Só 1 do alto escalão da gestão Bolsonaro passa ao 2º turno em capitais
Candidatos que fizeram parte do alto escalão do governo de Jair Bolsonaro (PL-RJ) não conseguiram se eleger como prefeito em duas capitais brasileiras. Só Marcelo Queiroga (PL) tem chance no segundo turno em João Pessoa.
O que aconteceu
No PL, Alexandre Ramagem e "ministro sanfoneiro" conquistaram poucos votos. Ramagem, no Rio, recebeu 30% dos votos, mas Eduardo Paes (PSD) foi reeleito em primeiro turno, com 60%. Gilson Machado, no Recife, fez apenas 13,9%, insuficientes para fazer frente aos 78,1% do atual prefeito, João Campos (PSB).
Baixa competitividade expõe dificuldade de apadrinhados de Bolsonaro repetirem o desempenho de 2022. Nas eleições para o Congresso Nacional e para governador, ao menos 12 expoentes do governo anterior surfaram na onda do bolsonarismo e conquistaram algum cargo naquele ano.
Ramagem foi aposta do PL no Rio e contou com a presença de Bolsonaro em diversos atos na reta final de sua campanha. Além disso, o ex-chefe da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) foi um dos mais beneficiados pelos R$ 26 milhões do fundo partidário. Nem assim.
No Recife, o ex-ministro de Turismo não teve fôlego para avançar na disputa. Pesquisas de intenção de voto mostravam distância dos adversários. Na capital pernambucana, Machado, que ficou conhecido por tocar sanfona nas lives semanais de Bolsonaro, já havia ficado bastante atrás no último Datafolha.
Queiroga ainda tem chance. O ex-titular da Saúde passou para o segundo turno com o atual prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP). Ele vai ter, contudo, que reverter um cenário bastante difícil. Fez 21,77% contra 49,16% de Cícero, que quase fechou no primeiro turno.
Contexto de eleições municipais é outro
Bolsonaro fora da Presidência e sem disputar novo cargo enfraquece candidatura de bolsonaristas, afirma especialista. "Pesa a questão de que ele não está mais no poder. Quando você não exerce mais nenhum cargo, o fato de colocar um candidato não tem mais tanto efeito", diz Leandro Consentino, cientista político e professor do Insper.
Em 2022, Bolsonaro foi cabo eleitoral eficiente para ex-membros de sua antiga gestão. Entre os destaques, esteve Tarcísio de Freitas (Republicanos), que foi ministro da Infraestrutura e venceu Fernando Haddad (PT) no segundo turno da disputa pelo governo do estado de São Paulo, além de Damares Alves, Marcos Pontes e Hamilton Mourão, que conseguiram vaga no Senado, e Ricardo Salles e Eduardo Pazuello na Câmara.
Contexto local das cidades também tiram poder de influência do ex-presidente. Para Consentino, questões mais cotidianas, como a zeladoria das cidades e nomes com mais força regional, são fatores mais determinantes para os eleitores escolherem em quem votar.
O eleitor considera mais a dinâmica do próprio município, com preocupações mais locais. O Rio de Janeiro é um exemplo disso. Eduardo Paes é uma liderança forte na cidade e conseguiu formar uma coligação ampla e que supera a força de Bolsonaro.
Leandro Consentino, cientista político
Condenação no TSE é outro fator que põe Bolsonaro na posição de carta fora do baralho. O ex-presidente foi declarado inelegível até 2030 por convocar uma reunião com embaixadores transmitida pela TV Brasil para fazer ataques às urnas eletrônicas.
"Vemos muito mais os candidatos a prefeito associando suas imagens aos governadores", diz pesquisador. Pedro Fassoni Arruda, cientista político e professor da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), cita o exemplo de Ricardo Nunes (MDB). O prefeito de São Paulo tenta a reeleição e não faz parte do governo Bolsonaro, mas tem o apoio do ex-presidente e conta a presença maior de Tarcísio na campanha.
Tarcísio participou de várias agendas de campanha de Nunes, e Bolsonaro apareceu em vídeo em uma. Entre os compromissos do governador, estão caminhadas por comércios, encontros com empresários e entidades de classe e reuniões políticas. O ex-presidente, por outro lado, só participou virtualmente de um evento e apostou em lives, sem aparecer ao lado do prefeito, mesmo em gravações para propagandas na TV.
O que dizem os especialistas
Se comparamos com 2022, Bolsonaro estava muito mais engajado na própria candidatura. Isso, de alguma forma, fortaleceu o voto em dobradinha, quando o eleitor votou nele para a Presidência e em outros nomes apoiados por ele para outros cargos.
Leandro Consentino, cientista político e professor do Insper
Nas eleições de 2022, Bolsonaro ainda era candidato e ocorreu a simultaneidade por ele estar disputando a Presidência. Por isso, ele funcionou como cabo eleitoral, aparecia na campanha desses aliados e funcionava como um puxador de votos. O nome dele naquele momento estava em mais evidência.
Pedro Fassoni Arruda, cientista político e professor da PUC-SP