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Lessa diz que receberia R$ 25 milhões por matar Marielle: 'Fiquei cego'

do UOL

Do UOL, em São Paulo*

31/10/2024 10h32Atualizada em 31/10/2024 10h32

O ex-policial militar Ronnie Lessa, 54, que já havia confessado em delação ser o autor dos tiros que mataram Marielle Franco e Anderson Gomes, em 2018, afirmou, durante o julgamento na quarta-feira (30), que receberia R$ 25 milhões para assassinar a vereadora do PSOL.

O que aconteceu

Lessa detalhou como planejou e executou o duplo homicídio. Ao depor por 2h30 por meio de videoconferência ao 4º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro, o ex-PM se disse arrependido e revelou a quantia milionária que lhe foi prometida pelos mandantes do crime.

Infelizmente, não podemos voltar no tempo, mas hoje tento fazer o possível para amenizar. (...) Fiquei cego, fiquei louco. A minha parte era R$ 25 milhões. Eu reconheço. Não tenho vergonha hoje de falar isso. Tirei um peso das minhas costas confessando o crime. Vou cumprir o meu papel até o final e tenho certeza absoluta que a justiça vai ser feita. Ronnie Lessa, em depoimento ao 4º Tribunal do Júri do Rio

Ex-PM disse que, inicialmente, recebeu proposta milionária para matar Marcelo Freixo, então deputado estadual pelo PSOL. Lessa afirmou que, entre o fim de 2016 e o início de 2017, foi procurado com uma primeira oferta que poderia torná-lo milionário. Na ocasião, a proposta era matar Freixo, atual presidente da Embratur e que foi o relator da CPI das Milícias na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio).

Eu achei inviável, uma loucura isso aí. Houve uma suspensão nessa questão. Em setembro [de 2017], surgiu a proposta em relação à Marielle. Não me falaram o nome dela, não sei nem se quem propôs sabia o nome dela. Ronnie Lessa, em depoimento

Nome de Marielle teria sido citado pela primeira vez em encontro presencial com mandantes do crime. Lessa afirmou que teve uma primeira reunião, pessoalmente, com os mandantes, que não nomeou nos depoimentos. Na ocasião, teriam dito o nome da vereadora pela primeira vez. "Então, nós buscamos os meios necessários para dar prosseguimento nisso aí", disse.

Lessa voltou a afirmar que vigiou a vereadora por meses antes do crime. A afirmação já constava em sua delação firmada com a Polícia Federal.

Ele não falou sobre os mandantes do assassinato da vereadora. A pedido do MP (Ministério Público), o ex-policial não citou os nomes de quem delatou como contratantes do crime para não influenciar no processo do STF (Supremo Tribunal Federal), que investiga quem mandou matar Marielle.

Na delação, Lessa afirmou que foi contratado por Domingos e Chiquinho Brazão. Presos desde o fim de março, eles negam envolvimento no crime.

Delator também citou delegado Rivaldo Barbosa como envolvido no crime. Lessa disse que Barbosa, que assumiu a chefia da Polícia Civil um dia antes do crime, recebeu propina para proteger os atiradores e os mandantes dos assassinatos. O delegado também nega.

Lessa afirmou ainda que crime teve grilagem de terras como principal motivação. Segundo ele, Marielle se opôs numa discussão na Câmara dos Vereadores sobre um texto que previa flexibilizar exigências legais, urbanísticas e ambientais para a regularização de imóveis na zona oeste da capital fluminense. "Na época, o que me foi dito é que ela entraria no caminho, seria uma pedra no caminho, da venda de dois loteamentos no [bairro] Tanque", disse durante o depoimento.

Ao todo, nove testemunhas foram ouvidas no primeiro dia de julgamento, na última quarta. Sete foram indicadas pelo MP e as outras duas pela defesa de Lessa. O Tribunal de Justiça do Rio retomou nesta quinta (31) o julgamento de Lessa e do também ex-PM Élcio de Queiroz, também réu confesso do caso.

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