiste.

As orcas, que na natureza têm uma expectativa de vida de entre 60 e 80 anos (algumas fêmeas podem viver até 100 anos), ultrapassam raramente os 30 anos em cativeiro. Estes animais nadam cerca de 300 km por dia, são dotadas de uma cultura que passam a seus filhotes e têm um forte sentimento de pertencimento a um grupo.

Santuário

Em seu comunicado de imprensa, o Marineland diz que é "forçado a considerar se separar das orcas" antes da implementação da lei de 2021 contra o abuso de animais, "que limitará as possibilidades de manter orcas em cativeiro".

No entanto, "90% dos visitantes optam por vir ao Marineland para assistir às representações de orcas e golfinhos", afirma o parque, que também anunciou que atravessa "sérias dificuldades econômicas" devido a uma queda contínua na frequentação, que passou, em dez anos, de 1,2 milhão para 425.000 visitantes por ano.

Com cerca de 4.000 animais de 150 espécies diferentes (orcas, golfinhos, leões marinhos, tartarugas e numerosos peixes e corais), os "objetivos prioritários" do Marineland são "realocar todos os seus animais nas melhores estruturas existentes" e "negociar nas próximas semanas com os sindicatos as consequências sociais deste projeto de fechamento".

No que diz respeito especificamente aos cetáceos, o Marineland diz estar "em contato próximo com as autoridades competentes para identificar as melhores soluções" para os acomodar "em estruturas equivalentes em termos de qualidade de cuidados e de projetos educativos, tendo como única prioridade o bem-estar dos cetáceos".

No final de novembro, Agnès Pannier-Runacher levantou a possibilidade de as orcas serem transferidas para parques que respeitem as "regulamentações europeias", como o de Tenerife, no arquipélago espanhol das Canárias. Uma solução rejeitada pela One Voice, cuja presidente afirma que "o parque na Espanha é igual ao do Japão", com "piscinas muito pequenas onde as orcas brigam" umas com as outras. Segundo Arnal, o parque espanhol "perdeu quatro orcas em quatro anos, a última das quais há dez dias".

A associação faz um apelo para que as duas orcas de Antibes sejam enviadas a um santuário na Nova Escócia, no leste do Canadá.

O Whale Sanctuary Project (WSP), conduzido, desde 2016, por ONGs e cientistas, está sendo preparado para receber cetáceos que nasceram em cativeiro e não se adaptariam à vida em liberdade no mar. No entanto, o local ainda não está operacional. O objetivo do projeto é de possibilitar às orcas viverem em ambientes naturais protegidos, com características muito próximas ao seu habitat. Experiências desse tipo existem para outros animais como elefantes e felinos.

A experiência foi tentada no passado com a orca Keiko, que inspirou o filme Free Willy, de 1993. Ela foi o único animal da sua espécie a voltar à liberdade, após ter vivido anos em cativeiro no Canadá, México e Estados Unidos. Keiko era um macho nascido em liberdade e capturado nas costas da Islândia em 1976. Ele foi libertado em 2002 e morreu em 2003.

(RFI e AFP)

Notícias